A luta pela revogação do Novo Ensino Médio foi o tema do debate realizado pela Aduff, na última quinta-feira (25), no Colégio Universitário Geraldo Reis (Coluni-UFF). A roda de conversa contou com a participação de José Rodrigues, professor da Faculdade de Educação da UFF e de Thiago Coqueiro, professor da rede Municipal de Niterói e representante do SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro). A mediação foi da professora da Faculdade de Educação e diretora da Aduff, Inny Accioly.
Primeiro a falar, o professor José Rodrigues chamou a atenção das e dos estudantes para a aprovação, em 2016, do 'teto de gastos' fixado pela Emenda Constitucional 95, “sob o governo golpista de Michel Temer” - o mesmo que propôs a Medida Provisória, aprovado pelo Congresso em 2017, que estabeleceu a Lei do Novo Ensino Médio.
Para o docente, “a contenção de verbas para a saúde e a educação vão estraçalhar qualquer possibilidade de futuro para a escola brasileira. Se o governo continuar não podendo gastar com educação, nem novo, nem velho Ensino Médio vão funcionar. O que vai acontecer é que as condições de estudo de vocês, dos seus amigos, dos seus irmãos mais jovens irão piorar ano a ano”, alertou.
José Rodrigues falou sobre a propaganda veiculada na televisão, na época da aprovação da reforma do Ensino Médio. Para ele, o que era veiculado “dizia meias verdades e oferecia falsas soluções”. “As propagandas diziam que o problema da educação brasileira era que vocês, jovens, não se interessavam pelo que é apresentado na escola, que o que nós trazíamos diariamente era chato, que não servia para nada”.
O professor também destacou que o que está sendo ofertado como Novo Ensino Médio não se sustenta, e o que era considerado chato, tradicional, está sendo jogado fora e no lugar está sendo colocado ‘quase nada’.
“Seja lá o que vocês querem fazer da vida de vocês, a ignorância nunca ajudou ninguém em nada. (...) O que eu espero de vocês é que vocês aprendam, que vocês estudem, que vocês olhem para a realidade, que pensem o que querem fazer com a escola de vocês, com a universidade de vocês, com o lazer de vocês. E seja lá o que nós precisemos fazer para tornar o ensino médio e a educação mais interessante, sem dinheiro não dá para fazer nada”, reiterou.
Segundo a falar, o professor Thiago Coqueiro destacou que a Reforma do Ensino Médio vem na mesma toada da Reforma da Previdência de 2016, iniciada no mesmo governo Temer, e que ao precarizar o ensino, vai moldando as e os estudantes para um mundo do trabalho cada vez mais sem direitos.
“Para que a gente consiga criar condições de pressão para mudar esse cenário, a saída é a mobilização coletiva nos sindicatos, grêmios estudantis, movimentos populares e de juventude. Não é só dizer ‘não’! É imprescindível a realização de debates e a formulação nesses espaços para que a gente consiga criar uma proposta da classe trabalhadora e da juventude para a Educação brasileira”, ressaltou Thiago.
O professor da rede municipal de Niterói também frizou como as e os estudantes de escola pública saem perdendo com o Novo Ensino Médio. Com a diminuição da carga horária de disciplinas tradicionais e a implementação dos ‘itinerários formativos’, a grade curricular está sendo esvaziada.
“As escolas particulares estão mantendo todas as disciplinas e oferecendo os itinerários formativos. Nas escolas públicas, isso não precisa ser mais garantido. Só que, por exemplo, o Enem cobra todas as disciplinas, o que cria uma desigualdade no acesso ao conhecimento e no acesso às instituições de ensino superior. Os estudantes de escola publica vão ter mais dificuldade para competir e acessar a universidade”, reiterou.
Docente da Faculdade de Educação da UFF e mediadora do debate, a professora Inny Accioly também ressaltou que os ‘itinerários formativos’ tiram a possibilidade das e dos estudantes de mudarem de ideia, já que têm que escolher por volta dos 14 e 15 anos que caminho seguir. E que ao diminuir a carga horária de disciplinas como biologia, química, física, artes, entre outras, a reforma não facilita, mas dificulta a escolha dos jovens no processo de saber qual profissão seguir.
“O Novo Ensino Médio substituiu disciplinas tradicionais e coloca outra como as de ‘projeto de vida’. Parece até bonito ajudar os estudantes a criarem um projeto de vida, mas na verdade o projeto é fazer com que a gente acredite que se a gente não conseguir um emprego de carteira assinada, se a gente passar aperto e não conseguir um trabalho que consiga botar comida na mesa, que é culpa nossa, que a gente não fez um bom projeto de vida. Isso é colocar a culpa em cada um de vocês, é colocar cada um por si, competindo um com o outro, e eximir o Estado de garantir educação de qualidade, emprego de qualidade, uma vida digna e com direitos”, encerrou.
Da Redação da Aduff | por Lara Abib