Jul
12
2013

“Educação e Saúde na Praça” aglutina entidades e movimentos sociais contra as privatizações no setor público

Na tarde desta quinta-feira, 11 de julho - Dia Nacional de Luta com Greve Geral e Mobilizações, as entidades sindicais e movimentos sociais combativos do Rio de Janeiro se reuniram na Praça XV para realizar o ato “Educação e Saúde na Praça”. Articulado pelo ANDES-RJ, pelo Fórum de Saúde do RJ e por diversas entidades classistas e movimentos sociais, entre elas a ADUFF, a manifestação serviu como concentração para o ato unificado organizado pelas centrais sindicais, na Candelária. Na pauta, o fim das privatizações no setor público, a exigência de 10% do PIB para a Educação Pública já, reajuste salarial digno e valorização do servidor público, entre outras. Nas faixas, falas e cartazes, os manifestantes deixavam claro: os 5 pactos propostos pela presidente Dilma não atendem às reivindicações dos trabalhadores.

Maria Inês Bravo, professora da UERJ e representante do Fórum de Saúde do Rio de Janeiro, classificou as medidas propostas pelo governo no campo da saúde como paliativas, assistencialistas e que ampliam a privatização do setor.

“Não adianta trazer médicos estrangeiros se a gente não tem um plano de cargos e salários para que os nossos profissionais possam ir ao interior. Outra proposta que vem no caldo do decreto para ampliar o número de médicos é aumentar o número de vagas para graduação e para residência em Medicina. Entretanto, em nenhum momento se discute a qualidade dessa formação. Além disso, o governo propõe subsídio às filantrópicas, que nada mais é do que ampliar a privatização no setor. Por isso, estamos nas ruas para reforçar nossas bandeiras de luta e contra as medidas apresentadas pela presidente, pelo ministro da saúde e da educação”, ressaltou.  Entre as reivindicações do Fórum estão o SUS 100% público, estatal e de qualidade e contra todas as formas de privatização na saúde, como a Ebserh e as OS’s, e em todos os setores públicos.

Mauro Iasi, professor da UFRJ e presidente da Adufrj, concorda. “A presidente Dilma precisa comprar uma caixa de cotonete porque parece não estar ouvindo direito o que é dito nas ruas. Os cinco pactos propostos pelo governo não respondem aos anseios da população. Não queremos pacto de responsabilidade fiscal, que nada mais é do que uma forma de conter gastos e aumentar o superávit primário. Nem será com exoneração de impostos, que só beneficia os grandes empresários do transporte, que vamos enfrentar o problema da mobilidade urbana. Sabemos que os recursos federais investidos na educação são desviados para as instituições privadas que entendem a educação como mercadoria. E vale ressaltar, não será com essa reforma política cosmética que iremos mudar este país”, pontuou.

O presidente da Adufjr relembrou a greve dos docentes das instituições federais e estaduais de ensino superior no ano passado e reafirmou a importância de os professores permanecerem mobilizados. “A educação pública, gratuita e de qualidade é uma luta de todos. As manifestações recentes em todo o Brasil mostraram isso. Os empresários têm que procurar outro lugar para lucrar porque nós continuaremos nas ruas, engrossando essa indignação que varreu o país, levantando a bandeira da universidade pública, gratuita e de qualidade, em defesa da carreira docente, da recuperação dos salários dos professores, por melhores condições de trabalho e pela reabertura das negociações com a categoria, que foi encerrada unilateralmente pelo governo federal desde a época da greve”.

De acordo com a presidente da ADUFF, Eblin Farage, se o governo mudou, a lógica do Estado continua a mesma. Ela denunciou que o pacto proposto pela presidente privilegia claramente a iniciativa privada e os barões da educação ao utilizar o termo educação gratuita ao invés de educação pública, o que possibilita a intensificação de programas como o PROUNI e o contínuo processo de revitalização dos empresários da educação. Além disso, ela reiterou a necessidade de os docentes repudiarem a ação truculenta e repressora da Polícia Militar, não só nas manifestações, como nas favelas.

“Ficou evidente no caso da favela da Maré, mas essa é a forma tradicional com que a polícia trata os pobres da sociedade – com repressão e massacre. A mesma polícia que jogou bombas de gás e atirou balas de borracha no centro da cidade matou mais de dez pessoas em uma única noite. Essa polícia é o braço armado do governo Sérgio Cabral, apoiado pelo Prefeito Eduardo Paes. Favela é cidade, é um local de moradia de parte da classe trabalhadora que têm direito como todos nós à vida digna, ao transporte público de qualidade, à educação, saúde e liberdade de expressão. Nesse momento, é essencial problematizarmos a que serve essa polícia e reivindicarmos sua imediata desmilitarização”, acrescentou.

“Favela é onde tudo começa mas não é onde tudo termina. Por isso que a gente tem que se agregar à luta maior”. Essa é a opinião da moradora da Maré e integrante do grupo de jovens do local, Shyrlei Rosendo. Presente no ato, ela afirmou que historicamente as favelas lutam e se organizam para reivindicar direitos, embora de forma diferente dos movimentos sociais.

“A gente vem pra rua hoje para pautar a favela porque a favela está esquecida. A gente vem tentando fazer um movimento para que os favelados venham às manifestações e levantem suas bandeiras. Porque historicamente a gente estava nos atos da cidade, mas nós não estávamos como favelados. No fundo, a ideia é criar o movimento ‘somos todos favela’, aprender com os movimentos e fazer com que movimentos aprendam com a gente”.

De acordo com ela, hoje é impossível para as favelas se manterem longe das pautas dos partidos e de esquerda e movimentos sociais porque “as nossas pautas são as dos movimentos sociais e dos movimentos de esquerda. A gente não quer que o policial entre na favela da maneira que ele entra, executando, mas a gente também não quer uma saúde que mata, um transporte que mata, uma educação que mata”, finalizou.

Aula Pública

Para fechar o ato, a professora da UFRJ, Sara Granemann, deu uma aula pública sobre o Funpresp, o Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público Federal. Granemann que estuda o tema da previdência há 15 anos - inclusive em sua tese de doutorado, em 2006 - ressaltou que se alguns ficaram surpreendidos com as recentes manifestações, estudaram pouco os últimos dez anos de perdas de direitos da classe trabalhadora no Brasil. Em uma análise rápida sobre o fundo, Sarah pontuou que o Funpresp não interessa aos trabalhadores e sim ao mercado de capitais. “Eu sei que esse assunto não é o mais mobilizador para se falar na praça, mas tenhamos cuidado! Não existe obrigatoriedade a isso que é tudo menos previdência”, alertou