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Mai
09
2019

Em defesa da UFF e da educação pública, Niterói faz uma das maiores passeatas de sua história

Manifestação também rejeitou reforma da Previdência e retrocessos sociais e democráticos 

“A cidade de Niterói assistiu uma enorme manifestação em defesa da Universidade pública. Em meus 30 anos de UFF, digo que foi a maior passeata que vi”, resumiu a docente do curso de Arquitetura e Urbanismo, Louise Lombardo, ao comentar a magnitude do ato "Eu Defendo a UFF", que parou o Centro da cidade na noite da quarta-feira (8).

Diferentes gerações de professores, técnicos, trabalhadores terceirizados e estudantes – da educação básica à pós-graduação – marcharam em defesa da UFF, da Educação Pública e contra a política de cortes de verbas promovida pelo governo de Jair Bolsonaro. “O povo aplaudia das janelas e calçadas”, lembra Louise.

Para o professor Maurício Vieira Martins, do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais, a manifestação foi plural. “O ato mostrou a diversidade da UFF, de pensamento, de orientações políticas - o que é muito diferente de uma imagem interesseira e que não corresponde a nossa realidade”, afirmou. “A UFF é um lugar de muita pesquisa e de muito trabalho, que consegue colocar em movimento ideias e pessoas diferentes”, complementou Maurício ao acompanhar os protestos.

As manifestações contra a política de contingenciamento de verbas da Educação não se restringiram ao campus de Niterói. Houve atos significativos reunindo a comunidade da UFF em todos os campi fora de sede: Campos dos Goytacazes, Santo Antônio de Pádua, Angra dos Reis, Rio das Ostras, Volta Redonda, Friburgo e Macaé. 

Dia 15 vai ser maior

De acordo com o diretor da Aduff e docente da Faculdade de Educação, Reginaldo Costa, os protestos têm significado muito positivo por evidenciar que a Universidade é o espaço produtor de conhecimento, ciência, tecnologia, formação profissional. “Em Niterói, o ato unificou a comunidade: trabalhadores terceirizados sofrendo profundamente com o corte de salários, docentes e estudantes. Houve a participação de diversos agrupamentos políticos, partidos de esquerda, movimentos sociais, apoiadores. Colocamos mais de dez mil pessoas na rua”, avaliou.

O impacto dos protestos repercutiram em universidades de todo o país e sinaliza a possibilidade de construção de um grande ato conjunto da educação para o dia 15 de maio. Nesta data, haverá protestos por todo o país em defesa da educação pública e contra a reforma da Previdência Social que Bolsonaro e setores empresariais tentam aprovar no Congresso Nacional.

Os docentes da UFF já decidiram, em assembleia descentralizada em abril, parar por 24 horas nesta data. A mobilização integra o calendário de preparação da greve geral convocada pelas centrais sindicais e movimentos sociais e políticos para o dia 14 de junho, em defesa dos direitos previdenciários, ameaçados pela PEC-6.

“Consolidamos um calendário de mobilizações que vai desembocar no dia 15 de maio, data da ‘Greve Nacional da Educação’, por 24horas; e na ‘Greve Geral’ que está sendo construída para 14 de junho. O corte na Educação, a Reforma da Previdência e todas as medidas de perseguição que vêm acontecendo contra o pensamento crítico e as liberdades de cátedra estão na pauta deste movimento que abre para a sociedade a importância de nos posicionarmos”, diz o diretor da Aduff.     

Reginaldo Costa lembra ainda que integrantes da comunidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UniRIO, e da Fundação Osvaldo Cruz também se somaram à passeata, que teve início ainda no campus do Gragoatá para, em seguida, percorrer a avenida Visconde do Rio Branco, a rua da Conceição, a avenida Amaral Peixoto – encerrando uma passeata acalorada em frente a Estação das Barcas.

Para a professora Jacqueline Botelho, da Escola de Serviço Social, toda a comunidade acadêmica se reuniu em resposta ao governo, que desrespeita o projeto de uma Educação pública e democrática. “Isso nos mostra como devemos construir a Universidade Pública, que é o espaço do diverso, do ensino, da pesquisa e da extensão. É nas ruas que construímos a Universidade Pública, democrática, de qualidade, como os segmentos reunidos, para consolidarmos um projeto de Greve Geral bastante fortalecido”, avaliou.

O técnico-administrativo Gerson Dias concorda com Larissa. Ele diz que nenhum dos países desenvolvidos no mundo conseguiu avançar sem grandes investimentos em ciência, tecnologia e educação. “O corte que o governo está promovendo será em todos os níveis da educação e não só no ensino superior. É condenar o país ao subdesenvolvimento eterno”, asseverou.

“Bolsonaro é o retrocesso em tudo. Esse espírito atrasado quer destruir a educação e a ciência para que o país deixe de ser um produtor de conhecimento, para ser mero consumidor”, complementou o servidor.

Heloísa Helena, que durante décadas atuou como técnica-administrativa no Hospital Universitário Antônio Pedro, disse ter ido ao ato para exigir, junto com os professores e os estudantes, que o governo não retire mais nenhuma verba da educação. “Estamos em solidariedade; sou aposentada desta Universidade, trabalhei muito no Huap – vi a precarização avançar ao longo dos anos; agora, estamos aqui na luta em defesa da UFF porque o Bolsonaro não pode fazer isso contra a Educação”, afirmou.   

Sementes

“Governo tem medo de estudante na rua, mas não é porque estamos cursando o Ensino Médio que não nos reconhecemos como UFF; é nossa identidade e vamos lutar por ela”, disse Iasmin Vale, secundarista e presidente do Grêmio Estudantil Colégio Universitário Geraldo Reis, o Coluni.

Ela era uma dos muitos alunos da escola que abriram a passeata, com faixas e cartazes em defesa da Educação Pública, saudando a urgência de a comunidade participar das ações de enfrentamento a uma política que aprofunda o sucateamento do ensino público.

Priscila, mãe da Ana Clara, aluna do 6º ano do Coluni, acompanhava a filha de dez anos que empunhava cartaz com os dizeres: “Família Coluni em defesa da UFF". A mãe de Ana Clara criticou o governo e afirmou que a Universidade não pode fechar: “O futuro está aqui, na Educação, na UFF”, considerou.

Maria Cecília Castro, professora do Coluni e mãe de uma aluna da escola, afirmou ter participado do ato porque acredita na Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade. “A UFF é nossa; não é de governo algum. Vamos lutar e não vamos nos calar para garantir Educação de Qualidade para os nossos jovens e as nossas crianças”, disse emocionada.

Próximas mobilizações 

Dia 15 de Maio de 2019
Dia Nacional de Paralisação em Defesa da Educação Pública e da Previdência Social

=Ato 'Eu Defendo a UFF' das 10h às 14h, na Praça Araribóia, com exposição de trabalhos de extensão e pesquisa desenvolvidos pela comunidade acadêmica da UFF;
=Ato unificado na Candelária, no Rio, com concentração às 15 horas para saída às 1h, rumo à Central do Brasil.


Dia 14 de Junho de 2019
Greve Geral contra a reforma da Previdência de Bolsonaro, convocada pelas centrais sindicais a ser construída nas diversas categorias.

Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco/ Aduff