Jun
03
2023

"Gesto que se insurge contra a lógica do racismo e do extermínio", diz dirigente da Aduff sobre apoio a Vini Jr.

Dirigentes sindicais docentes ressaltam, em meio à solidariedade ao jogador brasileiro, a importância e obrigação dos sindicatos abraçarem também as lutas contra o racismo e todas as opressões

Ato no Centro do Rio, em meio às muitas manifestações de apoio ao jogador brasileiro e de repúdio ao racismo Ato no Centro do Rio, em meio às muitas manifestações de apoio ao jogador brasileiro e de repúdio ao racismo / Luiz Fernando Nabuco/Aduff

A sequência de atos racistas contra o jogador Vinícius Júnior nos gramados espanhóis gerou uma onda de apoio e solidariedade ao atacante negro do Real Madri - dando força a um movimento social que exige que tais práticas sejam banidas do futebol e da vida.

A Diretoria da Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense - Seção Sindical da UFF (Aduff-SSind) se uniu de imediato a essa rede de solidariedade e de repúdio aos atos racistas - que contou com uma manifestação de forte simbolismo na Candelária, no Centro do Rio. 

Ocorrida na noite de 25 de maio 2023, a atividade foi convocada por organizações do movimento negro e que teve a convocação subscrita por quase 200 entidades das lutas sociais e sindicais. A Aduff participou desta iniciativa.

'Raça e classe'

"A luta classista não é uma luta isolada da luta antirracista, pelo contrário. A centralidade da luta classista hoje passa por colocar a luta antirracista, como outras lutas contra as opressões, na sua centralidade", disse, à reportagem, o docente Edsón Teixeira, da UFF em Rio das Ostras e presidente da Aduff, enquanto participava do ato na Candelária, que saiu em caminhada até a Cinelândia.

Pouco antes, ressaltou, transcorria na sede da seção sindical reunião um grupo de trabalho que tem como tema central as lutas contra as opressões - o GT em Política de Classe para as Questões Étnico-Raciais, de Gênero e de Diversidade Sexual (GTPCEGDS). 

"Estar aqui é uma forma de manifestar, registrar, o que vem se acumulando ao longo dos anos em termos de posicionamento da Aduff", disse, defendendo a importância e mesmo obrigação das entidades sindicais abraçarem também essas lutas.

"Vivemos num estado que tem como uma de suas prioridades a eliminação da população negra e não branca nas áreas periféricas. A gente tem uma polícia que mais mata e mais mata não-branco e negro. Estar aqui é um gesto que se insurge contra essa lógica do extermínio, contra a lógica do racismo", disse.

'Transformação social' 

Aposentada da Escola de Serviço Social da UFF e dirigente da Regional do Andes-Sindicato Nacional no Rio, a professora Sonia Lúcio também considera necessário e indispensável o engajamento das entidades sindicais nessas lutas. 

"É importante a solidariedade ao Vini, nós precisamos nos conscientizar de que a luta contra o racismo é uma parte importante da luta por transformação social, mas também é uma parte da luta contra o fascismo", disse, também durante o ato na Candelária.

Para a docente, os sindicatos de um modo geral pouco assumem essas pautas - uma frequente dissociação entre a luta sindical e a luta contra as opressões que, afirma, precisa mudar, ressaltando que o Andes-SN e a Aduff não poderiam deixar de apoiar o movimento de solidariedade ao atleta e de rejeição às práticas racistas.

Na avaliação da docente, a proporção do que está ocorrendo com o jogador brasileiro expressa "o avanço do racismo explícito, que é também um braço do fascismo, o avanço do ódio da burguesia contra os pobres, contra os negros, contra a população oprimida de um modo geral". 

Sonia Lúcio assinala, ainda, que esses inaceitáveis casos de racismo explícito, contra um jogador que desponta entre os melhores do mundo, acaba também expondo o quanto a população pobre negra sofre de forma ainda mais intensa nas favelas e periferias no Brasil. "Um menino negro não sabe se sai pro trabalho e se volta, é olhado com desconfiança por toda a sociedade", constata, reforçando a mensagem de que atuar para mudar essa realidade pode e deve integrar as pautas sindicais de cada dia.

Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho

Ato no Centro do Rio, em meio às muitas manifestações de apoio ao jogador brasileiro e de repúdio ao racismo Ato no Centro do Rio, em meio às muitas manifestações de apoio ao jogador brasileiro e de repúdio ao racismo / Luiz Fernando Nabuco/Aduff

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