"É inadmissível que eles [Congresso] decidam sobre a vida das mulheres, tratando-as como criminosas, e que brinquem com tantas vidas para fazer barganha na política", disse a estudante Danielle Azevedo, ao participar da manifestação contra o Projeto de Lei 1904/2014, ocorrida neste domingo (23), na Praia de Copacabana.
A concentração para a caminhada que percorreu a orla em direção ao Leme aconteceu no Posto 4, reunindo especialmente mulheres de todas as idades, entre elas técnicas e professoras da Universidade Federal Fluminense, que foram às ruas lutar pelo arquivamento do projeto apresentado pela bancada conservadora, tendo a frente o deputado Sóstenes Cavalcanti (PL).
O dito PL foi votado em regime de urgência, em menos de um minuto, no Congresso presidido por Arthur Lira. O projeto de lei equipara o aborto a homicídio, com possibilidade de condenação de até 20 anos a mulheres que fizerem aborto após 22 semanas de gestação, mesmo nos casos em que a interrupção da gravidez é considerada legal. A medida inclui meninas e mulheres que tenham sido vítimas de estupro - o que o torna, na visão das manifestantes, ainda mais perverso.
De acordo com o material distribuído durante o ato, dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, de cada quatro estupros cometidos no país, três envolveram pessoas incapazes de consentir - fosse pela idade, por deficiência ou enfermidade.
Nas ruas, as mulheres empunharam cartazes e gritaram palavras de ordem contra a medida. Ao final, as manifestantes queimaram pequenos cartazes com o nome dos 33 deputados que votaram a urgência do dito PL.
Elas exigiram o direito à saúde reprodutiva, com garantia de aborto legal e seguro para meninas, mulheres e pessoas que gestam. Engrossaram a pressão que ocorre em todo o país, inclusive com atos em outras capitais, pelo 'Fora Lira e Sóstenes'.
As mulheres deixaram bem evidente para os setores reacionários da sociedade que "Criança não é mãe e estuprador não é pai".
"É inadmissível que a gente viva tamanho retrocesso. A escolha é nossa, nós somos donas do nosso corpo. Não é uma Câmara ou um Senado que vai dizer como nós devemos nos comportar. É cruel achar que uma criança tem que ser mãe", disse Elizabeth Carla Vasconcelos, professora da UFF em Rio das Ostras, ex dirigente da Aduff e do Andes-SN.
"Temos que estar na rua mesmo, e esse ato de hoje é muito importante", complementou.
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Da Redação da Aduff
Por Aline Pereira
Foto: Arquivo Pessoal