Abr
26
2019

Com salário ainda atrasado e medo de demissão, terceirizados da Croll temem o futuro na UFF

Assembleia esteve esvaziada porque trabalhadores terceirizados temem perder o emprego se protestarem. Em um grupo de trabalhadores da Croll no ‘Whatsapp’ circulou o informe de que 21 funcionários ligados à empresa seriam demitidos nos próximos dias por terem se mobilizado. 

Manifestação de terceirizados, no campus da UFF no Gragoatá, em abril de 2019 Manifestação de terceirizados, no campus da UFF no Gragoatá, em abril de 2019 / Luiz Fernando Nabuco/ Aduff

“Conta de luz, escola do filho, despensa vazia... Está tudo nas costas do meu esposo. Ele é quem está nos sustentando. Eu tenho esta sorte, mas tem gente que não tem essa forma de resolver a vida; há muitas mulheres que mantém a casa sozinha e sem outra renda”, explica uma das funcionárias terceirizadas que atua em um dos campi da UFF. Ela pediu o anonimato para evitar represálias. Está nas estatísticas, pois, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) há 12,7 milhões de trabalhadores terceirizados no país.

A moça é uma das funcionárias vinculadas à “Croll - Empreendimentos Comerciais e Serviços” que tem contrato para atuar na Universidade. Até o fechamento desta edição, ela era mais uma das muitas trabalhadoras que não havia recebido o pagamento do salário de março, que deveria ter sido creditado até o quinto dia útil de abril. O vale-alimentação também estava atrasado. A passagem tem sido paga parceladamente, considerando o deslocamento dos trabalhadores por semana.

“Bate desânimo total. Muitas pessoas estão indo embora sem receber seus direitos. Alguns trabalhadores querem sair, mas eles [da empresa] nos deixam acuados dizendo que a gente vai ficar com uma ‘mão na frente e outra atrás’”, explica uma trabalhadora.

Desde a década de 1990, as empresas que terceirizam os serviços tornaram-se realidade no país, expandindo-se ao longo do tempo em diferentes campos profissionais, apesar de a terceirização ser considerada uma forma precarizada de contratação.

O trabalhador terceirizado em geral recebe salários menores, têm menos benefícios, maiores jornadas, piores condições de trabalho, sofre mais com a rotatividade da mão de obra, são as principais vítimas de acidentes laborais e ainda frequentemente remanejados para novos postos de atuação. Necessário ainda mencionar os relatos frequentes de atrasos no pagamento dos salários e o desamparo por ocasião do encerramento dos contratos entre a firma terceirizada e a instituição contratante.

Há dois anos, o governo do então presidente Michel Temer (MDB) obteve aprovação para um projeto de lei (nº 13.429, de 31/03/2017) que permite a terceirização em todos os postos de trabalho.  A lei que possibilita a terceirização irrestrita das atividades laborais aliada à nova reforma trabalhista que reduz direitos historicamente conquistados tornam-se ainda mais penosas para os brasileiros em face da atual conjuntura, que se caracteriza por alto índice de desempregados ou de trabalhadores que operam no mercado informal, segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Todos esses componentes não garantem o direito de possam se manifestar por sem risco de perder o emprego. “Tentamos fazer uma paralisação na UFF em meados de abril por conta desta situação, mas a Croll está ameaçando todo mundo de demissão”, contou a funcionária. “Então, nossa manifestação não foi para a frente apesar de termos feito passeata lá no prédio da Reitoria”, diz.

Ameaças

Outra fonte conta à reportagem que os atrasos sempre foram frequentes, mas que se agravaram a partir do final de 2018.  “Agora, eles têm sido maiores do que os que aconteciam anteriormente. Era difícil o salário cair no quinto dia útil.  Mas começamos a ter problemas também com o vale-alimentação”, conta.

Segundo a trabalhadora, a empresa não notifica quando será feito o depósito; diz que aguarda repasse da UFF, que também não se pronuncia.

"Não é a primeira vez que isso acontece. A Croll está abusando e até agora ninguém da UFF se pronunciou sobre o pagamento atrasado. É um jogo de empurra, de lá para cá. O vale-alimentação nos dá uma ajuda. Mas nem isso tá saindo. A situação está muito difícil", disse.

Em um grupo de trabalhadores da Croll no ‘Whatsapp’ circulou o informe de que 21 funcionários ligados à empresa seriam demitidos nos próximos dias por terem se mobilizado. Essas pessoas seriam notificadas por telefonemas. Na assembleia realizada no dia 16 de abril praticamente não havia trabalhadores terceirizados. “Estamos completamente coagidos e a mercê da empresa. Está subentendido que se nos manifestarmos seremos demitidos. Estamos trabalhando sem salários”, afirmou.  

Solidariedade

De acordo com os trabalhadores ouvidos pela reportagem, há entre eles colegas que buscam sistematicamente uma “renda extra” diante da incerteza do pagamento dos salários. Há quem, nas horas de folga, faça unha, faxina, segurança particular. Outros vendem produtos de beleza em catálogos.

“Não dá para se sustentar com isso; dá pra pagar um pão, uma coisinha ou outra. Mas o que eu vou te dizer? Não recebi, não pago; as contas ficam todas em atraso, a gente depois pagando os juros”, lamentou. “Somos feitos de otários, porque a gente trabalhou”, complementou.

A trabalhadora conta à reportagem que, nesses casos, ainda existe uma rede de apoio entre os funcionários da empresa. "Não temos muito, mas tentamos ajudar o outro que tem filho pequeno e não tem outra renda que seja o salário da Croll. Estamos nos dividindo ", revela.

Silêncio

A reportagem da Aduff-SSind tentou contato com a Reitoria da UFF. Até a publicação do texto não havia recebeu as informações detalhadas sobre a quantidade de trabalhadores terceirizados na Universidade hoje; a quantidade de contratos e os valores com as respectivas empresas prestadoras de serviço. 

Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira

Manifestação de terceirizados, no campus da UFF no Gragoatá, em abril de 2019 Manifestação de terceirizados, no campus da UFF no Gragoatá, em abril de 2019 / Luiz Fernando Nabuco/ Aduff

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