Set
10
2021

Projeto autoritário de Bolsonaro está a serviço da retirada de direitos, diz docente

TV Aduff conversou com o professor e pesquisador Rafael Vieira, durante a cobertura das manifestações do Grito 'Fora Bolsonaro' em 7 de setembro.

 

TV Aduff conversou com o professor e pesquisador Rafael Vieira, durante a cobertura das manifestações do Grito 'Fora Bolsonaro' em 7 de setembro. Veja o vídeo em https://youtu.be/LEkEVjh9VOo?t=11636

O presidente Jair Bolsonaro tenta uma saída autocrática para a crise do capitalismo, de acordo com o docente e pesquisador Rafael Vieira. Ele é ex-professor da UFF e, hoje, atua na Universidade Federal do Rio de Janeiro. 

"O neofascismo é uma resposta capitalista de reforço dos alicerces dessa sociabilidade quando ela está em crise. Bolsonaro aposta em novas medidas de austeridade, novas medidas de cassação de direitos e nosso papel é lutar contra isso nos espaços em que for possível", afirmou o docente no último dia 7 de setembro.

Naquela terça-feira, Rafael participou dos protestos contra o governo de Jair Bolsonaro e em defesa dos direitos e dos serviços públicos, contra as privatizações, no feriado da Independência do Brasil, em que anualmente setores da classe trabalhadora, dos movimentos sindical, popular, estudantil e social vão às ruas no tradicional 'Grito dos Excluídos'. Houve manifestações em diversas capitais brasileiras, também lembrando o envolvimento do clã Bolsonaro com as denúncias das 'rachadinhas' e com milicianos. Lembraram ainda o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI da covid-19, que apura indícios de corrupção no governo compra de vacinas. 

No Rio de Janeiro, o ato de 7 de setembro movimentou o  Centro da cidade. Contou com cobertura ao vivo conjunta da TV Aduff, o Sintuff, o Sindscope e o Sepe-Niterói, com transmissão pelas redes sociais das entidades. 

Ao conversar com os jornalistas Rejane Nogueira (Sindscope), Hélcio Duarte (Aduff) e com os professores Elizangela Leite e Percival Tavares, da diretoria da seção sindical dos docentes da UFF, Rafael Vieira reafirmou a necessidade de mobilização pelas liberdades democráticas e contra as ameaças golpistas de Jair Bolsonaro e seus apoiadores, que no dia 7 também foram às ruas, de verde e amarelo, pedindo a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal e intervenção militar, entre outras medidas inconstitucionais e autoritárias.

O pesquisador considerou importante ir às ruas para marcar a posição e demarcar diferença, reforçar a necessidade de aglutinação de força das esquerdas contra as medidas antidemocráticas e as reformas que prejudicam a classe trabalhadora, entre elas a administrativa (PEC 32) e as privatizações. 

Segundo ele, a política genocida e autoritária do governo Bolsonaro tem um impacto sobre o custo de vida da população, com o retorno da inflação, que está diretamente relacionada à alta dos alimentos e do combustível. 

"Apesar do medo [de contaminação pela covid-19] é fundamental estar nas ruas. Quem não é negacionista tem essa preocupação. Mas é importante demarcar essa presença nas ruas, porque o que o governo quer, nesse momento, é ganhar fronteira para, de imediato, implementar reformas, como a administrativa e as outras que vão incidir sobre a classe trabalhadora e frações mais precarizadas da classe trabalhadora, como mulheres, negros, que vão sentir mais tanto mais as medidas forem implementadas, como a reforma da previdência e os ataques aos serviços públicos", disse Rafael Vieira.

Atitudes de Rebeldia 

Rafael Vieira é parte de um coletivo que organizou o livro "Atitudes de Rebeldia: as formas da universidade tecnocrática, o aparato vigilante/repressivo e as resistências dos professores da UFF durante a ditadura", lançado pelo Grupo de Trabalho local de História do Movimento Docente (GTHMD) da Aduff-SSind, em 2018 - quando a seção sindical completou 40 anos. 

A obra é fruto do projeto “Memórias da Ditadura na UFF”, que teve início na gestão ‘Mobilização Docente e Trabalho de Base (biênio 2012-2014)’ e prolongou-se pelas duas gestões seguintes da seção sindical. O objetivo inicial era investigar quais os impactos da ditadura na UFF e qual o seu alcance. O livro é fruto do relatório final do projeto e da pesquisa feita por Rafael Vieira, quando ele era professor da UFF-Angra, com a coordenação de Wanderson Melo, professor da UFF de Rio das Ostras, coordenador do GTHMD local e que integrou, de 2012 a 2014, a diretoria da Aduff. 

Para o docente, as medidas atuais de intervenção do governo de Jair Bolsonaro, que constantemente vem desrespeitando as consultas feitas às comunidades para a escolha de reitores das Universidades, Institutos e Colégios Federais, é um resquício de uma legislação da ditadura no país.

"Havia muita luta nas universidades à época da ditadura, mas essa luta se dava num território hostil, em que quem lutasse contra [o autoritarismo] desaparecia, era perseguido internamente e sofria sanções disciplinares na instituição. No entanto, essa luta foi muito importante porque, nos anos 80, no processo de redemocratização, ela impactou as universidades e permitiu que alguns espaços [das instituições de ensino superior] se tornassem permeáveis às lutas sociais, como vemos hoje. As Universidades cumprem papel civilizatório na conjuntura brasileira, para barrar o negacionismo. Têm papel importante na pesquisa e no desenvolvimento de vacinas contra a covid-19, por exemplo, mas também têm papel político de luta de barrar essa tentativa do governo de abrir, em prol do mercado, todas as esferas da sociedade, com o objetivo de tentar forjar uma 'vida normal'. Aquilo que para o governo é uma 'vida normal' é a reprodução regular da acumulação capitalista e dane-se que a vida do trabalhador está sendo sacrificada. As Universidades têm um papel importante não só na produção do conhecimento, mas o papel político de barrar essa ofensiva negacionista", considerou.  

Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira

 

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