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Jan
28
2019

Abertura do 38º Congresso evoca histórico de resistência dos povos da Amazônia

Antes da mesa de abertura, docentes foram recepcionados com apresentação de ritmos regionais do Pará, com variações do Carimbó, de encantarias e lendas amazônicas

A maior instância de deliberação do movimento docente nacional, o 38° Congresso do ANDES-SN abriu os trabalhos na manhã desta segunda (28), com o desafio de propor alternativas para a conjuntura adversa e construir a resistência contra os ataques aos direitos sociais, às liberdades democráticas e o desmonte dos serviços públicas, em defesa da Educação pública, gratuita, de qualidade e laica no país.

O evento acontece até a manhã do dia 3 de fevereiro, na Universidade Federal do Pará, em Belém, organizado pela Associação dos Docentes da UFPA (Adufpa –Seção Sindical do ANDES-SN), com tema “Por Democracia, Educação, Ciência, Tecnologia e Serviços Públicos: em defesa do trabalho e da carreira docente, pela revogação da EC/95”.

“A conjuntura nos coloca o desafio de termos a capacidade dentro das nossas diferenças e divergências políticas de construir resoluções unitárias, que se desdobrem em unidade de ação. Desejo sinceramente que o Congressos seja um ambiente de debate respeitoso e que não reproduza nenhuma forma de opressão, que combatemos lá fora e aqui dentro”, destacou na mesa de abertura, o presidente do Sindicato Nacional, Antônio Gonçalves.

O docente evocou a história do movimento da Cabanagem, revolta popular, no Brasil Império, que assumiu o comando da Província do Grão-Pará e se estendeu pela Amazônia, destituindo a elite local do poder. “Que esse movimento de resistência nos sirva de inspiração e que tenhamos a capacidade de construir a luta necessária para este momento, e saiamos com um patamar superior da organização”.

Também na mesa de abertura, o docente da UFPA e representante dos povos indígenas Uirá, William Domingues contou sua trajetória, primeiro como estudante e mais recentemente como professor da UFPA. “Vim para a universidade como um projeto da minha comunidade, em Altamira- PA, com a missão de ‘amansar’ a universidade e abrir as portas delas para que nosso povo pudesse entrar. A tarefa é árdua quando a gente vê o tema grandioso desse encontro, mas nós somos povos indígenas, de tradições fortes e nos acostumados nesses mais de 500 anos a resistir para não morrer. Se tem alguém nesse país que entende de resistir e de lutar somos nós”, disse ao plenário.

O 38° Congresso acontece num período em que se multiplicam as denúncias de invasão de terras indígenas por todo o Brasil, motivadas pelo enfraquecimento da Funai realizada pelo governo Bolsonaro, que transferiu para o Ministério da Agricultura a atribuição de demarcar as terras indígenas no país. “Cada um de nós aqui temos uma opção, ou lutamos ou cedemos. Eu não vou estar ao lado dos que vão ceder. Vou estar com a universidade pública, gratuita e de qualidade para todas e todos até o dia que me expulsarem dela. Enquanto eu estiver como indígena, vou lutar por direitos iguais para todos”, disse.

Rosimê Guimens, coordenadora geral da Adufpa, ressaltou a importância de sediar o 38° Congresso no ano em quem que a Adufpa completa 40 anos. “Em 1979, esta universidade se organizava para que nós pudéssesmos resistir ao golpe militar e para que tivéssemos nossos direitos respeitados. Eu espero que tal como em 79, no início dessa seção sindical do ANDES, que consigamos derrubar esse golpe e a tentativa de retrocesso que está sendo colocada para nós. No nosso entendimento, o maior desafio desta categoria e deste sindicato é mostrar para quem ainda está sem iniciativa e sem decisão que nós não vamos retroceder, não podemos aceitar retrocesso de tamanha ordem”, afirmou.

Representando a Associação de remanescentes de quilombos no Pará, José Carlos Galiza, também frisou o caráter popular das lutas pela resistência contra os retrocessos e em defesa da Universidade pública. “A Aboliação da escravidão aconteceu em 1988 e só entramos na universidade de forma identificada como quilombolas, através de reserva de vagas, em 2013. Queremos levar a experiência do Pará para outros estados, por universidades públicas que sejam democráticas e para todos. Para as periferias das cidades, quilombos, aldeias indígenas, ribeirinhos e outras comunidades tradicionais”, enfatizou.

A abertura contou ainda com a participação do reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho; da diretora do Sindtifes, Taís Ranieri; do coordenador-geral do DCE da UFPA, Davi Lima; do dirigente estadual da CSP-Conlutas, Silvio Oliveira; da integrante da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde, Rafaela Fernandes; e da diretora da Fenet, Emanuele Santos. Além do presidente Antônio Gonçalves, o ANDES-SN também foi representado na mesa pela secretária-geral, Eblin Farage, pela 1ª tesoureira nacional, Raquel Dias, e pelo representante da Regional Norte II, Emerson Duarte.

 

Da Redação da Aduff | Por Lara Abib

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