Mar
22
2019

Em ato, docentes reafirmam disposição para enfrentar PEC da Previdência

No Rio, manifestação teve início na Candelária com marcha até a Central do Brasil

“Se eu quiser, posso me aposentar amanhã, mas acho que essa reforma vai penalizar muita gente e fico assustado como as pessoas estão paradas. Precisamos defender os direitos de todos”, disse o docente Ernani Saraiva, professor de Administração do campus da UFF em Macaé, que viajou para participar do ato que acontece no Centro do Rio de Janeiro, neste dia 22 de março, uma sexta-feira de Lutas, Protestos e Paralisações contra a Reforma da Previdência de Jair Bolsonaro.

“Estou no ato pelo coletivo”, disse Ernani, que está entre outros manifestantes que cobram engajamento e reação da população brasileira diante das propostas que o governo apresentou no último dia 20 de fevereiro para a previdência social. A PEC-6, que trata da reforma, já Congresso Nacional e tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. 

As manifestações deste dia de lutas ocorrem em diversas capitais do país, poucos dias após a pesquisa do Ibope mostrar que a popularidade do atual governo despencou em 60 dias: caiu de 49% para 34%, 15 pontos percentuais a menos.

“Bolsonaro se desgasta com todas as besteiras que fala todos os dias, mas a queda da popularidade dele, em tão pouco tempo, é surpreendente”, comentou a docente da matemática na UFF, Miriam Abdón. Ela é argentina e reside no Brasil há mais de duas décadas. Contou à reportagem da Aduff que se surpreende com o fato da ausência de greves gerais – de não parar tudo mediante tantos problemas e ataques que incidem sob a classe trabalhadora.  

“Acho que temos que sair às ruas e defender nossos direitos; se não pelo meu caso, mas pelo o do conjunto dos trabalhadores que não vai conseguir se aposentar, caso a reforma passe”, disse Miriam.

Para a professora, é preciso levar em consideração que em meio à crise econômica e às altas taxas de desemprego, muitas pessoas não terão facilidade para comprovar o tempo de serviço porque operam na informalidade. Ela acha difícil que a maioria da população consiga comprovar 40 anos de atuação no mercado formal de trabalho para fazer jus a uma aposentadoria digna. “É triste, mas caso a reforma passe muitos vão morrer antes de se aposentar”, concluiu.

“Estamos dispostos a enfrentar a PEC-6”

“O dia de hoje é muito importante porque foi chamado por todas as centrais de maneira unificada, ainda que algumas mais tardiamente. As principais centrais estão vendo esse ato como o início de uma trajetória rumo à Greve Geral, que é o que a gente precisa para que essa reforma não seja aprovada”, disse Marina Tedesco, professora do curso de Cinema e presidente da Aduff-SSInd.

Para ela, Greve Geral não se constrói espontaneamente, mas na rua e na luta. É um primeiro ponto de partida depois que a Pec-6 começou a tramitar no Legislativo para conversar com a população, porque a desinformação ainda é muito grande.

“É importante o ato, mas toda a preparação para ele também é. Faz com que um setor da sociedade converse com outro, porque preparamos material para dialogar. Essa reforma representa o fim da previdência para todos. E acredito que é possível derrotar a reforma se mantivermos a unidade, se nenhuma Central resolver negociar e se construirmos cada vez mais ações e atos de ruas que nos levem à Greve Geral”, disse Marina Tedesco.

De acordo com a professora Bianca Imbiriba, do curso de Economia, a paralisação e a manifestação são importantes para sinalizar para o governo que a categoria está disposta a enfrentar a PEC.

“Essa sinalização é importante para impedir que o processo de tramitação avance ainda mais. Além disso, tem caráter informativo, as pessoas não sabem qual o impacto da reforma da previdência para as suas vidas. Há 20 anos, a população está sendo convencida que a reforma da previdência é um mal necessário para que o Brasil volte a crescer”, explicou.

Para Bianca, desconstruir os discursos midiáticos e do governo em prol da reforma é tarefa muito difícil, mas existem dados e discussões feitas com especialistas que apontam que a previdência não é deficitária.

Segundo o Luiz Fernando Rojo, docente do curso de Antropologia, é importante atingir outros setores mais amplos da classe trabalhadora, reforçando a necessidade de participação nos atos e nos protestos. “Sabemos que há campanha por parte banqueiros e grande mídia pela reforma da previdência e é difícil furar essas barreiras para alcançar um público mais amplo. De longe, é a pior de todas as propostas que já foram colocadas na mesa porque atingem muito fortemente a classe trabalhadora urbana e rural, pessoas com deficiências, idosos e inclusive pessoas que já estão aposentadas”, considerou o docente.

Para ele, é urgente a tarefa de conseguir conversar com as pessoas que não se referenciam diretamente na esquerda. “A conjuntura mudou e as formas de diálogo com a população mudaram. Temos que rever nossas relações com mídias digitais e nos inserirmos nesse ambiente para dialogarmos com pessoas que não alcançamos em atos como esses”, ponderou o docente. “Acho que é possível derrotar a reforma, mas temos que ser capazes de – a partir das mobilizações, ampliarmos o diálogo”, concluiu.

Da Redação da ADUFF
Por Aline Pereira e Hélcio Duarte. 
Fotos: Luiz Fernando Nabuco