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Out
27
2018

Entidades afirmam que operações nas universidades ameaçam liberdades democráticas

Representantes do Andes-SN, Fasubra, Sinasefe, Fenet e ANPG denunciaram ataques às universidades públicas e ao conhecimento durante entrevista coletiva

DA REDAÇÃO DA ADUFF

No mesmo dia em que a procuradora-geral da República Raquel Dodge informou que moverá uma ação no STF para garantir liberdade de manifestação nas universidades, as entidades representativas da comunidade acadêmica realizaram uma coletiva de imprensa no Rio de Janeiro. Também ocorreu um ato no Centro do Rio de Janeiro que protestou contra as recentes ações do TRE-RJ. A decisão de juízes de mandar fiscais e polícia procurar material nas universidades foi criticada pelos manifestantes, que também afirmaram que o tribunal nada faz com relação a propagandas ilegais diretamente ligadas a candidaturas, patrocinada por empresários e instituições religiosas.

As entidades denunciaram o ataque às instituições públicas, informaram que além das ações políticas serão realizadas ações judiciais e lembraram que a repressão atinge diretamente a produção do conhecimento. 

Na carta aberta distribuída à imprensa, as entidades denunciam as ações policiais nas universidades em todo o país como tentativa de intimidar a comunidade acadêmica e silenciar os movimentos às vésperas do processo eleitoral.  E perguntam: “Por que panfletos, debates e palestras que discutem a democracia, as eleições e o que é o fascismo estão sendo considerados como propaganda eleitoral pela Justiça Eleitoral em todo o Brasil?”.

“Estas ações são ameaças concretas às liberdades democráticas”, disse Magda Furtado, professora do Colégio Pedro II e dirigente do Sinasefe na coletiva de imprensa realizada nesta sexta (26) junto com Andes/SN e Fasubra, além da Fenet, representando os estudantes de escolas técnicas e ANPG, os pós-graduandos. 

“Foram mais de 40 ações, incluindo suspensão de debates, retirada de faixas, vistorias em sala de aula e até mesmo entrada em sala fotografando estudantes”, denunciou Eblin Farage, professora da Escola de Serviço Social da UFF e secretária-geral do Andes-SN.

Ela lembrou que as ações violentas já estavam acontecendo antes do primeiro turno, com pichações racistas e suásticas em universidades. Mas a situação piorou após o segundo turno, inclusive com relatos de estupro: “As agressões individuais são muito graves, mas a Justiça legitimando ações arbitrárias contra a democracia também acaba legitimando a violência”.

Magda Furtado lembrou que as entidades sempre se posicionaram contra as arbitrariedades e se posicionarem neste momento contra o crescimento das ações fascistas não é uma questão eleitoral. Lembrou a luta contra a Lei da Mordaça e a defesa histórica das liberdades democráticas feita pelas entidades representativas da comunidade acadêmica. E relatou casos recentes de adoecimentos e até suicídio gerado por autoritarismo e arbitrariedade policial ou judicial: “Nossa vida e de outros podem estar em risco porque lutamos por direitos”, disse. 

“Defendemos a pluralidade de ideias, fundamental para a produção acadêmica”, disse Eblin. “Não é possível produzir conhecimento em um clima de perseguição e medo”. 

Gaudenise Ribeiro, da Fasubra, criticou a ação simultânea que atacou as universidades - “são ações que atacam a liberdade de pensamento” - e contou que em alguns casos, como na UERJ, nem havia mandado para o pedido de retirada da faixa “Mariele Vive” na universidade. “Querem cercear o movimento”, disse, e lembrou da recente invasão pela polícia da sede do Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio (Sepe), em Campos, e do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, para retirada de material apontado como eleitoral. 

“Esses últimos dias serão decisivos para o estado democrático de direito”, disse Giovana, representante dos estudantes de escolas técnicas. Ela criticou o desrespeito à Constituição, lembrando que está garantido lá a autonomia das universidades e a liberdade de expressão. Lembrou que os nomes de DCEs em todo o país são nomes de estudantes que morreram lutando para que todos pudessem falar e estender suas faixas nas universidades: “Esse sacrifício que eles fizeram não pode ter sido em vão”, disse. 

Rafael Souza, da Associação Nacional de Pós-Graduandos, lembrou que “não há ciência sem direito ao diferente e ao contraditório” e disse que o fascismo está “batendo nas portas” das universidades de forma organizada e institucionalizada. “É uma afronta às instituições universitárias e isso interessa a quem?”.

Perguntou, ainda, por que a Justiça não chamou uma coletiva para explicar por que age desta forma nas universidades. “O que aconteceu é uma afronta à Constituição e às universidades, que sempre foram campo de confronto de ideias”, disse.

“Essa luta não começou agora e não acaba domingo. A lógica de eliminar o diferente já foi colocada”, desabafou Eblin. Na carta aberta distribuída à imprensa, as entidades criticam a desmoralização da Educação e reafirmam: “Não vão nos calar! Não vamos recuar! Continuaremos nas ruas em defesa das políticas públicas, das universidades e das liberdades democráticas”.

 

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Por Cláudia Abreu, especial para a Aduff-SSind

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