Mar
10
2023

8 de março em Campos dos Goytacazes foi marcado pela denúncia e luta contra feminicídio e violência contra mulher

Só no início de março, dois feminicídios já foram registrados em Campos: o de Letycia Fonseca, grávida de 8 meses e executada a tiros no dia 2 deste mês (companheiro é o principal suspeito) e o de Flaviana Teixeira, assassinada a facadas pelo ex-companheiro dentro do seu próprio bar, em Travessão, distrito de Campos

Foto Arquivo Pessoal Foto Arquivo Pessoal

“É importante que as pessoas saibam que estas mulheres morreram por sua condição de mulheres”, destaca Gisele Maria Ribeiro de Almeida, socióloga, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFF de Campos dos Goytacazes.

O 8M em Campos foi dividido em três partes. Na manhã de quarta-feira (08), aconteceu uma palestra sobre violência doméstica na DEAM (Delegacia de Atendimento a Mulher) de Campos dos Goytacazes. As integrantes do coletivo Mulheres pela Democracia compareceram ao evento e realizaram a leitura de uma carta elaborada pelo coletivo, com reivindicações que prezam pelo bem viver da mulheres campistas. O documento foi entregue às autoridades presentes. À tarde houve aula pública sobre o tema na Rodoviária Roberto Silveira e, à noite, ato público pelo fim da violência contra as mulheres na Praça São Salvador, com projeção de imagens de mulheres vítimas de feminicídio na cidade.

“Estivemos nas ruas, estudantes, professoras, militantes de movimentos sociais e de partidos políticos, para dialogar com tantas outras mulheres, e gritar ‘Basta de violência e de feminicídio. Queremos viver!’”, afirma a diretora da Aduff-SSind e professora do Departamento de Serviço Social da UFF-Campos, Amanda Guazzelli. 

Dados do Relatório da ONU apontam que 81,1 mil mulheres e meninas foram assassinadas em 2021 em todo mundo, sendo que 56% destas mulheres foram mortas por parceiros íntimos ou outros familiares. No Brasil, de acordo com Dados do Monitor da Violência e do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP), foram registrados 1.410 casos de feminicídio, em 2022. Em média, uma mulher foi assassinada a cada 6 horas por ser uma mulher, no país.

“Por que isso nos faz pensar que é um problema que afeta o gênero feminino? Porque no caso dos homens, a taxa de assassinatos cometidos por pessoas próximas é de apenas de 11%”, ressalta Gisele Maria Ribeiro de Almeida. A docente responsável pela aula pública sobre "pobreza menstrual", uma das que ocorreram na rodoviária de Campos dos Goytacazes, no 8 de março, friza a importância de dialogar com a população sobre a situação da mulher em nossa sociedade.

 “Não queremos ‘parabéns’ no 8 de março. Queremos vagas para as crianças na creche, queremos acesso a exames ginecológicos, queremos ganhar salários iguais aos homens quando fazemos os mesmos trabalhos que eles, queremos que nossos corpos não sejam vistos como objeto de prazer para homens, mas, sobretudo, queremos que saibam que não falar sobre gênero é ocultar nossa falta de direitos. Precisamos falar sobre estas coisas, sim”, afirma.

“Dia de denunciar e de aglutinarmos mulheres e suas vozes para construirmos um futuro no qual possamos ter mais equidade nas relações entre homens e mulheres”

Para a Bárbara Breder Machado, professora do Departamento de Psicologia da UFF em Campos dos Goytacazes, é de suma importância que a universidade esteja presente no 8 de março, com apoio da Aduff, do movimento estudantil, de instituições de ensino – “para que coletivamente possamos fazer o enfrentamento dessa condição estrutural que aniquila vida de tantas mulheres de uma maneira cotidiana, vil e infelizmente muito corriqueira”, friza.

“Campos é uma cidade muito violenta, em que o pensamento conservador impulsiona o machismo que assola a vida de muitas mulheres. A gente recolhe isso em diferentes formas de atuação como professoras, nos projeto de extensão, nos territórios, na sala de aula, atendendo mulheres vitimas de violência no SPA da UFF. Estar nas ruas é fazer o estranhamento dessa naturalização da violência e também nos fortalecermos enquanto mulheres, enquanto classe. É sentir que a gente precisa estar em movimento, articuladas, para se fortalecer e enfrentar essa situação que entrelaça classe gênero e raça”, reitera. 

A docente também ressalta a importância de colocar o corpo na rua e, no encontro com outras mulheres, compor um corpo coletivo. “Usar palavras de ordem, sentir nosso corpo se ampliar no sentido de encontrar outras mulheres e fazer um corpo de mulheres em movimento e atuando. A ampliação da voz também é muito importante, com o jogral a gente teve essa experiência de maximização das vozes. Quando a gente se organiza politicamente, quando a gente se articula, a gente faz o enfrentamento do silenciamento imposto pelo machismo estrutural. Foi um dia de denunciar e de aglutinarmos mulheres e suas vozes para construirmos um futuro no qual possamos ter mais equidade nas relações entre homens e mulheres”, finaliza a docente.

Estudante do curso de História da UFF-Campos e representante do Centro Acadêmico de História- Carlos Mariguella, Allana Helen Peixoto de Souza, integrou a organização do ato do 8M em Campos dos Goytacazes. Ela destaca que Campos foi a terceira cidade do Estado do Rio de Janeiro com mais votos para Bolsonaro na corrida presidencial do ano passado. “Um governo machista, racista, transfóbico e sexista”, critica. “Este 8M foi sem dúvidas um dos mais importantes, acho que todas saímos dos eventos revigoradas e esperançosas com a possibilidade de agora sermos ouvidas. A união das mulheres para reivindicar seus direitos é, sem dúvidas, emocionante. E mais do que emocionante, palpável!”, opina.

Entre as pautas do 8M em Campos também estava a reivindicação de “sem anistia para genocidas e golpistas”, pelo enfrentamento ao racismo e a lglbtfobia, em defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e acesso ao aborto legal e seguro.

Da Redação da Aduff | Por Lara Abib

Foto Arquivo Pessoal Foto Arquivo Pessoal

Additional Info

  • compartilhar: