Mar
31
2019

Ato repudiará golpe de 1964 e defenderá liberdades democráticas e direitos sociais

'Ditadura nunca mais': manifestação neste domingo (31), em referência aos 55 anos do golpe que levou a duas décadas de ditadura, está prevista para começar às 15h, na Cinelândia, no Centro do Rio 

 

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Ao tentar usar a estrutura do Estado para comemorar o 55° aniversário do golpe de 1964, que jogou o país em duas décadas de uma ditadura empresarial-militar, o presidente Jair Bolsonaro teve como resposta a convocação de atos, manifestações e a publicação de incontáveis textos e mensagens nas redes sociais, que denunciam os horrores do período ditatorial. 

Neste domingo, 31 de março, haverá ato na Cinelândia, a partir das 15 horas. A mobilização em curso também pede que as pessoas vistam preto e estendam faixas desta cor nas fachadas de casa neste domingo, em sinal de protesto e de repúdio à ditadura. A Aduff-SSind participará.

Bolsonaro diz que não existiu ditadura no Brasil, apesar dos 25 anos sem eleições diretas, com censura sobre todos os meios de comunicação, quebra das liberdades democráticas, intervenções em sindicatos e fechamento de entidades estudantis, expurgos nas comunidades acadêmicas e nos órgãos públicos, somados a casos sistemáticos de tortura, assassinatos e desaparecimento de ativistas que se opunham ao governo. 

Denúncias de corrupção e irregularidades também estavam entre os assuntos censurados. Ao apresentador de tevê Datena, da Band, a quem deu entrevista pouco depois de ordenar as comemorações, Bolsonaro insistiu em dizer que não houve ditadura, apesar das reiteradas contestações do entrevistador. Ao final, disse que o período teve alguns “probleminhas”, mas nada significativo que justifique chamar o regime ditatorial.

O presidente da República determinou, inicialmente, que a data que o comando militar trabalha como de derrubada do governo civil, 31 de março, fosse marcada por comemorações nos quartéis. Posteriormente, após a repercussão negativa, inclusive internacional, disse que a orientação era para que o episódio fosse ‘rememorado’. 

Em Brasília, uma juíza federal acatou pedido da Defensoria Pública e proibiu as comemorações. A liminar, entretanto, foi cassada por uma desembargadora do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, após recurso da Advocacia-Geral da União. 

Nota da Aduff

A Aduff-SSind divulgou nota na qual condena a decisão do presidente e reafirma o repúdio ao golpe empresarial-militar e aos anos de arbítrio, tortura e mortes. "A herança da violência desencadeada e estruturada a partir do golpe de 64 se faz sentir ainda hoje todos os dias nas favelas, nos presídios, nos corpos negros, no das mulheres e de LGBTQI+. Nestes tempos em que o autoritarismo se torna ainda mais vivo e visível em nossa sociedade, em que professoras e professores são ameaçados e afastados por estimularem o pensamento crítico, urge repudiar que o Estado brasileiro promova este tipo de comemoração. Essa nota, além de repudiar a ideia estapafúrdia do presidente, vem se solidarizar com professores e professoras da UFF que foram perseguidos durante os anos de chumbo e também com a família de nosso ex-aluno Fernando Santa Cruz, assassinado pelo regime de exceção dos militares! Toda solidariedade àqueles e àquelas que lutam! Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!", diz trecho do documento.

Nas redes sociais, muita gente se manifestou por conta da determinação presidencial. A professora Renata Correa, da rede municipal de Niterói, postou no Facebook a foto de seu avô, que disse não ter conhecido em decorrência da ditadura instalada no país. “Sobre comemorar o golpe de 64: este é José Carlos, conhecido como China. Militante do PCB, dirigente sindical, preso pela ditadura empresarial-militar. A ditadura me impediu de conhecer meu avô! Nossa família não tem nada a comemorar! A nossa e a de milhares de presXs, torturadXs e mortXs nos porões da ditadura. O país não tem nada a comemorar. Xs trabalhadorXs, assim como hoje diante da perda de direitos, do Fim da Previdência Pública, não tem nada a comemorar. Xs oprimidXs não tem nada a comemorar”, escreveu.

Em São Paulo, um convite do Exército para uma atividade de formatura referiu-se ao golpe que derrubou o presidente civil João Goulart como uma ‘revolução democrática”. O termo usado para definir um período em que até a possibilidade de reunir mais de três pessoas para debater política estava proibida causou estranheza e reações. “[Dizer] que não foi golpe e sim revolução democrática é de um cinismo aviltante. Não é ignorância, é cinismo mesmo”, assinalou a professora Renata Vereza, do curso de História da Universidade Federal Fluminense. 

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

Additional Info

  • compartilhar: