Mai
10
2021

Após falar em privatizar saúde e atribuir crise a velhice de pobres, Guedes defenderá reforma na Câmara

Ministro da Economia deve defender na CCJ nesta terça (11) PEC que ataca servidores, inclusive os que estão na linha de frente do combate à covid-19, e que abre caminho para privatizar serviços públicos hoje gratuitos

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Pouco mais de duas semanas após defender a privatização da saúde pública e atribuir a suposta quebra do Estado à vida prolongada de pessoas pobres, o ministro Paulo Guedes vai falar sobre a 'reforma' Administrativa (PEC-32/2020) na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. 

Guedes não irá à comissão presencialmente. A participação será por vídeo e está prevista para esta terça-feira, dia 11 de maio de 2021, a partir das 10 horas da manhã. A sessão será transmitida pela TV Câmara no Youtube. Entidades que participam da campanha pela rejeição da proposta estão convocando servidores e a população a se manifestar nas redes sociais durante a audiência. A informação sobre a ida virtual à CCJ foi confirmada à reportagem pela secretaria do colegiado.

A participação na comissão que analisa a admissibilidade da proposta ocorrerá apenas 18 dias após o ministro defender a privatização da saúde pública, substituindo o serviço público pela distribuição de vales (voucher) para a população usar nos hospitais privados quando precisar de atendimento.

As declarações foram dadas em um evento do Ministério da Saúde, no qual supostamente se surpreendeu ao saber que estava sendo transmitido ao vivo pela internet. Primeiro, disse que o Estado estava quebrado porque as pessoas que dependiam da saúde pública estavam vivendo demais - ninguém queria morrer antes dos 80 ou 90 anos.

A frase foi dita em meio a uma pandemia que vem matando mais de dois mil brasileiros por dia. Pela primeira vez em 65 anos, a expectativa média de vida no Brasil vai cair devido à covid-19. Um estudo liderado pela demógrafa Márcia Castro, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard, já demonstra que o impacto será de quase dois anos.  

Guedes também disse que o governo irá substituir os serviços públicos de saúde por empresas privadas. Com isso, afirmou, os brasileiros pobres poderiam decidir se querem ou não ir ao Hospital Albert Einstein, um dos mais caros do país e que costuma atender a autoridades e empresários ricos.

 "Nós vamos ter que fazer na saúde igual se fez no auxílio emergencial. Pobre tá doente? Dá um voucher para ele. Quer ir no [Hospital Albert] Einstein? Vai no Einstein. Quer ir no SUS, pode usar seu voucher onde quiser. Não tem gestão na saúde pública", disse. 

Não mencionou, naturalmente, que o valor base do auxílio emergencial, usado para defender o voucher,  para quem se encontra em vulnerabilidade social na pandemia é de apenas cinco reais por dia. A quantia é insuficiente até para estacionar um  carro por meia hora no estacionamento deste hospital privado de São Paulo.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

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