Jun
01
2021

Aduff divulga nota sobre postagem de pró-reitor da UFF sobre cotas raciais

Posicionamento da Diretoria da Aduff acerca da postagem sobre cotas raciais em rede social do pró-reitor de Extensão da UFF

 

 

A diretoria da Aduff vem, publicamente, se posicionar sobre a postagem feita pelo pró-reitor de extensão da UFF, o professor Cresus Vinícius, em seu Facebook, onde dizia que “a cota racial é racismo. Cota deve ser social, contemplando o estudante pobre que é esforçado e disciplinado, de qualquer tom de pele”.

Em que pese o professor já ter apagado o post, que teria sido fruto de um mal uso seu da plataforma do Facebook, e ter se retratado dizendo que foi “uma postagem absurdamente errada e diametralmente oposta” ao que ele pensa e defende “enquanto indivíduo, docente e pró-reitor da Universidade Federal Fluminense”, a Aduff gostaria de expressar aqui algumas considerações.

A primeira delas é reiterar nosso posicionamento a favor das cotas raciais como fruto de uma luta histórica do movimento negro nesse país e que tem relação direta com o enfretamento das opressões sobre a qual se estrutura o sistema capitalista. As cotas são parte das ações afirmativas das políticas de reparação histórica, profundamente necessárias para o enfrentamento ao racismo, à diminuição das desigualdades e à construção de uma universidade mais democrática e diversa, bem como de uma sociedade justa e igualitária. 

Tais temas são pautados no âmbito da Aduff e do Andes-Sindicato Nacional, ressaltando a ênfase classista, pois entendemos que o enfrentamento às opressões é parte fundamental da luta sindical pela defesa dos direitos da classe trabalhadora e da Universidade pública, gratuita, laica e socialmente referenciada.

A segunda questão diz respeito ao fato do pró-reitor, ao se retratar de sua postagem inicial, dizer que “determinou o apoio” a projetos de extensão com a temática antirracista, citando nominalmente dois projetos coordenados por professoras da universidade. E é aqui que expressamos nosso total desacordo. Primeiro, porque, ao se tratar de projetos de extensão, estes não têm sua autorização 'determinada' por nenhum pró-reitor. Os projetos passam por editais da Universidade, de ampla concorrência, para os quais não há política de cotas e, em muitos casos, não há sequer bolsas, o que revela a precarização da Universidade e do trabalho docente. Em segundo lugar, um pró-reitor não pode se apropriar de qualquer projeto institucional, como produto de sua tutela, para uma justificativa pessoal, por ter cometido um ato de cunho racista, mesmo que por conta da má utilização de uma plataforma de internet.

Ao assumir para si a determinação pela autorização de um projeto para tentar minimizar seu próprio erro, o pró-reitor erra novamente, pretendendo apagar os esforços acadêmicos das professoras para aprovar os seus projetos. E, quando envolve professoras mulheres negras, isso é ainda mais humilhante, mais revoltante, porque somente elas sabem quão difícil é estar dentro de uma Universidade que ainda é meritocrática, produtivista e, portanto, racista, misógina, lgbtfóbica.

Por fim, criticamos a postura de dizer que “determinou” a autorização desses projetos, como se fosse o pró-reitor responsável por mandos e desmandos na Universidade, segundo suas próprias orientações e posições políticas individuais e não sujeito ao regimento e políticas gerais da Universidade. 

Essa visão pessoalizada e individualista dos gestores fere por completo a democracia interna na UFF. E as cotas só fazem parte desta universidade porque houve muita luta do movimento negro, estudantil, sindical e social para reconhecê-las e implementá-las. Não por fruto da benevolência ou integridade de nenhuma gestão desta universidade, por mais democrática ou progressista que fosse. 

Portanto, repudiamos veementemente posturas como estas que atacam frontalmente a democracia em nossa Universidade, outra bandeira histórica de luta deste sindicato. 

Solidarizamo-nos com as professoras citadas na postagem do pró-reitor e reafirmamos que estaremos sempre na defesa intransigente de nossa classe, a classe trabalhadora, contra toda e qualquer forma de opressão!

Diretoria da Aduff-SSind - 1 de junho de 2021
(Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense - Seção Sindical do Andes-SN)

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