Set
22
2020

Faz 24 anos, UFF concedia título a Paulo Freire e Aduff publicava entrevista com educador

Patrono da Educação brasileira completaria 99 anos em setembro; perseguido em vida e após a morte, Paulo Freire dizia não haver nada mais subversivo do que ‘ensinar a pensar’ 

 

 

Há 24 anos, Paulo Regulus Neves Freire era condecorado com o título de Doutor Honoris Causa na Universidade Federal Fluminense. Diretoria e filiados da seção sindical dos docentes participaram da cerimônia e o evento foi noticiado pela edição de 12 de setembro de 1996 do Jornal da Aduff, que também apresentou uma entrevista com o educador pernambucano (veja arquivo em pdf ao final do texto). Patrono da educação brasileira desde abril de 2012, ao longo de sua trajetória, Paulo Freire foi contemplado com cerca de 48 títulos, entre eles doutor honoris causa concedidos por diversas outras universidades e organizações brasileiras e do exterior, entre elas Harvard, Cambridge e Oxford.

A publicação foi lembrada pela professora da Faculdade de Educação, Heloísa de Carvalho Gouvea, atualmente aposentada, e filiada à Aduff.  “Conheci Paulo Freire e sempre tive grande admiração por sua obra. Neste momento sombrio para a educação em nosso país é oportuno lembrar da postura firme deste professor que ressaltava a importância de ensinar a ‘ler a realidade’ para poder se posicionar ante ela”, disse a docente, que é mestre em Educação pela UFF.

Paulo Freire teria completado 99 anos no último dia 19 de setembro. Faleceu em maio de 1997, e deixou inúmeras obras relacionando o analfabetismo à herança social e política elitista do país. Considerava que educar era, portanto, um ato político.  Pregou pela conscientização, libertação e autonomia dos seres humanos e, consequentemente, foi perseguido por isso. Em 1964, foi detido  por  mais  de dois meses ao ter seu nome e suas ideias associadas à “subversão comunista” que setores dominantes e militares diziam ameaçar o país. 

Exilou-se no Chile enquanto a ditadura empresarial-militar que se instaurou no Brasil entre 1964 e 1985 pretendia engessar o pensamento crítico das massas – assim como defende o atual presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Sempre que podem, escancaram aos quatro ventos a pequenez que o caracterizam ao ofender a memória de Paulo Freire, cujo legado para a educação brasileira é inegável por qualquer pessoa que não coadune com a opressão e os demais tipos de violência sistêmica.

Como lembra a professora Heloisa Gouvêa, para Paulo Freire a educação é um ato político necessário e urgente. “Questionado uma vez por que tinha sido preso e exilado por ser subversivo ele respondeu: quer coisa mais subversiva do que ensinar a pensar? Queremos reverenciar neste centenário o legado que este grande educador deixou para o Brasil e para o mundo”, complementa a docente.

Publicação do Andes-SN presta homenagem 

A Revista Universidade e Sociedade, uma publicação do Andes-SN, homenageia Paulo Freire e aborda o seu legado para a Educação no número 66, de julho de 2020.

"E dentre aqueles que detêm as chaves do tempo presente, em razão também dos ataques que no presente têm sofrido, é imperativo redescobrir o pensamento de Paulo Freire e todo o legado de sua obra política! Não apenas porque a educação, como direito, tem sido negada, deformada no opróbrio da mercadoria. É o próprio exercício do livre pensar, do dissenso, da necessária crítica e do ensino engajado na tarefa da transformação da realidade social que estão severamente ameaçados quando se projeta uma escola descompromissada com os subalternos, que se quer afeita à ideologia dominante e, com isso, voltada a legitimar as práticas de exploração em curso na infraestrutura econômica onde se intensificam violências", diz trecho da apresentação assinada pelos editores. 

A edição está disponível para consulta online em https://www.andes.org.br/img/midias/0163d20dc7de4f9b2903348157121ab0_1596131342.pdf

Da Redação da Aduff | Por Aline Pereira

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