Out
03
2024

"Pensar e amar são antídotos à racionalidade neoliberal", diz Rubens Casara

Juiz de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, participou do seminário "Desafios contemporâneos para o sindicalismo", organizado pela Aduff

Marina Barbosa Pinto (esq), Rubens Casara e Eliane Arenas durante seminário realizado pela Aduff-SSind Marina Barbosa Pinto (esq), Rubens Casara e Eliane Arenas durante seminário realizado pela Aduff-SSind / Thiago Ripper

"O processo de idiossubjetificação e a demonização do sindicalismo" foi o tema explorado por Rubens Casara – juiz de direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro - na tarde desta quarta-feira, 2 de outubro, durante o seminário "Desafios contemporâneos para o sindicalismo", organizado pela diretoria da Aduff-SSind.  

A atividade, realizada de forma presencial no auditório do Bloco E (Campus da UFF no Gragoatá), contou com transmissão ao vivo pelo canal do sindicato no 'You Tube' e pela página da seção sindical no 'Facebook'. Além de Rubens Casara, participou como palestrante Marina Barbosa Pinto, professora aposentada da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), ex-professora da UFF, ex-presidente da Aduff e do Andes-SN

Rubens é colunista do site Justificando, da Carta Capital; leciona na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz e na PASSAGENS – Escola de Filosofia. Foi coordenador na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro e é membro da Associação Juízes para a Democracia e do Corpo Freudiano – Escola de Psicanálise.  Entre outras publicações, é autor de "A construção do idiota: o processo de idiossubjetivação" (Da Vinci Livros, 2024)  e "Contra a Miséria Neoliberal" (Autonomia Literária, 2021). Clique aqui para ver a íntegra da fala do palestrante.

"Falar em sindicato, no atual quadro histórico, passa por necessariamente compreender uma mudança profunda no funcionamento dos sindicatos, na percepção que as pessoas têm dos sindicatos, e também de uma mudança profunda no Estado, na sociedade e no indivíduo. A mudança pode ser atribuída à racionalidade neoliberal, que se tornou hegemônica a partir da década de 1980", afirmou. 

Para ele, mais do que uma teoria econômica e uma governamentalidade, o neoliberalismo deve ser entendido como uma racionalidade que interfere na ação do Estado e na das pessoas. "A maneira como as pessoas presenciam os mais variados fenômenos passa a ser condicionada por essa racionalidade, que gera uma normatividade - novos comportamentos percebidos como normais. E o marco normativo do neoliberalismo é a ilimitação: uma espécie de vale tudo na busca por lucros e vantagens pessoais", disse.

De acordo com Rubens, em um ambiente neoliberal ocorre a demonização das diferenças e uma mudança no imaginário social. "De modo geral, as novas imagens passam a ter duas configurações: a da empresa, em que o indivíduo se percebe como empresário de si, um capital humano. Vê os outros como empresários concorrentes que precisam ser vencidos ou, em quadros mais agudos, como inimigos que precisam ser neutralizados. E a outra imagem é a da concorrência. Todas as relações intersubjetivas, inclusive as mais íntimas, passam a ser vistas como uma espécie de concorrência", considerou.  

O palestrante também destacou como o neoliberalismo altera o papel do Estado, especialmente a partir da proximidade entre o poder político e o poder econômico, quando princípios caros à democracia - a exemplo do respeito à dignidade humana e aos direitos fundamentais - tornam-se valores negociáveis. Na conjuntura neoliberal, o Estado  legitima e auxilia os interesses dos super ricos, mudando a feição do poder público. "O Estado passa a funcionar como homologador das expectativas dos detentores do poder econômico e o controle dos indesejáveis - os pobres ou qualquer pessoa que possa ser vista como inimiga desse poder neoliberal, que se apresenta como o único meio possível", analisou.  

Além disso, segundo Rubens Casara, em um mundo neoliberal, algumas estratégias ou técnicas, como a transformação dos significados do que é belo, justo, correto; além da demonizar o conhecimento e as diferenças, contribuem para o processo que denomina 'idiossubjetificação do sujeito'. No neoliberalismo ocorre a naturalização do 'absurdo', que não encontra explicação racional. Há a construção de um novo tipo de sujeito, a quem ele chama de idiota. "Falo em idiota não no sentido vulgar. Idiota vem do grego 'idiótes', aquele que é incapaz de se comunicar com a cidade, com a pólis, incapaz de se preocupar com coletivo. É o sujeito fechado em si; fechado para o outro do conhecimento e para o outro da diversidade. Por isso, o idiota tem ódio ao saber, tem ódio à Universidade, em especial a Universidade Pública; e tem ódio também do diferente - aquilo que não entende ou que o assusta por ser desconhecido", explicou. "Combater a racionalidade neoliberal passa por prozudir uma racionalidade contrahegemônica. Se o sujeito da idiossubjetividade é fechado em si, o antídoto passa a ser uma abertura que só é possível a partir da Educação, do conhecimento, e do amor, não o romântico, como abertura radical ao outro, apesar da presença do outro daquilo que eu não gosto", concluiu. 

Da Redação da Aduff

 

 

 

  

   

 

Marina Barbosa Pinto (esq), Rubens Casara e Eliane Arenas durante seminário realizado pela Aduff-SSind Marina Barbosa Pinto (esq), Rubens Casara e Eliane Arenas durante seminário realizado pela Aduff-SSind / Thiago Ripper

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