Out
05
2021

Em Brasília, servidores associam Guedes, 'PEC da Rachadinha' e escândalo do 'paraíso fiscal'

Servidores e servidoras realizaram mais uma 'recepção a parlamentares', na qual a associação da 'reforma' com o escândalo envolvendo o ministro foi inevitável

Mobilização no Aeroporto de Brasília, nesta terça-feira, 5 de outubro de 2021 Mobilização no Aeroporto de Brasília, nesta terça-feira, 5 de outubro de 2021 / Valcir Araujo

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Foi provavelmente a mais movimentada mobilização das servidoras e servidores contra a 'reforma' Administrativa (PEC-32) no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. Mas se a atividade era para 'receber' os parlamentares que chegavam ao Distrito Federal e tentar sensibilizá-los a votar contra a proposta do presidente Jair Bolsonaro, o alvo central do ato foi o ministro Paulo Guedes (Economia).

A 'deferência' foi reflexo direto da recém-divulgada denúncia de que o responsável por ditar a política econômica no Brasil não tem confiança em manter o seu dinheiro no país - remetendo em segredo a sua fortuna para um paraíso fiscal no Caribe.

"Paulo Guedes, seu fascistinha, a sua PEC tem cheiro de rachadinha', cantaram os servidores em diversos momentos, na atividade realizada pela campanha contra a 'reforma' Administrativa que reuniu algumas centenas de servidores no aeroporto da capital federal. Representantes do Andes-SN, o Sindicato Nacional dos Docentes das instituições de Nível Superior, participaram do protesto.

"Fora Paulo Guedes, é você quem é um privilegiado, é você quem é um parasita, é você quem destrói o Brasil", disse a servidora Luciana Carneiro, uma das manifestantes, referindo-se a quando o principal ministro do presidente Jair Bolsonaro chamou os servidores de 'parasitas'.

Paulo Guedes é quem assina, junto com Bolsonaro, a Proposta de Emenda Constitucional 32/2020. O ministro também já disse que seu objetivo era colocar uma "granada no bolso dos servidores" - algo revelado involuntariamente após o Supremo Tribunal Federal determinar a divulgação da gravação de uma reunião ministerial, em abril do ano passado.

Milhões em paraíso fiscal

A notícia de que o ministro da Economia e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mantêm contas milionárias no exterior levou parlamentares da oposição a defenderem investigação do caso e o afastamento imediato de ambos dos cargos que ocupam. A revelação indesejada decorre da investigação jornalística que deu origem à série de reportagens "Pandora Papers", iniciada no domingo (3), dia seguinte às mais de duas centenas de atos no Brasil que defenderam o impeachment do presidente Jair Bolsonaro e repudiaram o ministro da Economia, Paulo Guedes.

É uma colaboração jornalística com cerca de 600 profissionais em mais de 100 países organizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. São milhares de empresas offshores investigadas a partir de dados entregues por fonte anônima ao consórcio faz um ano. A maioria das empresas foram abertas nas Ilhas Virgens Britânicas. Veículos como El País, Washington Post, Le Monde, The Guardian e BBC participam da investigação. No Brasil, ela envolve o Metrópolis, a Agência Pública, a revista piauí e o site Poder 360.

Offshores são empresas em paraísos fiscais, criadas por pessoas ricas para economizar impostos e 'proteger' recursos financeiros. Não são proibidas no Brasil, porém precisam ser declaradas à Receita e comunicadas ao Banco Central quando ultrapassam 1 milhão de dólares. Porém, ocupantes de cargos públicos estão proibidos de mantê-las, caso do ministro da Economia e do presidente do BC. Além disso, parece eticamente intolerável que ocupantes de cargos que ditam a economia do país mantenham dinheiro em paraísos fiscais, o que indica desconfiança com o quadro econômico nacional, e ainda possam lucrar a depender das decisões que tomem.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

Mobilização no Aeroporto de Brasília, nesta terça-feira, 5 de outubro de 2021 Mobilização no Aeroporto de Brasília, nesta terça-feira, 5 de outubro de 2021 / Valcir Araujo

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