Jul
04
2013

“Sem revoluções, o mundo está condenado”

Debate realizado pela ADUFF propõe reflexões sobre as manifestações de Junho

A ADUFF promoveu na tarde desta terça-feira, 2 de julho, o debate “Manifestações de Junho: movimento docente e conjuntura”, com o objetivo de contribuir para a reflexão do inesperado movimento de massas que tomou as ruas do país. Participaram do debate Osvaldo Coggiola, da USP, e Marcelo Badaró, da UFF. O presidente da AdUFRJ, Mauro Iasi, pediu desculpas por não poder comparecer e se comprometeu a vir para um próximo debate sobre o tema.

Marcelo Badaró iniciou apontando as dificuldades de refletir sobre acontecimentos que ainda estão em curso. Ele dividiu sua apresentação em uma introdução sobre as questões centrais das mobilizações, uma análise do que isso revela sobre “nossas forças” (referindo-se ao movimento autônomo, classista e combativo), e perspectivas para o futuro.

Segundo Badaró, o aumento das passagens toca numa questão direta do cotidiano das pessoas, que vêm pagando muito por um transporte público de péssima qualidade. Diante de uma alta generalizada do custo de vida, o movimento contou com apoio amplo e generalizado desde as primeiras manifestações, ainda pequenas. “A esse movimento, o Estado respondeu da única forma com que está acostumado: a repressão. É um grave equívoco dizer que o aparato policial agiu daquela forma por despreparo. Existe uma Polícia Militar muito preparada para fazer o que fez nas mobilizações e faz todos os dias nas favelas e periferias das grandes cidades”. Badaró aponta a violência policial como o estompim para que o movimento se transformasse em massivo. No dia 20 de junho, milhões de pessoas saíram às ruas de mais de 400 cidades brasileiras.

Badaró apontou que tanto a pauta inicial quanto as que vieram posteriormente, após a redução das tarifas, são pautas construídas aos longos dos últimos anos pelos movimentos sociais e partidos políticos de esquerda – especialmente a defesa dos serviços públicos de qualidade. Porém, era uma pauta que se apresentava de forma difusa e abstrata, porque não há uma linha de classe dando direção ao movimento, como havia, por exemplo, no movimento pelas “Diretas Já”, na década de 1980. “Isso revela nossa fragilidade nesse momento”, afirmou. Segundo ele, grande parte desse estrago foi provocado pela ascensão do PT ao poder, que fez com que as pessoas perdessem a esperança, achando que todos os partidos são iguais.

“É preciso transformar o que surgiu como algo difuso em algo que tenha organicidade, assembleias, alguma unidade com perspectiva classista, mobilizando tanto sindicatos quanto movimentos populares que representam os setores mais precarizados da classe”, afirmou Badaró.

Coggiola iniciou sua fala questionando a posição de “especialista”: “o que vou dizer se vocês estavam na rua tanto quanto eu? Bem, vou tentar refletir sobre o debate político, analisar o que está em jogo neste momento”. Para isso, apontou a necessidade de analisar o contesto histórico e o contexto internacional.

Ele iniciou comparando as manifestações de junho com os dois grandes momentos anteriores do movimento de massas no Brasil, as “Diretas Já” e o “Fora Collor”. Disse que, ao contrário dos dois anteriores, essas mobilizações surgiram como uma reivindicação social, não claramente política, mas aos poucos foram tomando uma representação política, inclusive de quesitonamento ao regime.

Lembrou que em exatas duas semanas passou-se de duas mil pessoas nas ruas de São Paulo (6 de junho) a mais de dois milhões nas ruas do Brasil, em 20 de junho. “A crise política se transformou em crise institucional, mas ainda não em crise revolucionária. Essa passagem vai depender da política da esquerda”, afirmou, reforçando a preocupação levantada por Badaró em relação às fragilidades das forças políticas de esquerda. Porém, concluiu, esperançoso: “Sem revoluções, o mundo está condenado”.