"A contrarreforma do Ensino Médio, BNCC e a Educação Básica nas Instituições de Ensino Superior" foi o tema em debate na manhã de domingo (21), no segundo dia do Encontro do Andes-SN sobre Carreira EBTT e Ensino Básico das Instituições Estaduais de Ensino Superior, realizado em São Domingos, Niterói.
Os palestrantes foram Micael Carvalho dos Santos, do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Maranhão; e Fábio Bezerra, do Cefet de Minas Gerais.
Teia entrelaçada
Micael apresentou alguns documentos com orientações, inclusive do Banco Mundial, com o intuito de sistematizar princípios que fundamentaram a contrarreforma da Educação, tornando-a cada vez mais um "produto" à disposição do mercado. Enfatizou que as mudanças propostas pelo governo para o Ensino Médio devem ser pensadas de forma articulada com as Base Nacional Comum Curricular.
Para ele, esses projetos funcionam como uma teia, que se entrelaça e explicita um projeto de sociedade que retira o senso crítico da escola e da Universidade -- o que fortalece, consequentemente, movimentos como os que pretendem censurar e cercear a atividade docente.
Não à toa, a Contrarreforma do Ensino Médio institui a figura do profissional 'notório saber' que pode desempenhar o papel do professor em sala de aula, esvaziando o papel das licenciaturas, que estarão cada vez mais atreladas ao conteúdo da BNCC, considerado antidemocrático pelo palestrante.
"A BNCC limita a concepção de áreas, o acesso a importantes conhecimentos do campos da ciência, cultura e artes. Nega a escola como um lugar de democratização do saber e do conhecimento", afirmou Micael.
"Reformas têm sentido financeiro, político-ideológico e social"
"Estão tentando desmontar um modelo de ensino que está sendo construído nos últimos 30 anos, desde o final dos anos 80, antes mesmo da promulgação da LDB", disse Fábio. "Pensamos uma sociedade para além do capital e lutamos para que a Educação não esteja apenas a serviço do mercado", complemento.
Segundo o palestrante, essas reformas educacionais estão em curso há algum tempo. Um primeiro modelo de reforma do ensino médio, por exemplo, foi sinalizado há aproximadamente cinco anos, de acordo com o docente, de forma semelhante à proposta recentemente pelo Temer. "O ovo da serpente não foi chocado agora, mas é importante analisarmos que a Educação joga peso fundamental no processo de reordenamento do capital", afirmou Fábio.
Além da Ciência e da Tecnologia, a Educação é um dos pontos nevrálgicos para pensar a reordenação do capitalismo concorrencial e, justamente por isso, estão sendo atacadas, sofrendo investidas de setores econômicos.
Fábio Bezerra também destacou que o professor é uma categoria que ainda é combativa, vai à rua, faz o enfrentamento necessário e presta solidariedade a outros setores que remam contra a maré. Para ele, isso explica o crescimento de medidas que visam perseguir os docentes, por serem formadores de opinião, por possibilitarem o acesso à Educação crítica e democrática.
Ele afirmou que as reformas têm sentido financeiro, político-ideológico e social. "O que está em jogo é um modelo de sociedade, que oficializa a disparidade do acesso ao saber, à Ciência e Tecnologia, que vai perpetuar o fosso de desigualdade no país entre a elite colonialista, conservadora e retrógrada e os filhos da classe trabalhadora", considerou Fábio.
Da Redação da Aduff-SSind | Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco/Aduff-SSind.