Mar
15
2018

Dor, tristeza e revolta na morte de Marielle, vereadora negra, da favela e das lutas sociais

 

Vereadora do Psol e militante social que denunciava racismo e abusos policiais e motorista foram mortos a tiros no Rio; "Todas as características são de execução", diz Freixo

 

Local do crime: dor e lágrimas pela morte da amiga e companheira de militância Local do crime: dor e lágrimas pela morte da amiga e companheira de militância / Luiz Fernando Nabuco - Aduff-SSind

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Um crime com todos indícios de execução. Assim parlamentares do PSOL que se dirigiram à rua Joaquim Palhares, próximo à Estação de Metrô do Estácio, se referiram ao assassinato da jovem vereadora do Rio de Janeiro e militante dos movimentos sociais Marielle Franco, a mulher mais votada na última eleição municipal. O motorista que conduzia o carro em que estava, Anderson Pedro Gomes, também foi alvejado e morto. Uma terceira pessoa, uma assessora da vereadora, estava no veículo e não se feriu.

O crime ocorreu por volta das 22 horas da noite desta quarta-feira, 14 de março de 2018, 28º dia da intervenção federal e militar no Rio de Janeiro. Socióloga e moradora da favela da Maré, quinta mais votada com 45 mil votos, Marielle tinha uma atuação marcante na defesa de direitos sociais e humanos, contra discriminações raciais e de denúncia de abusos policiais nas incursões em favelas. Militante das causas feministas e LGBTs, ajudou na construção do ato do Dia Internacional das Mulheres no Rio, até aqui a mais expressiva manifestação de rua que condenou o decreto do governo federal de intervenção militarizada na segurança fluminense.

Faz 14 dias, a vereadora foi escolhida uma das relatoras da comissão instalada na Câmara municipal para acompanhar a atuação das Forças Armadas durante intervenção. Também havia feito, há cerca de duas semanas, denúncias nas redes sociais referentes à forma violenta como a Polícia Militar teria atuado em uma operação na favela de Acari.

Na véspera do assassinato, postou uma mensagem no Twitter sobre a morte de um morador de uma favela na cidade. "Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da Igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?", perguntou.

Referência nos movimentos contra abusos de forças policiais, também na véspera do assassinato fora mencionada algumas vezes no ato de lançamento da Frente Contra a Intervenção Federal e Militar no Rio de Janeiro como uma das vereadoras que mais estavam empenhadas na formação da comissão recém-instalada e que receberia eventuais denúncias. 

Parlamentares do PSOL evitaram fazer afirmações associando diretamente a militância de Marielle como causa da possível execução. Ressaltaram reiteradas vezes que é preciso que as investigações sejam rigorosas e apontem as motivações do crime, os seus autores e possíveis mandantes. 

No entanto, afirmaram que os indícios de execução são evidentes. Entre militantes da esquerda que se dirigiram ao local, muitos companheiros de luta e amigos da vereadora, a convicção de que ela foi vítima de um atentado é grande.

Segundo informações iniciais, os criminosos teriam emparelhado com o carro da vereadora e disparado. Pelo menos quatro tiros teriam atingido Marielle. A perícia encontrou nove capsulas no local. Ela estava no banco de trás, no lado do carona. O motorista levou pelo menos três tiros pelas costas. Os assassinos fugiram sem levar nada.

O local onde o crime ocorreu fica logo após um entroncamento de vias que, 50 metros adiante, dá na rua Dr. Satamini, que leva à Tijuca, bairro de classe média, mas também de muitas favelas. É uma área movimentava em termos de veículos nas horas de pico e limítrofe entre a zona central da cidade e o início da Zona Norte do carioca.

Não se sabia ainda, por volta da 23h30min, quantas câmeras da Prefeitura e do Detran – o local do crime fica a poucos metros de um posto do departamento de transito – havia naquela área, cujas imagens já teriam sido requisitadas pela Polícia Civil.

Dezenas de pessoas se dirigiram ao local logo após tomarem conhecimento do crime. Muitas estavam visivelmente transtornadas com o que acontecera, lágrimas e dor pela perda da amiga e companheira de luta. "Falei com ela no telefone agora há pouco, não consigo acreditar", disse a irmã.

O deputado estadual Marcelo Freixo e o vereador Tarcísio Motta, ambos do Psol, falaram aos jornalistas logo após o fim da perícia e do translado do corpo para o Instituto Médico Legal (IML). "Vamos cobrar que seja feita uma investigação com rigor, todas as características são de execução. A gente quer que isso seja apurado o mais rápido possível, não é por cada um de nós, é pelo Rio de Janeiro, é totalmente inadmissível. Era uma pessoa cheia de vida, extraordinária, assassinada no momento que fazia um importante debate sobre o racismo", disse Freixo. 

O vereador Tarcísio Motta também lamentou a morte da colega. "Estive com ela hoje durante toda a tarde, nossos [gabinetes] são muito próximos, não tínhamos qualquer conhecimento de que ela estivesse sofrendo ameaças", disse o vereador Tarcísio Motta, que também cobrou a apuração do crime.

Velório e vigília

O velório será na Câmara dos Vereadores, a partir das 11 horas. Uma vigília em "luto e em luta” por Marielle está sendo convocada para o mesmo horário na Cinelândia, em frente ao legislativo municipal. 

Aduff lamenta a morte

A direção da Aduff-SSind adiou a atividade de recepção dos novos docentes da UFF que estava prevista para acontecer ao final da tarde desta quinta-feira (15). A Associação dos Docentes da UFF, seção sindical do Andes-SN, lamenta a morte da militante, se solidariza com amigos, familiares e companheiros de luta, e defenderá que se faça justiça e que os criminosos sejam punidos.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

Local do crime: dor e lágrimas pela morte da amiga e companheira de militância Local do crime: dor e lágrimas pela morte da amiga e companheira de militância / Luiz Fernando Nabuco - Aduff-SSind

Additional Info

  • compartilhar: