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Nov
08
2018

"Não há o que comemorar nesses 30 anos sem Chico Mendes", diz palestrante

Evento reúne comunidade da UFF para ouvir companheiros que lutaram ao lado do sindicalista em defesa da floresta e da sobrevivência dos povos ribeirinhos

 

Mais uma forma de resistência contra a história de violência no campo e na cidade, que marca esse país desde que foi invadido pelos colonizadores. Assim Adriana Penna e Edson Benigno - ambos os diretores da Aduff - reafirmaram a importância da atividade que teve início, na noite de quarta-feira (7), no Auditório da Faculdade de Economia.

O evento “A atualidade da questão agrária e o Movimento Seringueiro – 30 anos sem Chico Mendes” – contou com a presença dos companheiros que lutaram ombro a ombro com ele: Dercy Teles (ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Xapuri-Acre) e Osmarino Amâncio (militante do Movimento Seringueiro). Foram discutidos o legado do seringueiro, sindicalista e ativista político brasileiro assassinado há três décadas; a permanente luta pela reforma agrária, pela defesa da floresta, e a resistência dos seringueiros pela sobrevivência em face do avanço dos interesses do agronegócio na região Norte.

Dercy apontou as necessidades da população da floresta, indígena e ribeirinha na Amazônia. Conclamou a classe trabalhadora rural e urbana à união frente a atual conjuntura, que tende ao acirramento nos próximos meses. Para ela, o momento exige indignação – coragem para enfrentar as lutas que virão e esperança em dias melhores. "Sobrevivi a duas ditaduras - a dos militares e a dos homens", disse a palestrante.

Ela foi uma das primeiras mulheres a ser presidente de um sindicato rural no Brasil, eleita em 1982. "Mulheres só participavam [do movimento] se fossem viúvas, do contrário era só o homem que se associava. Consegui quebrar esse paradigma", revelou a palestrante, que também foi responsável pelo projeto de alfabetização de adultos e a escolarização nos seringais.

“O capitalismo é selvagem e inescrupuloso quando se trata do ser humano. Se não tiver sustentabilidade para nós humanos o resto não se sustentará”, disse Dercy. “A questão da Amazônia não é minha ou de quem vive lá. É a maior floresta do mundo e a maior reserva de água doce do planeta. Então, ela é questão dos brasileiros e de todo o mundo. Deve ser preocupação de todos nós, principalmente da juventude que devem se aprofundar melhor nesses fatos que estão acontecendo", complementou a palestrante.

Em seguida, Osmarino Amâncio analisou a conjuntura política, expôs algumas histórias da luta que travou, ao lado de Chico Mendes, pela defesa da floresta e da sobrevivência dos povos ribeirinhos. “Não temos o que comemorar nesses 30 anos sem Chico Mendes. O latifúndio no Acre sofreu uma derrota, mas hoje ressurge; fazendeiros e madeireiras lucram”, afirmou o palestrante, que também integra a CSP-Conlutas e milita no movimento sindical do Acre há 40 anos.

Ele criticou a lei das florestas públicas, sancionada por Lula da Silva em 2006, que, na prática, permite a exploração da área por empresas privadas. Para Osmarino, essa foi uma das grandes traições do Partido dos Trabalhadores - PT, além de não ter feito a reforma agrária. "Essa lei foi arrumada e aprontada pela Monsanto; em 22 dias foi apresentada e aprovada. Sequer tivemos tempo de discutir", contou o sindicalista. 
O sindicalista ainda criticou a atuação da então Ministra do Meio Ambiente (2003-2008) Marina Silva [nascida no seringal e liderança política no Acre, ao lado de Chico Mendes, nos anos 80] nesse processo. "Cerca de 76 milhões de hectares foram leiloados e a Marina preparou toda a logística para o grande capital", considerou.

De acordo com Osmarino, Chico Mendes não pode ser lembrado como um ecologista ou um ambientalista. Isso seria associá-lo a um nicho de mercado que obtém vantagens a partir de uma "economia-verde", a exemplo do que tem feito algumas organizações não governamentais (ongs), entre elas a WWF - a qual o palestrante criticou. "A natureza é a nossa sobrevivência", disse emocionado.

Da Redação da Aduff-SSind | Por Aline Pereira
Fotos: Cléver Felix/ LDGNews

 

 

 

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