Fev
25
2019

Carta de Vélez com slogan de Bolsonaro é a 'escola de partido único', diz Aduff

MEC enviou a escolas mensagem com carta do ministro, que traz bordão da campanha eleitoral de Bolsonaro, para ser lida sob hino nacional e com alunos filmados

 

Vélez ao assumir o cargo de ministro da Educação Vélez ao assumir o cargo de ministro da Educação / Marcello casal Jr - Agência Brasil

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Causou espanto, indignação e até desconfiança de que se tratava de 'fake news' a mensagem oficial enviada pelo Ministério da Educação a escolas públicas e privadas de todo país com carta de volta às aulas do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, para ser lida para os estudantes no Brasil.

A professora Marina Tedesco, presidente da Aduff-SSind, entidade que representa os docentes da Universidade Federal Fluminense, disse que o caso expõe a falsidade da campanha contra a 'ideologia' nas escolas. "Ao enviar carta a diretores e diretoras das escolas de todo país pedindo para que fosse lida na volta às aulas uma mensagem que termina com “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, slogan da campanha eleitoral de Bolsonaro, o ministro da Educação demonstra mais uma vez o que temos denunciado: que o projeto Escola Sem Partido é o projeto de um partido único, o qual pretende abolir o pensamento crítico para facilitar a imposição da sua ideologia", disse.

O ministro é um defensor declarado do movimento conservador 'Escola Sem Partido', que prega a aprovação de uma lei que cerceia o professor em sala de aula e acusa a categoria de ‘doutrinar’ estudantes. A assessoria do Ministério da Educação informou, à reportagem do jornal "Estado de São Paulo", que a carta assinada por Vélez é uma "recomendação", não uma ordem.

O Ministério da Educação (MEC) enviou às escolas, nesta segunda-feira (25), um email pedindo que as crianças e educadores sejam perfiladas para cantar o hino nacional e que o momento seja gravado em vídeo e enviado ao governo. A mensagem diz ainda que uma carta de poucas linhas do ministro, que reproduz o slogan de campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, seja lida na volta às aulas, em frente à bandeira brasileira e ao som do Hino Nacional. “Prezados Diretores, pedimos que, no primeiro dia da volta às aulas, seja lida a carta que segue em anexo nesta mensagem, de autoria do Ministro da Educação, Professor Ricardo Vélez Rodríguez, para professores, alunos e demais funcionários da escola, com todos perfilados diante da bandeira do Brasil (se houver) e que seja executado o hino nacional”, assinala texto.

Além do bordão da campanha do candidato eleito, causou estranheza entre educadores o desrespeito à laicidade do Estado e o pedido para que crianças fossem filmadas sem autorização de seus responsáveis. O pedido para que as filmagens fossem feitas por meio de celular teria feito com que muita gente pensasse que se tratava de notícia falsa. “Solicita-se, por último, que um representante da escola filme (pode ser com celular) trechos curtos da leitura da carta e da execução do hino nacional. E que, em seguida, envie o arquivo de vídeo (em tamanho menor do que 25 MB) com os dados da escola”, diz o corpo da mensagem. Filmar sem autorização professores em sala de aula com celulares tem sido uma prática comum de simpatizantes do ‘Escola Sem Partido’.

A carta do ministro diz o seguinte: "Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!"

Colombiano naturalizado brasileiro, Vélez disse em entrevista recente à revista "Veja" que as escolas precisam ensinar os brasileiros a não "roubar" equipamentos de hotéis e aeronaves, prática apontada pelo ministro como comum nas viagens ao exterior, e a não agir como um "canibal". Provocado pelo Supremo Tribunal Federal a se manifestar, o ministro pediu desculpas aos brasileiros em rede social. Na mesma entrevista, Vélez ameaça o Andes-SN, o sindicato nacional dos docentes, e diz querer acabar com as eleições para escolha de reitores nas universidades.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

Vélez ao assumir o cargo de ministro da Educação Vélez ao assumir o cargo de ministro da Educação / Marcello casal Jr - Agência Brasil

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