Out
25
2019

"O mundo inteiro sabe o significado do 'Ele Não'", diz Angela Davis no Rio

A professora, ativista e feminista negra norte-americana pediu justiça por Marielle Franco e afirmou não haver democracia sem a participação das mulheres negras.

A voz de Angela Davis – intelectual, feminista e ativista norte-americana de 76 anos – foi ouvida pela plateia que lotou a sala do Cinema Odeon, no último dia 23, para vê-la ser laureada com a medalha Tiradentes – a principal honraria do Estado do Rio de Janeiro, recebida das mãos da deputada Renata Souza (Psol) e da jovem Luyara Franco, filha de Marielle Franco. Olhos atentos ainda ao telão, montado na Praça Cinelândia, que projetava o discurso da ‘Pantera Negra’ ao abrir a 12ª edição do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, que ocorre entre os dias 23 e 3 de novembro na cidade. 

Ecoou também pelas ondas da internet, já que o evento contou com transmissão ao vivo para as milhares de pessoas que aguardavam por ouvir o ícone do abolicionismo penal, da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos e do feminismo negro. Contou com os comentários da escritora Conceição Evaristo e com a mediação da jornalista Flávia Oliveira. Dias antes, Angela esteve em São Paulo para lançar sua autobiografia, participar de um curso e um ciclo de conferências organizado pela Editora Boitempo.

“A Liberdade É uma Luta Constante” foi o tema enfatizado por Angela, que afirmou estar emocionada em visitar a cidade de Marielle Franco, a vereadora brutalmente assassinada há dois anos, cujo crime permanece sem solução. “Mais do que a cidade do carnaval, do samba e da ‘Garota de Ipanema’, o Rio de Janeiro é também a cidade das favelas”, disse a professora da Universidade da Califórnia ao afirmar ter se identificado com a luta das pessoas que moram nas comunidades. “Desde que o nome de Marielle começou a repercutir em todos os continentes, eu gostaria de me juntar a família dela e ao Instituto Marielle Franco para exigir por justiça. Quem mandou assassinar Marielle, quem ordenou o assassinato?”, indagou. 

De acordo com Angela, os mandantes do assassinato devem ter em mente que  ao contrário de uma possível intimidação e arrefecimento da luta, “outras Marielles” têm se levantado contra o racismo, a homofobia, a militarização da polícia, o encarceramento em massa; têm se juntado aos Sem Terra e aos Sem Teto. “Quando tiraram a vida de Marielle, muitas outras assumiram o seu lugar”, complementou Angela, sem esquecer-se de citar várias outras mulheres que antecederam a força simbólica de Marielle – Carolina de Jesus, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Conceição Evaristo e outras. “Tenho sido tão profundamente inspirada pelas mulheres negras no Brasil, pelo seu comprometimento, luta, trajetórias históricas, contribuições intelectuais”, afirmou. 

Segundo a ativista, no momento em que estão em fluxo forças conservadoras no mundo, em especial voltando-se para o caso do Brasil e dos Estados Unidos, é preciso ter coragem para enfrentar os retrocessos e permanecer em resistência. “Todo o planeta sabe o significado de 'ele não'”, disse Angela, endossando críticas ao atual governo e defendendo a libertação do ex-presidente Lula. 

“Quando consideramos as lutas históricas engajadas pelas mulheres negras, reconhecemos que não pode haver democracia sem a participação das mulheres negras. Mulheres negras representam toda a comunidade negra, a comunidade pobre que sofre exploração econômica, de gênero, opressão e violência racista. Representam LGBTs e índios, representam todos que estão presos nesta rede terrível do complexo industrial global carcerário. Quando uma mulher negra se ergue, o mundo se ergue conosco”, disse sob aplausos.

Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco/ Aduff-SSind 

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