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Mar
12
2019

8 de março é dia de dar visibilidade às pautas que enfrentam opressões, diz docente da UFF

Mote do protesto do 8M deste ano no Brasil foi “Pela vida das mulheres, justiça por Marielle. Por democracia e direitos. Somos contra Bolsonaro e a Reforma da Previdência”.  No Rio, a marcha saiu da Candelária no início da noite e foi encerrada com um ato público na Praça da Cinelândia. A Aduff-SSind e professoras e professores da UFF participaram.

 

Na semana em que, pelo dia internacional das mulheres, as ruas foram ocupadas em manifestações do 8M pelo fim das diferentes formas de violência de gênero, os jornais brasileiros noticiam casos de feminicídio em todo o país. No Paraná, uma jovem foi morta pelo namorado horas após registrar queixa na delegacia contra ele. Outra, no Ceará, foi morta a facadas pelo marido. No Mato Grosso do Sul, uma mulher foi atropelada e morta pelo namorado. Aos 19 anos, uma moça foi espancada e queimada pelo namorado, em São Paulo. No Rio de Janeiro, uma cabelereira foi estrangulada pelo ex-companheiro.

“O Brasil é um dos países mais violentos do mundo para as mulheres, cuja barbárie cotidiana materializa-se através de violências psicológicas, agressões brutais, encarceramento legal e cárcere privado, estupros e feminicídios. Só este ano, já assistimos com horror mais de cem casos noticiados”, disse Kênia Miranda, da Faculdade da Educação da UFF. “8 de março é dia de luta, para dar visibilidade às pautas que enfrentam a opressão de gênero, o racismo, a homofobia, as relações sociais machistas e capitalistas”, explica a docente.  

Não à toa, o mote do protesto do 8M deste ano no Brasil foi “Pela vida das mulheres, justiça por Marielle. Por democracia e direitos. Somos contra Bolsonaro e a Reforma da Previdência”. Atos e passeatas de norte a sul do país reuniram, ao todo, pelo menos algumas dezenas de milhares de pessoas. No Rio, a marcha do 8M saiu da Candelária no início da noite e foi encerrada com um ato público na Praça da Cinelândia. As avaliações de participantes do ato apontam a participação de mais de 15 mil manifestantes – há quem fale em 25 mil. A Aduff-SSind e professoras e professores da UFF participaram.

Kênia Miranda lembra que, há poucos dias, um policial militar de São Paulo, no exercício de suas funções, afirmou não "ter cerimônia em quebrar a cara de mulher". “A violência contra a mulher não cessa de acontecer em espaços públicos, privados e institucionais. Forças da repressão estatal têm sido estimuladas à violência de várias ordens”, avalia.

De acordo com a professora, é preciso lembrar o Manifesto Internacional Feminista que convoca para a construção de um instrumento internacional de organização que vá além das greves e mobilizações convocadas para 8 de março para enfrentar, com uma pauta classista, a crise mundial. “Tem crescido o sentido anticapitalista e a busca de solidariedade entre as diversas lutas em vários países”, complementa Kênia.

Viver sem medo

“Lutamos por um país em que possamos viver sem medo, por um Brasil de fato democrático. Cada vez mais crescem os números de feminicídio”, afirma a professora Sabrina Machado, que integra a Frente de Mulheres de Niterói e São Gonçalo. A docente lembra que, em Niterói, bem próximo ao campus da UFF no Gragoatá, uma mulher transexual foi agredida às vésperas do carnaval. Em seguida, a vítima teria sido humilhada na delegacia e no hospital público.

“Dia 8 de março é marcado por lutas pelo direito das mulheres no mundo todo; no Brasil não seria diferente. Vivemos uma conjuntura de retrocessos no plano internacional e também em nosso país, que se caracteriza pelo crescimento do fascismo, pelas perdas de direitos sociais”, avalia Sabrina Machado. “É muito significativo que no Brasil tenha chegado à presidência um homem que defende políticas públicas sexistas, de desigualdades salariais, contra direitos conquistados a duras penas pelas mulheres ao longo da história”, complementa a professora do ensino fundamental de Duque de Caxias e de Niterói.

Para ela, as atividades de 8M em 2019 expressaram oposição, sobretudo porque forças de resistência e progressistas estiveram nas ruas mais uma vez. “Houve manifestações políticas, de resistência, suprapartidária, de movimentos sociais, de grupos progressistas feministas, das mais diferentes tendências e partidos, para resistir ao crescimento dessa tendência fascista no Brasil - machista, racista, lgbtfóbico, transfóbico”, disse a docente.

Sabrina lembra ainda que as mulheres foram às ruas em um movimento pelo “Ele Não”, em meio ao processo eleitoral do ano passado, em posicionamento radicalmente contrário à tendência que o atual governo representa. “O 8M foi a primeira manifestação essencialmente feminina, neste ano, contra o governo”, comenta.

Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira e Hélcio Duarte
Foto: Vanessa Ataliba