Abr
08
2019

Troca mantém MEC contra educação pública e democrática, afirmam Andes e Aduff

Defensor do Escola Sem Partido, Vélez é demitido e substituído por economista do mercado e também conservador Abraham Weintraub

Troca mantém MEC contra educação pública e democrática, afirmam Andes e Aduff / Rafael Carvalho/Divulgação Casa Civil Brasília

“Lamentável que uma pasta tão importante do governo, responsável pela Educação, esteja sofrendo tanto com o desgoverno”, disse a professora Eblin Farage, atual Secretária Geral do Andes-SN, ao comentar a substituição feita por Jair Bolsonaro (PSL), nesta segunda-feira (8), no Ministério da Educação – MEC. O colombiano Ricardo Vélez, público defensor do movimento ‘Escola Sem Partido’, foi destituído da função de Ministro que agora passa a ser ocupada pelo economista Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub. Ele assume a direção mantendo o mesmo perfil ideológico afinado com o conservadorismo e os princípios privatistas defendidos por Bolsonaro e sua trupe. “A substituição dos ministros não representa nenhum ganho de qualidade para o projeto de Universidade Pública que defendemos”, enfatiza a docente, que também é ex-presidente do Sindicato Nacional.

O troca-troca no Ministério foi cena recorrente nestes cem primeiros dias de governo do PSL. O MEC protagonizou uma sequência de exonerações nos principais cargos de chefia em proporções provavelmente inéditas no órgão. Pela secretaria-executiva, segundo cargo da pasta, já foram quatro os nomeados ou anunciados, sendo que alguns caíram antes mesmo da posse. A tensão envolvia a disputa entre militares, quadros técnicos e nomes ligados ao escritor ultraconservador Olavo de Carvalho – mentor do clã Bolsonaro e responsável pela indicação de Vélez à pasta. 

Além disso, o Ministério da Educação também foi assunto ao eleger como “prioridades” enviar carta às escolas solicitando filmagem das crianças cantando o Hino Nacional e a difusão do slogan de campanha de Bolsonaro. Outra iniciativa criticada é a constituição de uma comissão para avaliar as questões do Banco Nacional de Itens do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, alvo de questionamento do Ministério Público Federal.

“O Ministério da Educação deveria ser considerado estratégico para o país, portanto pensado de forma estratégica, com equipe qualificada para serem gestores de uma educação voltada para a emancipação humana e não para a alienação”, analisa Eblin.

Escola Sem Partido

O novo ministro da Educação, Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub, é conhecido por – assim como seu predecessor e o próprio Jair Bolsonaro – elogiar o ensino apartado da perspectiva crítica.  Em outra ocasião, ele defendeu o combate ao “marxismo cultural nas universidades”, disse ser leitor voraz da Bíblia.

Abraham Weintraub é graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo, e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ao contrário do que Jair Bolsonaro divulgou no Twitter, o novo Ministro não é doutor e, sim, mestre em Administração na área de finanças pela Fundação Getúlio Vargas.

Antes de assumir o MEC, Weintraub era secretário-executivo da Casa Civil, pasta sob o comando de Onyx Lorenzoni (DEM). Anos antes, teve cargo executivo no mercado financeiro.

Para Marina Tedesco, presidente da Aduff-SSind, a saída de Vélez para a entrada de Weintraub foi uma estratégia que, na prática, poderia ser definida como “trocar seis por meia dúzia”, já que mais uma vez a escolha do governo foi ideológica e não técnica.  “Há bastante tempo temos denunciado que os simpatizantes do “Escola Sem Partido”, na prática, querem é um projeto de um partido único, sem a possibilidade de pensamento crítico – negando a História, refutando perspectivas no campo da Ciência – para promover apenas a ideologia que defendem", disse a docente do curso de Cinema na UFF.

Além disso, a presidente da Aduff destaca a proximidade do atual ministro com interesses corporativistas no mercado financeiro, sobretudo no momento em que um dado projeto de Educação está em disputa. “Seguimos na luta em prol de uma educação pública de qualidade e contra a precarização do trabalho docente. E vimos que a escolha de Bolsonaro por este ministro, num momento em que o governo aprofunda a política de contingenciamento na área, sinaliza um aceno àqueles que defendem a Educação como mercadoria, de acordo com a lógica privatista; àqueles que pretendem alargar ainda mais a distância entre o ricos e pobres”, complementa Marina.

Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira
Foto: Rafael Carvalho/Divulgação Casa Civil Brasília, em destaque, o novo ministro da Educação 

 

Troca mantém MEC contra educação pública e democrática, afirmam Andes e Aduff / Rafael Carvalho/Divulgação Casa Civil Brasília

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