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Ago
04
2021

CNPq anuncia retorno do Lattes, mas notícia não afasta críticas ao desmonte da pesquisa no Brasil

Para presidente da Aduff, falha no sistema é sintoma do desinvestimento de anos na Ciência e Pesquisa, que se aprofunda com Bolsonaro 

 

Depois de o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq ter adiado o restabelecimento dos sistemas de dados, que estiveram fora do desde o dia 24 de julho, a instituição comunicou, no dia 3 de agosto, que já é possível consultar a Plataforma Lattes - disponível apenas para impressão e para download das informações. Ainda não é possível realizar atualizações dos dados.

Segundo o comunicado oficial do CNPq, "o trabalho de restauração dos acessos ainda está em andamento, incluindo novas atualizações da base de dados, que serão feitas nos próximos dias (...)".

A interrupção no funcionamento dos sistemas, envolvendo as plataformas Carlos Chagas e Lattes, tem causado aborrecimentos a muitos pesquisadores no país que dependem desses dados para trabalhar. Em nota recentemente divulgada pelo CNPq, a instituição informou que não houve perda de informações; garantiu que o  pagamento dos bolsistas estariam garantidos e que os prazos de editais/ prestações de contas seriam prorrogados.

De acordo com a professora Kate Lane, presidente da Aduff, é preciso defender o caráter público dessas instituições de fomento à pesquisa no país. Para ela, a falha no sistema do CNPq reflete o desmonte da área, conforme tem empreendido o governo federal, notadamente negacionista, notoriamente nada afeito à Ciência e à Educação.

"A falha nesse sistema é um sintoma muito claro de como a Ciência e a Pesquisa vêm sendo tratadas nesse país ao longo dos anos e que se aprofunda durante o governo Bolsonaro, pelo desinvestimento sistemático na área", disse.

Para a docente, o problema no equipamento do CPNq  pode ser relacionado, inclusive, ao recente incêndio na Cinemateca (SP) e também ao do Museu Nacional, ocorrido em 2018, também por falta de investimentos e de manutenção adequada. "As instituições públicas têm sido deixadas à mingua; vêm sucumbindo pela falta de investimento", criticou.

Defender agências mas não o produtivismo

Segundo Kate Lane Paiva, as agências de fomento à pesquisa são instituições importantes para o país. No entanto, apesar de reafirmar o caráter público e a necessidade de investimentos públicos nessas agências, é preciso fazer também, de acordo com a professora, a crítica ao modelo produtivista do conhecimento, da produção científica e da pesquisa no Brasil, tal como o CNPq e a Capes, por exemplo, defendem. 

"Dentro dessa lógica desenvolvimentista, essas instituições acabam se alinhando à favor dos interesses do grande capital e do empresariado e não a favor do povo brasileiro. É uma lógica perversa que adoece docentes e discentes. Temos que pensar em como colocaremos na pauta [dessas agências] o nosso projeto de Educação e de produção científica, que preza pela melhoria de condições de vida da classe trabalhadora e pela soberania nacional, tal como defendido pelo Andes-SN", considerou.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Aline Pereira