Mai
12
2020

Divulgação científica na quarentena: docentes da UFF falam sobre trabalho durante a pandemia

Fenômeno na quarentena, as ‘lives’ se tornaram uma opção para a divulgação científica durante o período de distanciamento social

Embora as universidades estejam com o calendário suspenso por conta da pandemia do novo coronavírus, docentes de todo o Brasil continuam trabalhando de casa, dando seguimento às suas pesquisas e orientando projetos de pesquisa e extensão. Na Universidade Federal Fluminense (UFF) não é diferente. Com o intuito de manter vivo o caráter crítico e questionador das instituições e a divulgação da produção científica, muitos docentes estão apostando nos debates onlines, organizando e participando deles, como uma forma de superar o isolamento e de manter os vínculos com a sociedade, estudantes e colegas de trabalho. 

Para o professor do Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF, Pablo Nabarrete, a divulgação científica nas redes é parte de uma luta que se dá no cotidiano. “É ilusão pensar as redes sociais como um mundo à parte. Não é porque você produz conteúdo que você está sendo ouvido, está sendo visto. É preciso conquistar no cotidiano, nos espaços de formação, nas escolas, para que as pessoas tenham interesse no conteúdo que está sendo produzido”, afirma. Ele também afirma as potencialidades da ferramenta no Brasil e ressalta que o formato das “lives” – recurso de fazer transmissões ao vivo – já tinha bons resultados nas métricas de análises das redes sociais antes mesmo da pandemia, com estudos que demostram o maior envolvimento do público neste formato.

“As pessoas estão em casa isoladas, então é uma alternativa para conseguir manter a comunicação entre nós, as atividades em dia e o contato com o público. Também é interessante ver a reviravolta agora na pandemia, com as grandes redes de comunicação defendendo a pesquisa pública. Desde o início do governo Bolsonaro, testemunhamos muitos ataques à ciência, com a negação do conhecimento, mas somos nós que estamos no front da luta contra a Covid-19. O desafio é aumentar nosso alcance, mostrar a importância do que é produzido na universidade e divulgar isso de uma forma atraente e acessível”, pondera.

Professora do Instituto de Educação Física da UFF, Elizandra Garcia afirma que as atividades online durante a pandemia têm ajudado no compartilhamento dos anseios e das produções acadêmicas, especialmente num período em que o trabalho tem sido marcado pelo isolamento, pelo medo do adoecimento e pelas incertezas. 

“Tenho feito reuniões com meus alunos, participei de uma live sobre circo e devo participar de mais uma no dia 15, que vai discutir as pessoas que vivem das atividades circersenses e da arte de rua e que não estão conseguindo ter acesso ao auxílio de 600 reais. Os debates online têm sido uma forma de levantar questões importantes, mas sem confundir isso com a defesa do ensino à distância. Não se faz ensino, pesquisa e extensão sem a presença do professor mediando um conhecimento produzido historicamente pela sociedade. Não vejo a hora de levar o que está dando para ser feito agora para nossos espaços presenciais, com toda a energia possível”, destaca a docente.

Ela ressalta ainda que desde antes da pandemia os docentes já trabalhavam muito de casa. “Além de trabalharmos muito presencialmente, a gente está o tempo inteiro respondendo email, whatsapp, subindo nossos textos no google drive, postando alguma coisa na página do projeto nas redes sociais. As atividades online realizadas durante este período da pandemia também tem me ajudado a enxergar como já estávamos fazendo isso antes, característica da uberização do trabalho, que se aprofundou ainda mais com a pandemia do coronavírus”, analisa.

Durante a quarentena, o professor de Geografia Urbana da UFF, Márcio Piñon participou pela primeira vez de um debate online, organizado pelo Coletivo Diálogos Suburbanos, que criou o canal “Papo de Subúrbio”, durante o isolamento social. “Os criadores do canal são do meu grupo de pesquisa. Em situação normal, teríamos organizado um debate ao vivo na universidade”, pontua. O docente também fala sobre a rotina de trabalho em casa. 

“O tempo da pesquisa ganhou um outro sentido com a interrupção das aulas na universidade. Temos nos dedicado incrivelmente mais e acompanhado à distância o andamento de atividades de produção de trabalhos, de textos elaborados pelos alunos. No Brasil, o que temos visto é a presença das universidades, em especial da universidade pública, na luta incansável para a superação desse momento de pandemia, na busca da cura e de caminhos que possam amenizar essa grande tragédia que estamos vivendo. É inegável o papel ativo das nossas universidades, núcleos, laboratórios e centros de pesquisa”, reitera. 

Durante o período de isolamento social e com sua sede fechada, a Aduff-SSind está organizando duas transmissões ao vivo por semana. Às quintas-feiras, às 16h, convida docentes da UFF para debater temas da conjuntura e aos domingos promove um cineclube online, seguido de debate com diretoras e diretores da obra. 

“Começamos as transmissões ao vivo desde os primeiros dias da quarentena porque entendemos que ficaríamos assim por um bom tempo, a partir do que foi dito pelas autoridades sanitárias e especialistas em saúde pública da UFF. É um momento importante de tentar manter contato com a sociedade, uma vez que o governo Bolsonaro insiste em ideias anticientíficas que colocam em risco a vida da população, e ao mesmo tempo, usa a pandemia como desculpa para tentar aprovar projetos que retiram direitos dos trabalhadores. Também sabemos como é pesado o distanciamento social para a saúde mental de todos nós. Pensamos as transmissões ao vivo como um espaço para estar mais perto dos nossos colegas”, finaliza a presidente da Aduff-SSind, Marina Tedesco. 

Da Redação da Aduff | Por Lara Abib

Additional Info

  • compartilhar: