Fev
01
2019

Ministro da Educação diz que escola tem que reverter perfil 'ladrão' do brasileiro comum

Vélez diz em entrevista à "Veja" que escola deve ensinar brasileiros a não roubar quando viaja, defende o fim das cotas nas universidades, quer a cobrança de mensalidades e "rastrear" CPF de reitores. Disse ainda que o Andes-SN é uma monstruosidade e que os reitores são eleitos graças aos sindicatos

 

O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o ministro da Educação, durante a cerimônia de nomeação, no dia 1° de janeiro O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o ministro da Educação, durante a cerimônia de nomeação, no dia 1° de janeiro / Valter Campanato - Agência Brasil

DA REDAÇÃO DA ADUFF

O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, disse em entrevista à revista "Veja", que chega nas bancas neste sábado (2), que o brasileiro quando viaja ao exterior rouba até o assento salva-vidas. "O brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba assento salva-vidas de avião; ele acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola".

Também defendeu a cobrança de mensalidades nas universidades ("É uma possibilidade, gosto do regime vigente na Colômbia. Lá, paga-se de acordo com a renda") e o fim das cotas raciais nas universidades - embora tenha ressaltado que isso não deve ocorrer em quatro anos, mas quando houver condições.

Ao falar sobre a eleição nas universidades, respondeu ter dito ao presidente da Andifes, a associação dos reitores, que o principal problema dos eleitos é ter que se submeter ao Andes-SN e à CUT. Afirmou que os reitores eleitos devem favores às duas entidades, que seriam, na visão do ministro, responsáveis por suas vitórias na comunidade universitária - onde votam estudantes, técnicos e docentes. O ministro chama ainda o Andes-SN de “um monstrengo”. A entidade reúne, de 28 de janeiro a 2 de fevereiro, cerca de 600 docentes em Belém do Pará, no congresso nacional da categoria.

"Qual é o principal problema de um reitor de universidade federal? O sindicato, que é da CUT, o elege e ele fica refém. O tal Andes é um monstrengo que persegue o reitor durante todo o seu mandato. Por que não fazer um banco de currículos e ter um comitê que escolhesse os três melhores candidatos? Os nomes seriam apresentados ao ministro ou ao presidente. É um sistema mais correto que esse que envolve o sindicato ou a CUT", disse.

É, provavelmente, um dos trechos mais inverossímeis da entrevista e demonstra um desconhecimento abissal da realidade das universidades e dos processos eleitorais que escolhem reitores e diretores. Vélez também erra ao vincular o Andes-Sindicato Nacional à CUT (Central Única dos Trabalhadores). O Andes-SN é, na verdade, filiado à CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular). Desta forma, na visão do ministro, e corrigindo-se a filiação, os reitores seriam 'reféns' do Andes-SN e da CSP, responsáveis por suas respectivas chegadas aos cargos. O ministro diz ainda que os reitores devem ser submetidos à Lei de Responsabilidade Fiscal e que deveriam ter seus CPFs rastreados pelo ministro Sérgio Moro, da Justiça.

Em outro ponto da entrevista, Vélez diz-se favorável ao 'Escola Sem Partido' e que trocaria o busto do educador Paulo Freire pelo do filósofo de extrema-direita Olavo Carvalho.

A entrevista repercutiu nas redes sociais e recebeu de imediato uma enxurrada de críticas. Isso em um momento delicado para o povo brasileiro, que ainda busca os corpos dos mortos em uma das maiores tragédias do país. Quase ao mesmo tempo em que a entrevista de Vélez era compartilhada nas redes, a TV Band e os sites de notícias divulgavam o vídeo do momento exato do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG). São imagens fortes, que revelam uma violência avassaladora e, mais que isso, que a Vale deixou o refeitório de seus funcionários a “um minuto de distância” da lama caso a barragem rompesse. O maior acidente do trabalho registrado no país já matou 110 pessoas e ainda tem 238 desaparecidos. Todos, ou quase todos, brasileiros.

O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o ministro da Educação, durante a cerimônia de nomeação, no dia 1° de janeiro O presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o ministro da Educação, durante a cerimônia de nomeação, no dia 1° de janeiro / Valter Campanato - Agência Brasil

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