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Abr
26
2019

"Governo quer educação instrumental, voltada exclusivamente para mercado de trabalho", diz presidente da Aduff

Diretora da seção sindical dos docentes da UFF criticou as declarações de Jair Bolsonaro e de Abraham Weintraub sobre os cursos de Filosofia e de Sociologia. 

Abraham Weintrab (E) em live com Jair Bolsonaro Abraham Weintrab (E) em live com Jair Bolsonaro / (Reprodução/Youtube)

Esse tipo de proposta vinda do governo Bolsonaro não nos surpreende porque vai na mesma direção do que pregam os mentores do modelo de Educação defendido pelo movimento 'Escola Sem Partido'; querem uma Educação instrumental, voltada exclusivamente para o mercado de trabalho e que não oferece aos educandos a possibilidade do desenvolvimento de um pensamento crítico que faz com que as pessoas tornem-se cidadãos e cidadãs conhecedores e reivindicadores dos seus direitos, que tenham participação ativa nos processos de mudança social", disse a presidente da Aduff-SSind, Marina Tedesco, ao comentar mais uma das declarações da presidência da República. 

Desta vez, o presidente tuitou o seguinte: "O Ministro da Educação @abrahamWeinT estuda descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas). Alunos já matriculados não serão afetados. O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina". Jair Bolsonaro referendou a declaração de Abraham Weintraub, hoje à frente do MEC, que disse que o Brasil reduzirá investimentos públicos em cursos da área. Segundo o novo ministro, apenas a elite do país se interessa por essas áreas de estudo. “Pode estudar Filosofia? Pode. Com dinheiro próprio”, afirmou o Ministro da Educação do Brasil. De acordo com o governo, o objetivo será, portanto, “focar” em áreas como veterinária, engenharia e medicina - mais rentáveis, nas palavras do chefe do Executivo, para quem o dinheiro do contribuinte deve estar voltado para a 'leitura, escrita e fazer conta'. 

A medida gerou reações negativas entre acadêmicos e representantes de entidades educacionais, pois, de acordo com o que afirmam, está em curso um projeto de da mecanização de vidas e automatização do pensamento; de perpetuação do poder e o estabelecimento de uma sociedade retrógrada e violenta sob o falso argumento de 'pleno emprego'. "Quem defende o preconceito e o extermínio do outro tem interesse em uma Educação que não seja emancipadora, mas sim acrítica e voltada exclusivamente para o mercado de trabalho", disse a presidente da Aduff, Marina Tedesco. 

A Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) criticou, com veemencia, as declarações de Jair Bolsonaro e de Abraham Weintraub. "Decretar e/ou estimular o fim do ensino e da pesquisa em sociologia, como de resto nas ciências sociais e nas humanidades, é estimular e promover o isolamento internacional do país frente ao que se faz de mais avançado em todos os campos da ciência pelo mundo. (...) A SBS conclama também a sociedade brasileira a defender a liberdade de pensamento e de pesquisa, a preservação do diálogo acadêmico entre as diversas áreas do conhecimento, ou seja, o intercâmbio intelectual entre as ciências naturais, as áreas tecnológicas e as áreas das humanas, para construir em conjunto conhecimentos científica e socialmente relevantes para uma sociedade moderna e solidária como esperamos que seja o Brasil", diz em nota.

A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) e Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) também reagiram às declarações do governo. 

O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - Andes-SN emitiu nota criticando a medida. Para a diretoria do Andes-SN, "a solução proposta é a destruição da formação humana, a redução das possibilidades de escolha para o(a)s jovens da classe trabalhadora. O ataque contra a filosofia, a sociologia e outras áreas das ciências humanas é parte da suposta “guerra cultural” alimentada pelo presidente, por gurus obscurantistas e fundamentalistas religiosos, que hoje buscam uma educação domesticadora, tecnicista e anti-intelectual".

Clique aqui para ler a nota do Andes-SN na íntegra. 

Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira

Abraham Weintrab (E) em live com Jair Bolsonaro Abraham Weintrab (E) em live com Jair Bolsonaro / (Reprodução/Youtube)

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