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Out
10
2018

Docentes debatem conjuntura e propõem frente antifascista para combater conservadorismo

Atividade organizada pela Aduff-SSind lotou o auditório no Campus do Gragoatá. Palestrantes apontam a coletividade como estratégia de resistência em tempos sombrios

 

"Fascismo é forma de organização política do capital", disse a professora Tatiana Poggi, do curso de História da UFF, ao abrir o debate "O avanço conservador e nossas resistências", que aconteceu na noite dessa terça-feira (9), no campus do Gragoatá. A atividade organizada pela Aduff-SSind contou também com a participação dos professores Demian Melo - do curso de História Contemporânea do Departamento de Geografia e Políticas Públicas da UFF em Angra dos Reis - e Paulo Gajanigo - docente de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais da UFF em Campos dos Goytacazes, que falaram para um auditório lotado.

De acordo com os três palestrantes, é preciso organizar comitês locais e uma ampla frente antifascista, pois é necessário dar uma resposta coletiva a esse movimento que se nutre do medo, estimula o individualismo e a meritocracia.

Os três palestrantes relacionaram o fascismo aos aspectos políticos, econômicos e sociais de um cenário de crise que afeta também a legitimidade das instituições. "Há uma crise de expectativas; nas pessoas sentem que não há horizonte e perspectiva de futuro. O desespero da vida material se manifesta na forma da apatia política e da insensibilidade com o outro", explicou Tatiana. "O fascismo histórico é filho da crise do liberalismo; o atual fascismo é filho do neoliberalismo, que também o financia", complementou.

Disputa semântica

Demian Melo destacou que há pessoas que, equivocadamente, associam o fascismo e o nazismo aos movimentos de esquerda. Ele explica que é necessário - por mais absurdo que possa parecer - reforçar que são, na verdade, formas de governo conservadoras e de extrema direita."Esse argumento errôneo está baseado na presença do nome Socialismo no partido do Hitler, mas há literatura sobre o tema que esmiúça os diferentes tipos de socialismo, como o feudal e o reacionário, por exemplo", revelou. "Não há um só historiador do Fascismo - mesmo entre os autores de direita, que o classifique como de esquerda”, disse o docente ao enfatizar que, ao longo do tempo, mesmo nas primeiras décadas do século 20, já existiam disputas no campo semântico sobre o que seria o Socialismo como forma de fazer frente à Revolução Bolchevique.

Demian também procurou demonstrar como o conservadorismo na sociedade brasileira atual pode ser relacionado ao que chamou de 'Colapso da República de 88' e à fragilidade do Estado de Direito. Criticou o fato de instituições, como o próprio o Legislativo e o Judiciário, legitimarem atropelos à Constituição e aos direitos democráticos.

Junho de 2013

"O enfraquecimento da mobilização entre PT e o povo permitiu um avanço da direita mais forte, que não tem mais medo de dizer seu nome", disse Paulo Gajanigo, que aponta os movimentos de rua de junho de 2013 como um marco importante para entender a conjuntura tão enviesada nesse momento. "Junho criminalizou o Congresso", afirmou, apontando que a extrema direita encontrou campo fértil para revidar os levantes populares que tomaram o país.

Para ele, as jornadas de junho não levaram a um aprofundamento da esquerda e ainda evidenciaram que o PT não era mais capaz de cumprir com sua parte no pacto político com os setores dominantes para garantir, então, o controle sobre as massas. Assim, setores de extrema direita capitalizaram alguns elementos do movimento de junho para tentar derrotar a esquerda como um todo, que, agora, mais do que nunca, deve construir a unidade e resistir às investidas do conservadorismo.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Aline Pereira
Fotos: Luiz Fernando Nabuco/ Aduff-SSind.

 

** Acompanhe, nos próximos dias, outros textos sobre a cobertura do evento.

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