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Fev
10
2023

Delegação da Aduff participa de ato antirracista durante o 41º Congresso do Andes-SN

Protesto denunciou a invisibilidade de docentes indígenas, negros e negras na mesa de abertura do evento. Manifesto reivindicou representatividade e defendeu cotas nas universidades e na composição da diretoria do Sindicato Nacional

“Manifestação por um sindicato antirracista” foi o mote para o ato realizado por docentes negros e negras durante o 41º Congresso do Andes-SN, que acontece em Rio Branco (Acre). O protesto da quinta-feira 9 foi motivado pela ausência de docentes negros e indígenas para compor a mesa de abertura do evento nacional, que debateu a conjuntura sociopolítica. 

Docentes de diferentes seções sindicais que integram "Coletivo Negras e Negras do Andes-SN" – grupo instituído durante o 37º Congresso da categoria (Salvador, 2018) – se articularam para reivindicar a presença negra nos espaços universitários e no próprio sindicato.  

Portando cartazes com textos como "Com racismo não há democracia" e "Combater o racismo é tarefa revolucionária", os participantes leram um manifesto ao plenário.

"Nominar práticas como racistas produz desconforto principalmente para aqueles que, a despeito das suas falas e publicações, acalentam a suavização da tensão racial brasileira por meio da mítica democracia racial e negação das violentas práticas de apagamento e descrédito de negras, negros e indígenas. Cuidar da pauta racial é tarefa e responsabilidade de todas, todos e todes intelectuais brasileiros que defendem a democracia, sobretudo aqueles que atuam na luta sindical. O antirracismo é condição de coerência", diz trecho do manifesto.

O mesmo documento criticou a ausência de pessoas negras e indígenas durante o debate de conjuntura no primeiro dia de Congresso do Andes-SN. Também reivindicou "o compromisso político de cada um dos coletivos que compõem o ANDES para compor chapas eleitorais consoante a representatividade do povo brasileiro: 58% de negros, 38% de brancos e 4% de indígenas, segundo o IBGE".

"O ato chamou atenção para o privilégio da branquitude, defendeu as cotas raciais e denunciou como a luta sindical não contempla satisfatoriamente as questões de raça de gênero. Protestos como este são, antes de tudo educativos, porque a luta contra preconceitos também traz um aspecto formativo", considerou a docente Maria Onete Ferreira.

Para ela, o Andes-SN tem avançado lentamente em algumas pautas que estão diretamente relacionadas às demandas de setores da sociedade. Uma delas é a questão da paridade de gênero na direção, aprovada em estatuto do Sindicato Nacional. No entanto, Maria Onete Ferreira compreende que a questão racial não está adequadamente contemplada na representação sindical. "Nos congressos da categoria, a participação negra ainda é pequena, devido à perpetuação do pensamento escravista que impede a igualdade de acesso da população negra aos espacos considerados de maior status na sociedade, a exemplo das universidades públicas e, consequentemente,  nas profissões mais qualificadas", considerou a docente da UFF em Angra dos Reis, que integra a delegação da Aduff no evento. 

Segundo Onete, é preciso chamar a atenção para o preconceito. "Temos que desnaturalizar a ausência dos corpos negros em espaços sociais tradicionalmente brancos", afirmou.

De acordo com Maria das Graças Gonçalves, ato foi emocionante e muito bem recebido na plenária, com longos aplauso em pé. "Denunciamos a distância entre as discussões e os discursos que acolhem pautas como a defesa das cotas e das condições de permanência e conclusão de curso para estudantes, cotas nos concursos para docentes e servidores (entre outros) e as práticas e comportamentos da branquitude nesses eventos", disse a professora da Faculdade de Educação da UFF.

Para ela, o racismo estrutural e institucional está, infelizmente, presente em todos os setores da sociedade e também visível nas representações imagéticas do sindicato.

Segundo João Claudino Tavares, diretor da Aduff e docente da UFF em Rio das Ostras, a classe trabalhadora tem gênero, tem raça e tem diversidade. "O Andes-SN tem compromisso com a luta antirracista e tem denunciado e combatido o racismo em todas as suas instâncias. Entretanto, considerando os seus espaços como Congressos e CONADs, identificamos a dificuldade de efetivação das representações das diversidades", opinou.

O mesmo disse Susana Maia, professora da UFF em Rio das Ostras e dirigente da Aduff. Como afirmou, o racismo estrutural ainda determina os lugares "destinados" às pessoas negras – o que impacta diretamente no acesso à universidade, seja como estudantes ou docentes. "Temos avançado nos últimos anos enquanto sindicato nesse reconhecimento e enfrentamento, mas ainda precisamos ampliar as práticas que garantam o enfrentamento e superação desta opressão. Um dos desafios postos e tratados na plenária do tema III (Plano Geral de Lutas), é a luta pela implementação imediata da Lei nº 12.990/14 que trata das cotas docentes nas IES federais, IFs e CEFETs. Enquanto seções sindicais temos um papel central nessa luta!", explicou.

De acordo com Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa, docente da UFF em Rio das Ostras e 1ª vice-presidente da Regional Rio de Janeiro do Andes-SN, o Grupo de Trabalho em Políticas de Classe para as Questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual - GTPCEGDS - do Sindicato Nacional tem discutido a temática antirracista com muito afinco. "A última reunião do GTPCEGDS aconteceu, inclusive, em Recife, quando estava havendo o Encontro Nacional dos Professores Negros e Negras. Participamos de uma mesa, inclusive. Estamos na luta por dentro das nossas instituições, para que haja cotas para negros e negras nos concursos efetivamente e mais representatividade. O ato durante o 41º Congresso foi, então, super importante para reafirmar nossa força e o quanto queremos avançar mais", afirmou. 

Da Redação da Aduff
Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco

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