Jun
12
2020

Aduff debate ensino remoto na pandemia: 'Professor não é entregador de aulas'

Com o tema 'EaD, Ensino Remoto e Produção de Conhecimento nas Universidades Públicas", professoras da UFF Nívea Andrade e Inny Accioly participaram de debate transmitido ao vivo pela Aduff

Docentes na live da Aduff: ensino remoto entrega informação à parte dos estudantes, mas não conhecimento Docentes na live da Aduff: ensino remoto entrega informação à parte dos estudantes, mas não conhecimento / Reprodução

DA REDAÇÃO DA ADUFF

O ensino remoto não é a solução para as universidades enfrentarem a pandemia do coronavírus. Foi o que afirmaram as professoras da Universidade Federal Fluminense Nívea Andrade e Inny Accioly no debate sobre o tema promovido pela Aduff-SSind, na tarde da quinta-feira, 11 de junho de 2020, com transmissão ao vivo pelo Facebook. O debate teve a mediação da professora Marina Tedesco, presidente da Associação dos Docentes da UFF e professora do Instituto de Artes e Comunicação Social (Iacs).  

Professora da Faculdade de Educação, Nívea Andrade iniciou o debate dizendo que a prioridade do momento é a defesa da vida. Ressaltou que as tecnologias de informação e conhecimento podem de fato ser "importantes artefatos curriculares" para o processo de produção de conhecimento. "Eu não venho aqui condená-las como uma ferramenta e como um espaço de produção. Acho que a gente precisa trabalhar mais e refletir mais sobre o uso dessas tecnologias para essa produção de conhecimento", disse.

Acesse aqui para assistir à live da Aduff: Ensino Remoto e a Produção de Conhecimento nas Universidades Públicas

No entanto, a docente pontuou que a tecnologia pode ser usada de dois modos distintos. Em um deles,  "no reconhecimento da produção de conhecimento como interação, como diálogo, no projeto democrático e dialógico" da educação. "Para que isso de fato aconteça, nós precisamos que o uso dessas tecnologias levem em consideração o acesso à internet, uma internet de qualidade, à banda larga, o acesso de uma série de elementos que garantam as condições domiciliares a esses estudantes e que garantam a possibilidade de diálogo. Uma produção de conhecimento que seja de fato dialógica, que seja produção e não uma perspectiva de transmissão de informação. Porque se essa perspectiva de produção de conhecimento não estabelecer o diálogo e a interação, se ela for apenas o uso da tecnologia para que aquele estudante entre numa determinada plataforma e se informe e dali produza um material, isso significa que a gente vai estar trabalhando com uma outra perspectiva da tecnologia, um outro uso, que é o uso mais tecnicista. O uso que garanta, simplesmente, que tenha como objetivo a transmissão de uma informação e não de um conhecimento", argumentou Nívea.

A professora da Faculdade de Educação disse que, nessa perspectiva de transmissão de informação, o interesse é muito mais voltado para a "certificação daquele que teve acesso a essa informação, que teve exposto a essa informação, e não uma preocupação com a produção de conhecimento". 

"Acho que deu para perceber que eu estou diferenciando informação e conhecimento. Nesse sentido, a gente pode dizer que o ensino a distância e seu substituto mais usado agora, que é o ensino remoto, que se utiliza dessa expressão 'ensino remoto' buscando um distanciamento da EaD, no fundo [são] duas maneiras de pensar as tecnologias, usar as tecnologias, muito mais atreladas a esse segundo uso das tecnologias, que é uma preocupação com a certificação e muito menos uma preocupação com a produção de conhecimento. Muito menos a preocupação com o tempo para reflexão, o tempo para o embate de ideias, para o debate, para aquele momento em que docentes e discentes se desloquem das suas reflexões anteriores, dos seus preconceitos e produzam um conhecimento novo. De fato isso não está sendo contemplado nessa perspectiva tanto de EaD quanto do ensino remoto", afirmou Nívea.

'Defesa da vida'

Professora do Instituto de Educação de Angra dos Reis, Inny Accioly levantou mais argumentos críticos ao uso do ensino remoto, ou versões com outras denominações, como solução emergencial para pandemia. "É preciso reforçar a ideia de que o professor não é um entregador de aulas. Ele produz conhecimento em articulação com as demandas da sociedade e nesse período da pandemia isso é vital. Porque a função social da universidade pública é colocar a defesa da vida. Da vida de todos e todas, como uma prioridade", disse.

A docente ressaltou o interesse das grandes corporações empresariais em se utilizar da crise sanitária para avançar nos projetos movidos a interesses financeiros. "Nesse momento da pandemia, enquanto as corporações aproveitam para lucrar com a morte, com a destruição de tudo que é público, é o momento em que mais devemos lutar para a defesa da educação pública, autônoma, inclusiva e de qualidade. Então é muito importante a gente afirmar que as aulas remotas não podem substituir as aulas presenciais. Mas que, ao mesmo tempo, é muito importante seguirmos conectados com os nossos estudantes na produção de conhecimentos e na difusão desses conhecimentos. Não devemos aceitar que estudantes sejam deixados para trás. Para isso, é muito importante a garantia de uma renda mínima para estudantes com maior vulnerabilidade, garantia de acesso à internet e equipamentos de qualidade, garantia de apoio psicológico para os estudantes e também para os servidores", defendeu.

Ao defender a universidade pública, Inny defendeu que o futuro dessas instituições não podem estar nas mãos das corporações privadas. "É muito importante afirmar que são os professores, estudantes, os técnicos administrativos, quer dizer, todo o corpo social que compõe a universidade, nas suas instâncias democráticas, que devem retomar a condução do futuro da universidade pública e não os interesses privados e não os reitores interventores, colocados de forma autoritária nas universidades", disse. 

Ambas docentes ressaltaram que as universidades não estão paralisadas, que projetos de pesquisa e extensão estão funcionando - boa parte deles voltados para o enfrentamento da pandemia - e defenderam que se articule mais mecanismos de envolvimento e acolhimento dos discentes neste período de isolamento social.

Acesse aqui para assistir à live da Aduff: Ensino Remoto e a Produção de Conhecimento nas Universidades Públicas 

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

Docentes na live da Aduff: ensino remoto entrega informação à parte dos estudantes, mas não conhecimento Docentes na live da Aduff: ensino remoto entrega informação à parte dos estudantes, mas não conhecimento / Reprodução

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