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Jan
04
2019

Mudanças no MEC apontam para a política do ‘pensamento único’, diz presidente da Aduff

Indicação de Vélez para a pasta e ainda a de três ex-orientandos do professor colombiano para ocupar cargos estratégicos no Ministério da Educação expressa política ultraconservadora para o setor

Em destaque, o presidente eleito e o novo Ministro da Educação durante a cerimônia de posse Em destaque, o presidente eleito e o novo Ministro da Educação durante a cerimônia de posse / Valter Campanato/Agência Brasil - Brasilia

O professor, filósofo e teólogo liberal Ricardo Vélez Rodríguez é o Ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro – presidente eleito que, durante a campanha, afirmou ter como meta extirpar o legado de Paulo Freire do ambiente educacional. O colombiano de 75 anos assumiu a pasta esta semana e, em discurso, prometeu combater o "marxismo cultural", ao qual atribuiu a "agressiva promoção da ideologia de gênero".

Ricardo Vélez Rodríguez é mestre em pensamento brasileiro pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; doutor em pensamento luso-brasileiro pela Universidade Gama Filho; e pós-doutor pelo Centro de Pesquisas Políticas Raymond Aron. Tem passagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pela Universidade Federal de Juiz de Fora, entre outras. É professor emérito da Escola do Comando Maior do Exército.

Conhecido defensor do projeto 'Escola Sem Partido', movimento que prega suposta neutralidade em sala de aula e estimula perseguição e criminalização aos professores, Vélez, ainda em discurso de posse, criticou o legado do intelectual italiano Antonio Gramsci e sustentou que as instituições mais importantes para o país são a "família, igreja, escola, o estado e a pátria”.

Em meio ao discurso ultraconservador em relação à Educação e à política de costumes, cuja referência explicita foi a do escritor Olavo de Carvalho, Vélez anunciou os integrantes da equipe. Indicou três ex-alunos, orientados em pós-graduação em ciência da religião e que não têm experiência ou formação em gestão, para ocupar cargos técnicos no Ministério.

Um deles é Marco Antônio Barroso Faria, docente da Universidade do Estado de Minas Gerais, que comandará a Seres (Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior) do MEC. O professor da rede pública do Espírito Santo, Alexandro Ferreira de Souza, estará à frente da Setec (Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica). Já Bernardo Goytacazes de Araújo será o responsável pela secretaria de Modalidades Especializadas – criada para substituir a Secadi - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Assim, as temáticas ligadas às questões de diversidade, direitos humanos e educação étnico-raciais tendem a ser esvaziadas na atual gestão.

De acordo com a professora Marina Tedesco, presidente da Aduff-SSind, tais indicações não surpreenderam o movimento docente, pois o grupo de Vélez é declaradamente defensor de escola, sociedade e governo com partido único. “ Um dos pilares da campanha do atual presidente era varrer a ideologia e tomar decisões que não fossem supostamente baseadas em política, e sim na técnica. Entretanto, a própria composição ministerial de Bolsonaro já indica que essa promessa era falsa”, disse a docente do curso de Cinema da UFF. “O governo mostra que não tem nada de técnico ou neutro; as escolhas são políticas e ideológicas, impondo um tipo de visão contrária à concepção de Educação plural que defendemos – que desenvolve o senso crítico, o respeito à diferença e à diversidade.

Para ela, o Ministro da Educação e a equipe que assume a pasta indicam que haverá tentativas de o governo desenvolver um direcionamento anticientífico para lidar com um assunto que é primordial no país. “Querem que estejamos marcados pelo pensamento único, ao invés de promover as melhorias que a Educação tanto precisa”, criticou a presidente da Aduff. “Eles vão tentar impor, na prática, um projeto excludente para a Educação. Mas vamos resistir”, complementou Marina Tedesco.

Da Redação da Aduff-SSind | Por Aline Pereira
Foto: Agência Brasil

 

Em destaque, o presidente eleito e o novo Ministro da Educação durante a cerimônia de posse Em destaque, o presidente eleito e o novo Ministro da Educação durante a cerimônia de posse / Valter Campanato/Agência Brasil - Brasilia

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