Ago
26
2021

Às pressas, governo Bolsonaro tenta votar PEC-32 em meio à quebra de sigilos de seu líder na Câmara

Arthur Lira diz que pautará reforma Administrativa na 1a quinzena de setembro; STF mantém decisão da CPI da Covid contra Ricardo Barros, líder do governo que comanda tropa de choque contra servidores. Atos do Grito dos Excluídos, em 7 de Setembro, vão defender 'Fora Bolsonaro e a rejeição da 'reforma' que ameaça os serviços públicos (PEC-32)

 

 

Manifestação na entrada da Câmara dos Deputados, em Brasília, em 18 de agosto de 2021, dia de atos e greves contra a PEC-32 Manifestação na entrada da Câmara dos Deputados, em Brasília, em 18 de agosto de 2021, dia de atos e greves contra a PEC-32 / Valcir Araujo - especial para a Aduff

Arthur Lira diz que pautará reforma Administrativa na 1a quinzena de setembro; STF mantém decisão da CPI da Covid contra Ricardo Barros, líder do governo que comanda tropa de choque contra servidores. Atos do Grito dos Excluídos, em 7 de Setembro, vão defender 'Fora Bolsonaro e a rejeição da 'reforma' que ameaça os serviços públicos (PEC-32)

DA REDAÇÃO DA ADUFF

A base parlamentar governista na Câmara dos Deputados tem pressa. Busca acelerar a votação da 'reforma' Administrativa (PEC-32) na Câmara dos Deputados no mesmo momento em que o principal integrante da tropa de choque bolsonarista pela aprovação das propostas do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR), está sob investigação: teve os sigilos quebrados por determinação da CPI da Covid no Senado e é suspeito de integrar um esquema que envolve vacinas e propina. 

Barros, que alega inocência, tentou escapar da quebra de sigilos e recorreu ao Supremo Tribunal Federal. A ministra Cármen Lúcia, porém, manteve a decisão da CPI da Covid de quebrar os sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático - este referente a comunicações a distância por meios digitais - do parlamentar, líder do governo na Câmara e defensor barulhento da reforma e do fim da estabilidade dos servidores públicos.

O deputado bolsonarista é suspeito de integrar um esquema fraudulento de compra superfaturada de vacinas indianas Covaxin, e que pode explicar em parte a demora do governo em adquirir outras vacinas, apesar de oferecidas ao Brasil em meados do ano passado - atraso que pesquisadores da área apontam como responsável centenas de milhares de mortes pela covid-19.

O caso só está sendo investigado porque um servidor concursado do Ministério da Saúde, resguardado de retaliações políticas mais graves pelo direito à estabilidade, denunciou possíveis irregularidades ao Ministério Público Federal.

A reforma defendida pelo líder do governo acaba com a estabilidade para a imensa maioria dos futuros cargos a serem ocupados na administração pública. Também limita a dos atuais, ao prever a regulamentação por lei ordinária da subjetiva avaliação de desempenho, cuja aferição negativa poderá levar à demissão. Pelas regras que Barros e Bolsonaro querem ver aprovadas, o servidor do Ministério da Saúde autor da denúncia, que levou o líder governista a ser investigado, poderia já ter sido demitido.

Pressa

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse à deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), que integra a coordenação da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público, que o projeto deve ser levado à apreciação do Plenário da Câmara na primeira quinzena de setembro. 

A intenção do parlamentar governista era ver o texto da proposta apreciado na comissão especial na última semana de agosto. Porém, segundo informação divulgada pelo deputado Federal Rogério Correia (PT-MG), também da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Serviços Públicos, o relator da proposta na comissão, deputado Arthur Oliveira Maia (PP-BA), disse que não conseguirá apresentar o seu parecer esta semana - e deverá fazê-lo na segunda-feira (30), após prováveis negociações de bastidores em torno de alterações no texto. 

Com isso, pedido de vista que a Oposição naturalmente fará tende a jogar a apreciação do parecer na comissão especial para após o feriado de 7 de setembro. Passando na comissão, o texto vai ao Plenário da Câmara, onde Arthur Lira atua para tentar colocá-lo em pauta ainda na primeira quinzena de setembro. 

As entidades sindicais e as campanhas contrárias à reforma atuam para impedir que isso aconteça - e vem buscando intensificar as mobilizações nas redes sociais após o dia de protestos e greve realizado nacionalmente em 18 de agosto. Também vão participar dos atos "Fora Bolsonaro e Mourão" previstos para 7 de setembro, data dos desfiles da Independência e dos tradicionais atos do "Grito dos Excluídos". 

Pretendem levar às ruas outra vez a defesa dos serviços públicos e do arquivamento da proposta, definida como um dos maiores ataques ao setor da história. No Estado do Rio, a principal manifestação já está marcada: será no Centro da capital fluminense, a partir das 9 horas, no cruzamento entre a rua Uruguaiana e a avenida Presidente Vargas.

Audiências

Ao longo desta semana aconteceram as últimas audiências públicas na comissão especial. Na terça-feira (23), o tema debatido foram os impactos da reforma no setor militar e na segurança pública. O debate demonstrou que a reforma de Bolsonaro também atinge duramente setores militares nos estados - bombeiros e policiais - e servidores civis da área de segurança.

Na quarta-feira, a audiência foi com Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União. O representante do TCU compareceu à comissão e foi ouvido antes de o governo federal encaminhar à comissão especial estudos que mostrem os impactos financeiros da proposta e expliquem a previsão do ministro Paulo Guedes de uma economia superior a R$ 300 bilhões em dez anos. Até hoje o governo não apresentou quaisquer dados sobre isso, mesmo após o próprio TCU solicitar o envio destes desconhecidos documentos ao Congresso Nacional.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

Manifestação na entrada da Câmara dos Deputados, em Brasília, em 18 de agosto de 2021, dia de atos e greves contra a PEC-32 Manifestação na entrada da Câmara dos Deputados, em Brasília, em 18 de agosto de 2021, dia de atos e greves contra a PEC-32 / Valcir Araujo - especial para a Aduff

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