Jun
14
2024

No "Festival Palestina Livre", palestrantes defendem boicote a Israel para pressionar por cessar fogo em Gaza

Um dos momentos da iniciativa contou com a roda de conversa "Acampamentos e Campanha BDS", com a  participação de Andressa Soares – da coordenação regional da América Latina do Comitê Nacional Palestino de Boicote, Desinvestimento e Sanções - BDS –  e da jornalista Gizele Martins 

Festival Palestina Livre, realizado pelos Comandos de Greve na UFF no campus do Gragoatá, em Niterói Festival Palestina Livre, realizado pelos Comandos de Greve na UFF no campus do Gragoatá, em Niterói / Luiz Fernando Nabuco/Aduff

O "Festival Palestina Livre", que aconteceu ao na quarta-feira (12), no campus da UFF no Gragoatá foi uma atividade organizada pelos Comandos de Greve da UFF - Aduff, Sintuff e DCE Fernando Santa Cruz.

Um dos momentos da iniciativa contou com a roda de conversa "Acampamentos e Campanha BDS", com a  participação de Andressa Soares e Gizele Martins. 

Andressa Soares é membro da coordenação regional da América Latina do Comitê Nacional Palestino de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). 

De acordo com ela, o BDS é um movimento internacional, que conta com atuação de membros da sociedade civil brasileira, para promover o boicote econômico, acadêmico e cultural como forma de pressão pelo cessar fogo na Faixa de Gaza. O objetivo é  pressionar Israel a respeitar o direito internacional.

"Israel está promovendo o primeiro genocídio televisionado da história. Não estamos falando só de uma questão de disputa política, disputa religiosa, ou uma situação histórica complexa, como é a narrativa. Na verdade, se trata de crimes muito bem documentados contra a humanidade", disse.

Segundo a palestrante, o BDS tem origem na experiência vivida pela África do Sul durante o Apartheid. A estratégia é focada em alguns objetivos principais, além da defesa do Estado Palestino: frear o genocídio do povo palestino com o cessar fogo imediato; desmantelar o regime de apartheid ao exigir a (queda do 'Muro da Cisjordânia', fim das revistas aos palestinos); devolução de terras ocupadas; regresso dos refugiados, entre outros.  

"Israel está sistematicamente descumprindo o direito internacional. Descumpriu a última resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, que determinou o cessar-fogo durante o Ramadã [período sagrado para os muçulmanos de todo o mundo]", afirmou.

Andressa criticou a escalada do conflito na região e o fato de não ter havido sanções que freassem a ofensiva israelense. "Então, o que a gente espera? Que haja sanções? Porque não vai haver cumprimento [das resoluções da ONU] sem sanções específicas. Não dá mais para a gente continuar vivenciando essa impunidade, essa blindagem que o Estado israelense tem", afirmou.

De acordo com ela, o movimento e a prática do BDS é uma forma de reação. "O BDS é uma arma muito forte porque além da gente pressionar diretamente aos governos, aos estados que possam prever essas sanções, essas sanções  têm que ser sanções estratégicas para realmente afetar a capacidade do Estado de Israel em continuar com essa estrutura", considerou.

Para Andressa Soares, Israel é um produto do capitalismo ocidental, que beneficia a muitas empresas armamentistas que lucram com a guerra.

"Várias empresas estão localizadas em assentamentos e testam a tecnologia militar no povo palestino. Têm empresas que estão diretamente financiando e alimentando o exército, em diferentes níveis de cumplicidade", alertou. 

"Armas que matam no Oriente Médio também matam nas favelas no Brasil"

Gizele Martins é jornalista, ativista em prol dos direitos humanos, integrante da rede BDS e moradora da Favela da Maré. No dia da atividade, não conseguiu participar presencialmente porque esteve em meio ao fogo cruzado que já durava há mais de 30 horas, devido a uma operação policial na região.

Para ela, a violência enfrentada por moradores em áreas periféricas no Rio de Janeiro está diretamente relacionada à questão da Palestina - região que ela visitou por duas vezes a convite do movimento BDS. 

"As empresas que matam nas favelas do Rio de Janeiro são as mesmas empresas que matam em territórios ocupados na Palestina e em Gaza. Aqui no Rio de Janeiro, a gente já tem uma campanha, que está fazendo 20 anos, chamada "Caveirão não!" Os primeiros caveirões que chegaram para assassinar as nossas vidas negras e faveladas no Rio de Janeiro são caveirões que vieram diretamente do apartheid na África do Sul. Os novos caveirões são israelenses", afirmou. 

De acordo com Gizele, o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro) passou por treinamentos militares em Israel. "Lutar pelos palestinos é também lutar pela nossa liberdade", disse. 

Liberdade é um dos tripés do movimento BDS, que também pede justiça e equidade. Segundo Gizele, os ativistas brasileiros que integram essa grande rede estão atentos para   mobilizar parlamentares a não aprovarem projetos de lei - sejam municipais, estaduais ou federais - que beneficiem a empresas militares isrelenses. Eles versam, por exemplo, sobre o treinamento do BOPE em Israel e sobre compra de drones israelenses. "Está supenso agora, mas o governo brasileiro quer comprar drones em Israel, em meio ao genocídio em Gaza", disse. 

Conforme a jornalista, o BDS também envolve  movimentação local ao tentar sensibilizar artistas, organizações defensoras dos Direitos Humanos e Universidades, com o objetivo de desmobilizar a inserção israelense em diferentes frentes. 

"Israel é muito sedutor porque tem tudo! Tem a parte cinematográfica em Hollywood, tem as nossas mídias comerciais, financia universidades, organizações de direitos humanos, movimentos de favela e ainda movimentos negros. Israel não está longe da gente; está junto com o governo brasileiro, agora, assassinando vidas na minha favela", disse Gizele Martins ao defender, em seguida, que o governo federal reveja suas conexões com o estado israelense. "Não basta o Lula dizer que é solidário à Palestina; é preciso romeper relações com Israel", complementou.

Para conhecer mais sobre o movimento BDS, acesse: https://bdsmovement.net/pt/countries/brasil

Da Redação da Aduff

Festival Palestina Livre, realizado pelos Comandos de Greve na UFF no campus do Gragoatá, em Niterói Festival Palestina Livre, realizado pelos Comandos de Greve na UFF no campus do Gragoatá, em Niterói / Luiz Fernando Nabuco/Aduff

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