Set
24
2019

Dois atos na mesma noite exigem o fim da política autoritária que leva a mortes como a de Ágatha

Manifestações na Alerj - “Parem de Nos Matar” - e na Faculdade de Direito - “#MoroMente” - criticam política de segurança adotada pelos governos estadual e federal; na UFF, oradores lembraram que autoritarismo tenta calar o outro, seja com censura ou com crimes bárbaros cometidos pelo Estado

 

Por diversas vezes a morte de Ágatha, a menina de 8 anos assassinada no Complexo do Alemão, na sexta-feira (20), durante uma ação policial, foi mencionada no ato ˜MoroMente˜.

Quando o ato na Faculdade de Direito da UFF, no Ingá, em Niterói, começou, por volta das 19h30min, a manifestação que pedia justiça para Ágatha e todas as vítimas de operações policiais nas favelas, ainda acontecia do outro lado da Baía de Guanabara, em frente à Assembleia Legislativa, no Centro do Rio de Janeiro. Ao falar pela Associação Brasileira de Juristas Pela Democracia (ABJD), principal organizadora do ato, Marcelo Nogueira lamentou o assassinato que comoveu o Rio de Janeiro e o país e pediu um minuto de silêncio em sua memória.

Pouco antes, a professora Marina Tedesco, presidente da Aduff-SSind (Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense - Seção Sindical do Andes-SN), também havia mencionado o caso e ressaltado como os dois atos que aconteciam naquela noite no Rio de Janeiro representavam lutas contra diferentes facetas de uma mesma política arbitrária e violenta contra quem se oponha a ela. “O dia de hoje foi todo um dia de luta. Estivemos o dia todo envolvidos com esse evento, que a gente não queria só que ele fosse realizado, mas queria que ele fosse realizado aqui, dentro da Faculdade de Direito, nesse local que historicamente representa tanto para a resistência na Universidade Federal Fluminense. Mas também é um dia de luta do outro lado da Baía, é um dia de luta na Alerj, em decorrência do assassinato brutal da Ágatha, que representa tantos assassinatos que têm ocorrido com a política desse e de outros governos que estão por aí, mas estão por aí por enquanto”, disse a docente.

À reportagem, Marina observou que está em curso uma “política de extermínio daquele que é considerado o outro” de várias maneiras. Em um território como o de uma comunidade, disse, essa política se expressa como no assassinato de Ágatha e de tantas outras vítimas da violência dos aparelhos de repressão do Estado. “O assassinato de uma criança que é um símbolo de vários assassinatos que estão ocorrendo esse ano, em que o número de assassinatos no Rio de Janeiro disparou. Mas [essa política] também tenta silenciar esse outro onde ele esteja, como censurando um evento dentro da universidade. Então a gente não pode pensar isso de forma desarticulada, são diferentes facetas que são direcionadas a diferentes segmentos da sociedade, mas que fazem parte de uma mesma política autoritária”, afirmou.

Os parlamentares de vários partidos da esquerda que participaram do ato na Faculdade de Direito chegaram mais tarde porque participavam, antes, do protesto na capital fluminense. “Também vim lá do ato em memória de Ágatha, e é difícil começar com boa noite num Rio de Janeiro marcado por sangue, marcado por retrocesso democrático que, lamentavelmente, também nos acompanha nacionalmente”, disse a deputada federal Taliria Perrone (Psol-RJ). “A gente sabe que a democracia brasileira é jovem, incompleta, nunca tinha chegado plenamente nas favelas, na periferia, nos presídios. Mas lamentavelmente aquela democracia que a gente queria aprofundar, queria radicalizar, queria ampliar, tem dado passos largos para trás”, lamentou.

Morte aos 8 anos

Ágatha Vitória Sales Félix estava com familiares numa kombi, na Fazendinha, no Complexo de favelas do Alemão, quando foi atingida por um tiro de fuzil. Foi levada ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não sobreviveu. O tiro que a matou tão jovem gerou dor e revolta e ecoou por todo o país. Na manhã seguinte, a hashtag "#ACulpaEDoWitzel" se tornou o assunto mais comentado do Twitter no Brasil. O governador defende liberdade para policiais atirarem contra supostos suspeitos que supostamente portem armas. Apenas 72 horas após o ocorrido, Witzel declarou que lamentava a morte da menina, mas disse que as operações policiais estavam sendo um sucesso. Ao longo do ato na Faculdade de Direito, reiteradas vezes foi defendida a prisão do governador por responsabilidade nos crimes cometidos pela Polícia Militar no Rio.

A atividade que o Ministério da educação tentou impedir que acontecesse lotou o Salão Nobre da faculdade. Muita gente não conseguiu entrar, um telão foi instalado numa sala no andar de baixo. A decisão da Reitoria de proibir o ato, alegando que seguia solicitação do MEC para que o ato classificado pelo governo como político-partidário não fosse realizado e a um parecer da Procuradoria, foi derrubada na Justiça. Mandado de segurança ajuizado pela ABJD - em parceria com a Aduff-SSind, o diretor da Faculdade de Direito da UFF, Wilson Madeira Filho, e o professor Rogério Dultra -, obteve liminar favorável na Justiça Federal em Niterói.

DA REDAÇÃO DA ADUFF | Por Hélcio Lourenço Filho

fotos:
Ato "#MoroMente", na Faculdade de Direito da UFF, em Niterói
autor: Luiz Fernando Nabuco - Aduff-SSind

Ato na Alerj, no Centro do Rio - "Parem de Nos Matar" -, por justiça para Ágatha e pelo "fim da política de genocídio"
autor: Samuel Tosta - especial para a Aduff-SSind

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