O "Festival Palestina Livre", que aconteceu ao na quarta-feira (12), no campus da UFF no Gragoatá foi uma atividade organizada pelos Comandos de Greve da UFF - Aduff, Sintuff e DCE Fernando Santa Cruz.
Um dos momentos da iniciativa contou com a roda de conversa "Acampamentos e Campanha BDS", com a participação de Andressa Soares e Gizele Martins.
Andressa Soares é membro da coordenação regional da América Latina do Comitê Nacional Palestino de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS).
De acordo com ela, o BDS é um movimento internacional, que conta com atuação de membros da sociedade civil brasileira, para promover o boicote econômico, acadêmico e cultural como forma de pressão pelo cessar fogo na Faixa de Gaza. O objetivo é pressionar Israel a respeitar o direito internacional.
"Israel está promovendo o primeiro genocídio televisionado da história. Não estamos falando só de uma questão de disputa política, disputa religiosa, ou uma situação histórica complexa, como é a narrativa. Na verdade, se trata de crimes muito bem documentados contra a humanidade", disse.
Segundo a palestrante, o BDS tem origem na experiência vivida pela África do Sul durante o Apartheid. A estratégia é focada em alguns objetivos principais, além da defesa do Estado Palestino: frear o genocídio do povo palestino com o cessar fogo imediato; desmantelar o regime de apartheid ao exigir a (queda do 'Muro da Cisjordânia', fim das revistas aos palestinos); devolução de terras ocupadas; regresso dos refugiados, entre outros.
"Israel está sistematicamente descumprindo o direito internacional. Descumpriu a última resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, que determinou o cessar-fogo durante o Ramadã [período sagrado para os muçulmanos de todo o mundo]", afirmou.
Andressa criticou a escalada do conflito na região e o fato de não ter havido sanções que freassem a ofensiva israelense. "Então, o que a gente espera? Que haja sanções? Porque não vai haver cumprimento [das resoluções da ONU] sem sanções específicas. Não dá mais para a gente continuar vivenciando essa impunidade, essa blindagem que o Estado israelense tem", afirmou.
De acordo com ela, o movimento e a prática do BDS é uma forma de reação. "O BDS é uma arma muito forte porque além da gente pressionar diretamente aos governos, aos estados que possam prever essas sanções, essas sanções têm que ser sanções estratégicas para realmente afetar a capacidade do Estado de Israel em continuar com essa estrutura", considerou.
Para Andressa Soares, Israel é um produto do capitalismo ocidental, que beneficia a muitas empresas armamentistas que lucram com a guerra.
"Várias empresas estão localizadas em assentamentos e testam a tecnologia militar no povo palestino. Têm empresas que estão diretamente financiando e alimentando o exército, em diferentes níveis de cumplicidade", alertou.
"Armas que matam no Oriente Médio também matam nas favelas no Brasil"
Gizele Martins é jornalista, ativista em prol dos direitos humanos, integrante da rede BDS e moradora da Favela da Maré. No dia da atividade, não conseguiu participar presencialmente porque esteve em meio ao fogo cruzado que já durava há mais de 30 horas, devido a uma operação policial na região.
Para ela, a violência enfrentada por moradores em áreas periféricas no Rio de Janeiro está diretamente relacionada à questão da Palestina - região que ela visitou por duas vezes a convite do movimento BDS.
"As empresas que matam nas favelas do Rio de Janeiro são as mesmas empresas que matam em territórios ocupados na Palestina e em Gaza. Aqui no Rio de Janeiro, a gente já tem uma campanha, que está fazendo 20 anos, chamada "Caveirão não!" Os primeiros caveirões que chegaram para assassinar as nossas vidas negras e faveladas no Rio de Janeiro são caveirões que vieram diretamente do apartheid na África do Sul. Os novos caveirões são israelenses", afirmou.
De acordo com Gizele, o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro) passou por treinamentos militares em Israel. "Lutar pelos palestinos é também lutar pela nossa liberdade", disse.
Liberdade é um dos tripés do movimento BDS, que também pede justiça e equidade. Segundo Gizele, os ativistas brasileiros que integram essa grande rede estão atentos para mobilizar parlamentares a não aprovarem projetos de lei - sejam municipais, estaduais ou federais - que beneficiem a empresas militares isrelenses. Eles versam, por exemplo, sobre o treinamento do BOPE em Israel e sobre compra de drones israelenses. "Está supenso agora, mas o governo brasileiro quer comprar drones em Israel, em meio ao genocídio em Gaza", disse.
Conforme a jornalista, o BDS também envolve movimentação local ao tentar sensibilizar artistas, organizações defensoras dos Direitos Humanos e Universidades, com o objetivo de desmobilizar a inserção israelense em diferentes frentes.
"Israel é muito sedutor porque tem tudo! Tem a parte cinematográfica em Hollywood, tem as nossas mídias comerciais, financia universidades, organizações de direitos humanos, movimentos de favela e ainda movimentos negros. Israel não está longe da gente; está junto com o governo brasileiro, agora, assassinando vidas na minha favela", disse Gizele Martins ao defender, em seguida, que o governo federal reveja suas conexões com o estado israelense. "Não basta o Lula dizer que é solidário à Palestina; é preciso romeper relações com Israel", complementou.
Para conhecer mais sobre o movimento BDS, acesse: https://bdsmovement.net/pt/countries/brasil
Da Redação da Aduff