Jan
24
2019

Aduff se solidariza com Jean Wyllys e diz que reação de Bolsonaro é vergonhosa

 

Presidente da Aduff diz que anúncio do exílio de parlamentar reflete políticas de preconceito e ódio defendidas pelo governo; sindicato reafirma defesa da luta contra os retrocessos nas liberdades democráticas

 

O deputado Jean Wyllys, em atividade no Congresso Nacional em junho de 2018 O deputado Jean Wyllys, em atividade no Congresso Nacional em junho de 2018 / José Cruz - EBC

DA REDAÇÃO DA ADUFF

A decisão do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) de abandonar a vida pública e deixar o país por conta da insegurança e das ameaças à sua vida que vêm recebendo expõe a fragilidade da democracia no Brasil e reflete as políticas colocadas em pauta pelo novo governo, eleito com base em uma campanha movida a ódio e a notícias falsas.

Quem afirma é a presidente da Aduff-SSind, professora Marina Tedesco, a Nina, que considera ainda inadmissível e vergonhosa a forma como o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), reagiu à decisão do parlamentar. Bolsonaro postou na sua conta no Twitter a frase “Grande dia”, logo após a notícia ganhar, em altíssima velocidade, as redes sociais. Pouco depois, o filho Carlos Bolsonaro postou: "Vai com Deus, seja feliz". Mais tarde, Bolsonaro negou que estivesse comemorando a decisão de Jean Wyllys e alegou que se referia aos trabalhos em Davos na Suíça. A pouco verossímil versão foi corroborada por Carlos Bolsonaro, que alegou que se referia a viagem de volta do pai ao Brasil. O ministro da Justiça, Sergio Moro, autoridade máxima na área de segurança pública no país, não havia se manifestado sobre o ocorrido até as 23 horas desta quinta-feira (24).

A manifestação do presidente é agravada ainda pela recente revelação de que parentes de um ex-policial militar acusado de envolvimento com a milícia pelo Ministério Público do Rio assessoraram o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente. O ex-policial também é suspeito de ter ligações com a morte da vereadora Marielle Franco, do PSOL no Rio de Janeiro, ocorrida em março do ano passado.

Em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, Jean menciona esse fato. "Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", disse Wyllys. "O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim", acrescentou.

Violência contra LGBTs

O parlamentar, que já estava sob proteção policial, relata que as ameaças contra sua vida aumentaram, assim como a hostilidade da parte de partidários das ideias de extrema-direita defendidas por Bolsonaro. Ele também afirma que, inflado por essas posições ideológicas reacionárias, aumentam os números de crimes de ódio e a violência contra LGBTs. “O nível de violência que aumentou após a eleição dele. Para se ter uma ideia, uma travesti teve o coração arrancado agora há pouco. E o cara [o assassino] botou uma imagem de uma santa no lugar. Numa única semana, três casais de lésbicas foram atacados. Um deles foi executado. A violência contra LGBTs no Brasil tem crescido assustadoramente”, disse.

De acordo com Wyllys, pesou em sua resolução de deixar o país as recentes informações de que familiares de um ex-PM suspeito de chefiar milícia investigada pela morte de Marielle trabalharam para o senador eleito Flávio Bolsonaro durante seu mandato como deputado estadual pelo Rio de Janeiro.

"Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", afirma Wyllys. "O presidente que sempre me difamou, que sempre me insultou de maneira aberta, que sempre utilizou de homofobia contra mim. Esse ambiente não é seguro para mim", acrescenta.

Jean cita ainda o caso da desembargadora que incitou o seu assassinato nas redes sociais. “A violência contra mim foi banalizada de tal maneira que Marilia Castro Neves, desembargadora do Rio de Janeiro, sugeriu a minha execução num grupo de magistrados no Facebook. Ela disse que era a favor de uma execução profilática, mas que eu não valeria a bala que me mataria e o pano que limparia a lambança. Na sequência, um dos magistrados falou que eu gostaria de ser executado de costas. E ela respondeu: ‘Não, porque a bala é fina’. Veja a violência com homofobia dita por uma desembargadora do Rio de Janeiro. Como é que posso imaginar que vou estar seguro neste estado que eu represento, pelo qual me elegi?”, indagou.

Sobre a luta LGBT - Jean foi o primeiro gay assumido a tomar posse como deputado federal -, disse acreditar que esta fase de retrocessos vai passar e que voltará à militância, não necessariamente no parlamento. “Para o futuro dessa causa, eu preciso estar vivo. Eu não quero ser mártir. Eu quero viver. Acho que essa violência política que se instalou no nosso país vai passar. Pode ser que no futuro eu retome isso, mas eu nem penso em retomar porque há tantas maneiras de lutar por essa causa que não passam pelo espaço da institucionalidade”, disse. Nas redes sociais, muita gente compartilhou o meme: “Obrigado, Jean Wyllys”.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

O deputado Jean Wyllys, em atividade no Congresso Nacional em junho de 2018 O deputado Jean Wyllys, em atividade no Congresso Nacional em junho de 2018 / José Cruz - EBC

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