Jun
20
2024

Comunicado do Comando Local de Greve à Assembleia Geral

Documento foi apresentado à assembleia geral, descentralizada e simultânea, dos e das docentes da UFF em 20 de junho de 2024

Ao lado das greves da Fasubra, do Sinasefe e das greves e mobilizações estudantis, a greve do Andes-SN tem cumprido um papel decisivo na defesa de uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. Por meio desse movimento, nós, docentes, nos colocamos como protagonistas na disputa pela destinação do fundo público brasileiro, que deve ser prioritariamente destinado para a garantia das condições de funcionamento da universidade (investimentos e custeio), para a remuneração dos servidores (salário e carreira) e para a viabilização da permanência dos estudantes (assistência estudantil). Nessa luta, nossos inimigos são muito poderosos: trata-se dos grandes capitais internacionais e nacionais, que objetivam aprofundar a privatização dos serviços públicos e se apropriar de parcelas cada vez maiores do fundo público.

Após mais de dois meses do início do movimento, impõe-se uma avaliação mais aprofundada de sua trajetória, suas possibilidades e seus limites, conforme indicado pelo Comando Nacional de Greve que, em seu comunicado 84, apresentou três questões a serem respondidas pelas assembleias de base:

1)   Qual a avaliação da AG das propostas do governo apresentadas pelo MGI e pelo MEC?

2)   Devemos assinar, ou não, as propostas apresentadas pelo MGI e pelo MEC?

3)   Devemos continuar a greve ou construir sua saída coletiva no ANDES-SN?

Em razão da força de nossa mobilização, conquistamos avanços parciais nas mesas de negociação, que foram expressos na proposta de acordo apresentada em maio pelo Ministério da Gestão e Inovação (MGI), bem como na efetivação do reajuste dos auxílios (alimentação, saúde e pré-escolar). Naquela proposta, previa-se a ampliação dos reajustes inicialmente propostos pelo governo, antecipando o início de sua vigência para janeiro de 2025, sem, entretanto, obter uma proposta de reajuste para 2024. No que se refere à carreira, os aumentos de steps propostos significam ganhos remuneratórios adicionais para os docentes da ativa, mas não contemplavam os aposentados sem paridade. Nessa seara, é importante lembrar, ainda, que a proposta contemplava a ampliação da remuneração dos docentes ingressantes na carreira, que, desde 2013, já são penalizados com um regime previdenciário perverso. Sem esquecer que essas emendas nos steps não respondem às necessidades da carreira, objeto de anos de estudo e debate do movimento docente, exigindo que se mantenham as mesas de negociação desse ponto, não resolvido.

Sem dúvida, poderíamos ter avançado ainda mais, caso o governo federal optasse por efetivamente dialogar com o movimento grevista, e não por alienar parcela importante da base social que garantiu a sua vitória eleitoral contra o neofascismo em 2022. Entretanto, sua opção foi por ignorar uma série de outros elementos e reivindicações que permaneciam sem resposta, bem como por tentar encerrar unilateralmente o processo de negociação. Para isso, contou com o inestimável apoio da Proifes, a federação sindical pelega, que dispõe de parcas bases efetivas (grande parte das quais, aliás, aderiu ao movimento de greve).

Considerando esse cenário, o movimento grevista optou por, naquele momento, não assinar o acordo e exigir a reabertura das negociações. Assim, continuamos a mobilizar nossas bases, ocupamos o MGI e realizamos uma marcha a Brasília, o que possibilitou outros avanços. Dentre eles, é possível mencionar a proposta de revogação da portaria 983, a revisão da instrução normativa 66, o compromisso de que o governo não recorrerá contra ganhos de causa de docentes EBTT aposentados que pleiteiam o acesso ao RSC e a antecipação do reajuste de 2026 de maio para abril. Mesmo os anúncios do governo em reunião com os reitores, no dia 10/06, não podem ser compreendidos fora do contexto da greve, aí incluídos os investimentos em obras (sendo 13% destinados para construção de moradias estudantis e restaurantes universitários), os recursos para assistência estudantil e a parcial recomposição do orçamento das universidades.

Esses avanços e suas contradições, tal como aqueles que caracterizavam a proposta de acordo apresentada em maio, expressam, sem dúvidas, a correlação de forças na qual a greve vem se desenvolvendo, incluindo a tentativa de golpe do governo ao assinar um acordo ilegal com a entidade cartorial. Expressam, por um lado, a forte radicalização da ofensiva do capital nos últimos dez anos, a presença da extrema-direita como uma força social e política de massas do governo Lula III, baseada em seguidas concessões ao grande capital e ao centrão. Por outro lado, expressam o papel da greve como ferramenta decisiva da classe trabalhadora na luta de classes, aí incluída a dimensão da disputa do fundo público, e sua capacidade de incidir no debate público.

Considerando todos esses elementos, o Comando Local de Greve dos Docentes da UFF deliberou por indicar à assembleia geral a construção de um processo de saída organizada da greve. Para efetivar esse processo, propomos os seguintes passos:

(1)   a indicação ao Comando Nacional de Greve do dia 01/07 como base para a saída unificada de todas as seções sindicais da greve, com a realização de uma nova assembleia no dia 27/06 para avaliar a indicação do CNG e a confirmação ou não da saída de greve;

(2)   a assinatura do acordo com o MEC e MGI a partir das conquistas advindas da greve, o que inclui:

-          a pauta remuneratória apresentada no dia 27/05, que inclui: 9% em janeiro de 2025; 3,5% em abril de 2026 (antecipado de maio) e as alterações dos steps de 2025 e 2026;

-          a revogação da portaria 983/2020, que trata do controle de ponto para os EBTT;

-          a revisão da IN 66, garantindo os efeitos retroativos da progressão;

-          o compromisso pelo fim dos recursos nas demandas judiciais em processos de concessão de Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC) aos aposentados;

-          a criação de grupos de trabalho para tratar do reenquadramento dos aposentados, entrada lateral e insalubridade (revogação da IN nº 15);

(3)  que a ADUFF participe do comitê para revisão do calendário escolar e acadêmico após o fim da greve;

(4)   a construção de um calendário de mobilizações, em torno de alguns temas prioritários, a ser sustentado após o encerramento da greve, com o fortalecimento do sindicato.

 

Comando Local de Greve - Docentes da Universidade Federal Fluminense 

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