Jun
01
2020

Protesto denuncia racismo e violência policial no Rio: 606 mortes em 4 meses

Letalidade policial durante o período de isolamento social aumenta e resulta em mortes como a de João Pedro, de 14 anos, assassinado em casa com um tiro de fuzil nas costas 

Manifestação "Vidas Negras e Faveladas Importam", quando em passeata pela rua Paissandu Manifestação "Vidas Negras e Faveladas Importam", quando em passeata pela rua Paissandu / Reprodução vídeo Voz das Comunidades

DA REDAÇÃO DA ADUFF

A faixa que abria a passeata que antecedeu ao ato em frente ao Palácio Guanabara afirmava: "Vidas negras e faveladas importam!". O protesto em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, reuniu algumas centenas de pessoas na tarde do domingo, dia 31 de maio de 2020. A manifestação reage às recentes ações das polícias militar, civil e federal em favelas no Rio, que resultaram em aumento, no período de isolamento social decorrente da pandemia do coronavírus, no já considerado inaceitável número de mortes de crianças e jovens negros nessas regiões. 

As imagens do protesto indicam que todas as centenas de manifestantes usavam máscaras, respeitando os critérios do distanciamento social em vigor. Também lembravam, entre si, a necessidade de manter a distância de segurança entre uma pessoa e outra. Eles chegaram ao Palácio Guanabara caminhando pela rua Paissandu, no Flamengo. "Fascistas, racistas, não passarão", cantaram em muitos momentos, numa referência evidente aos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que vêm realizando atos favoráveis ao golpe militar. Também houve referências à milícia - "Eu não me engano, Bolsonaro é miliciano" - e a defesa do fim da Polícia Militar. A vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018 supostamente por milicianos, também foi lembrada: "Marielle perguntou/Eu também vou perguntar/Quantos mais tem que morrer/para essa guerra acabar".

Os dados da violência policial nas comunidades foram expostos. "No estado do Rio de Janeiro, a polícia matou 606 pessoas em 4 meses deste ano, sendo 290 em março e abril, já durante a Pandemia. 43% há mais do que no mesmo período do ano passado", diz trecho do manifesto "Vidas Negras Importam", divulgado pelo movimento "Favelas na Luta", que denuncia ainda que na véspera do ato mais um jovem negro, Matheus Oliveira, de 23 anos, foi morto pela polícia, nos acessos do Morro do Borel, na Zona Norte do Rio.

Outras vítimas de ações recentes da polícia foram mencionadas, entre elas os jovens João Pedro, de 14 anos, morto em casa, em São Gonçalo, onde foram contados 72 disparos, atingido por um tiro de fuzil pelas costas. Também foram lembradas as mortes de João Victor, na Cidade de Deus, e Rodrigo Cerqueira, na Providência, no Centro do Rio. "Por isso, nós moradores e ativistas de favelas do estado do Rio de Janeiro, nos unimos para dar um basta a essa política que tira nossas vidas. Nos unimos para exigir o fim das operações policiais nas favelas. Nos unimos para exigir o fim do genocídio negro e o fim da militarização da vida!", defende o manifesto.

Inevitável, tanto o ato quanto o manifesto fez referências ao assassinato de George Floyd, homem negro morto ao ser asfixiado por um policial em Minneapolis, nos Estados Unidos. A morte levou a intensos protestos que se estenderam por muitos estados dos EUA e várias cidades no mundo. 

'A gente tem que dar um basta'

Fundadora e coordenadora do Movimento Moleque, que reúne mães de vítimas de violações em instituições socioeducativas, Monica Cunha disse que é preciso reagir. "Vidas negras importam, porque eu não aguento mais chorar. Ou a gente dá um basta agora, ou amanhã você, com a idade que tem, vai estar igual a mim. O meu povo tem que continuar a viver e a gente está aqui para isso. O objetivo é: povo negro vivo. Jovens negros vivos. Mulheres negras não mortas. Viva o povo negro. Viva as mulheres negras", disse. Monica teve um de seus filhos, Rafael da Silva Cunha, morto pela polícia civil do Rio em 2006, aos 20 anos de idade.

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Manifestação "Vidas Negras e Faveladas Importam", quando em passeata pela rua Paissandu Manifestação "Vidas Negras e Faveladas Importam", quando em passeata pela rua Paissandu / Reprodução vídeo Voz das Comunidades

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