A sequência de atos racistas contra o jogador Vinícius Júnior nos gramados espanhóis gerou uma onda de apoio e solidariedade ao atacante negro do Real Madri - dando força a um movimento social que exige que tais práticas sejam banidas do futebol e da vida.
A Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense - Seção Sindical da UFF (Aduff-SSind) se uniu de imediato a essa rede de solidariedade e de repúdio aos atos racistas - que contou com uma manifestação de forte simbolismo na Candelária, no Centro do Rio.
Ocorrida na noite de 25 de maio 2023, a atividade foi convocada por organizações do movimento negro e que teve a convocação subscrita por quase 200 entidades das lutas sociais e sindicais. A Aduff participou desta iniciativa.
'Raça e classe'
"A luta classista não é uma luta isolada da luta antirracista, pelo contrário. A centralidade da luta classista hoje passa por colocar a luta antirracista, como outras lutas contra as opressões, na sua centralidade", disse, à reportagem, o docente Edsón Teixeira, da UFF em Rio das Ostras e presidente da Aduff, enquanto participava do ato na Candelária, que saiu em caminhada até a Cinelândia.
Pouco antes, ressaltou, transcorria na sede da seção sindical reunião um grupo de trabalho que tem como tema central as lutas contra as opressões - o GT em Política de Classe para as Questões Étnico-Raciais, de Gênero e de Diversidade Sexual (GTPCEGDS).
"Estar aqui é uma forma de manifestar, registrar, o que vem se acumulando ao longo dos anos em termos de posicionamento da Aduff", disse, defendendo a importância e mesmo obrigação das entidades sindicais abraçarem também essas lutas.
"Vivemos num estado que tem como uma de suas prioridades a eliminação da população negra e não branca nas áreas periféricas. A gente tem uma polícia que mais mata e mais mata não-branco e negro. Estar aqui é um gesto que se insurge contra essa lógica do extermínio, contra a lógica do racismo", disse.
'Transformação social'
Aposentada da Escola de Serviço Social da UFF e dirigente da Regional do Andes-Sindicato Nacional no Rio, a professora Sonia Lúcio também considera necessário e indispensável o engajamento das entidades sindicais nessas lutas.
"É importante a solidariedade ao Vini, nós precisamos nos conscientizar de que a luta contra o racismo é uma parte importante da luta por transformação social, mas também é uma parte da luta contra o fascismo", disse, também durante o ato na Candelária.
Para a docente, os sindicatos de um modo geral pouco assumem essas pautas - uma frequente dissociação entre a luta sindical e a luta contra as opressões que, afirma, precisa mudar, ressaltando que o Andes-SN e a Aduff não poderiam deixar de apoiar o movimento de solidariedade ao atleta e de rejeição às práticas racistas.
Na avaliação da docente, a proporção do que está ocorrendo com o jogador brasileiro expressa "o avanço do racismo explícito, que é também um braço do fascismo, o avanço do ódio da burguesia contra os pobres, contra os negros, contra a população oprimida de um modo geral".
Sonia Lúcio assinala, ainda, que esses inaceitáveis casos de racismo explícito, contra um jogador que desponta entre os melhores do mundo, acaba também expondo o quanto a população pobre negra sofre de forma ainda mais intensa nas favelas e periferias no Brasil. "Um menino negro não sabe se sai pro trabalho e se volta, é olhado com desconfiança por toda a sociedade", constata, reforçando a mensagem de que atuar para mudar essa realidade pode e deve integrar as pautas sindicais de cada dia.
Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho