Set
29
2018

“Mar de gente” lota a Cinelândia em ato histórico antifascista

Milhares de pessoas estiveram no Centro do Rio de Janeiro para protestar contra ideais conservadores e antidemocráticos; comunidade da Universidade Federal Fluminense esteve no ato, que também contou com diretores e associados da Aduff-SSind.

 

“Mulheres contra Bolsonaro” – ato que tomou as ruas de diversas capitais do país e do mundo no sábado (29) – foi gestado nas redes sociais e reuniu pessoas de diferentes idades, cores, credos, tipos físicos, preferências sexuais e posicionamentos políticos. Todas publicamente contrárias aos ideais defendidos pelo candidato à presidência pelo PSL que lidera as intenções de voto, conforme institutos de pesquisa. No Rio de Janeiro, milhares de mulheres, homens e crianças estiveram na Cinelândia para repudiar pacificamente as práticas e os discursos racistas, xenófobos, misóginos e homofóbicos desse parlamentar que cumpre o sétimo mandato em cargo público. 

Parte da comunidade da Universidade Federal Fluminense foi ao ato, que também contou com diretores e associados da Aduff-SSind. A representação do Andes-SN no Rio de Janeiro e de outras seções sindicais filadas ao Sindicato Nacional e consequentemente à CSP-Conlutas também participaram dos protestos, que seguiu até à Primeiro de Março, para uma atividade cultural que foi realizada na Praça XV, com música ao vivo.

“Sem dúvida nenhuma, foi um ato histórico - um momento de unidade entre diferentes entidades e movimentos sociais na luta contra o fascismo e o conservadorismo, que avançam na nossa sociedade e representam ameaças para todos”, afirmou Marina Tedesco – Nina, professora do curso de Cinema da UFF e presidente da Aduff-SSind.

Para ela, lutar contra tamanho retrocesso é necessário, sobretudo porque afeta primordialmente a classe trabalhadora. “Saímos emocionados de ter feito parte dessa atividade, com milhares de pessoas defendendo o direito das mulheres, da população LGBTQ+, negros e negras - contra todas as formas de opressão”, disse a presidente da Aduff.

Representando a Regional Rio do Andes-SN, Mariana Trotta disse que as ideias fascistas precisam ser freadas e que elas andam de mãos dadas com as políticas de ajuste fiscal – expressos por exemplo pela Emenda Constitucional 95 - e de desmonte dos serviços públicos e eliminação de diretos trabalhistas, previdenciários e sociais. "Sempre defendemos a universidade pública e os serviços públicos, não podemos deixar de fazer isso agora", afirmou a docente Mariana Trotta, da UFRJ e dirigente sindical.

#EleNão

As hastags "#EleNão", "#EleNunca", "EleJamais" tomaram corpo ao longo das últimas semanas e já contam com adesões internacionais. Os termos são usados em perfis e publicações de pessoas que se posicionam contra o candidato de ideias neoliberais e privatistas, declaradamente defensor da tortura. Em 2016, Jair Messias Bolsonaro dedicou o voto pelo impeachment de Dilma Rousseff ao Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra – ex-integrante do alto comando do DOI-CODI e, portanto, um dos carrascos da ditadura no Brasil. 

“Ao menos parte da sociedade já está consciente dos perigos que o crescimento da onda conservadora representa para o país. O avanço das políticas neoliberais atinge diretamente as mulheres da classe trabalhadora, pois vai tornando nosso sustento cada vez mais difícil - sobretudo sendo acompanhado de contornos fascistas que incitam discurso de ódio contra as mulheres, negros e negras e lgbts, fazendo inclusive apologia à tortura”, disse Bianca Novaes, diretora da seção sindical dos docentes da UFF.

Bolsonaro tem sido chamado de "Coiso" por muitos opositores que se recusam, inclusive, a proferir o nome dele. "Esse homem é um retrocesso para o país; tenho medo do que ele representa porque é muito discurso de ódio", disse Dinorá. "Não podemos deixar a intolerância crescer em nossa sociedade", complementou a senhora de 57 anos, moradora de Niterói, acompanhada da filha. 

As duas aderiram ao grupo “Mulheres Unidas contra Bolsonaro”, que em poucos dias conquistou mais de dois milhões de participantes no Facebook e ganhou rápida projeção em meios de comunicação hegemônicos. Algum tempo depois, o grupo e as contas (inclusive de e-mail e de Whatsapp) de pelo menos três administradoras foram hackeadas, mais de uma vez, por seguidores do candidato.

Esse tipo de postura levou Yulla, de 39 anos, a um ato público pela primeira vez nos últimos anos. “Não tenho o hábito de participar desse tipo de manifestação. Mas, me senti impelida a participar, com outras mulheres desse dia que considero histórico para o país. Não há como ficar de braços cruzados quando pensamos nos acontecimentos mais recentes, até porque nossa democracia está realmente ameaçada”, avaliou a advogada, acompanhada por amigas e familiares. 

Para Renata Vereza, ex-presidente da Aduff, o movimento “Mulheres Unidas contra o Bolsonaro” e a chamada de atos por todo o Brasil e no exterior tem importância que transcendem as eleições. “O crescimento de movimentos de extrema direita, que propagam todo tipo de preconceitos e exclusões, flertando abertamente com posicionamentos fascistas, supera o âmbito eleitoral”, avaliou a docente do curso de História. 

De acordo com Renata, é preciso estar mobilizada contra todo tipo de pensamento autoritário, discriminatório, opressores e incitador de violência. “A Universidade tem papel fundamental nesse processo de mobilização, por ser, por princípio, espaço de inclusão, de autonomia e de respeito pelos direitos”, considerou.

“Desajustada”

“Coloca aí que eu sou uma desajustada”, disse ironicamente à reportagem da Aduff uma participante do ato, que cria dois filhos sozinha. Mariana, 33 anos, se referia as recentes declarações do candidato à vice-presidência na chapa de Jair Bolsonaro. O General Mourão afirmou que as famílias chefiadas por mães e avós são desajustadas. Mediante a repercussão negativa, o militar se retratou logo depois: “Só são desajustadas as famílias chefiadas por mães e avós pobres”. 

“Travessia Revolucionária”

Boa parte dos manifestantes partiu para o Rio de Janeiro depois de uma concentração que teve início às 14h, em frente à Praça Araribóia, no centro de Niterói. Políticos e candidatos à cargos públicos também participavam. 

Durante a tarde, as embarcações que possibilitavam a travessia entre as duas cidades partiram repletas de pessoas com adesivos, faixas, bandeiras, camisetas contra quem dissemina a intolerância. Passageiros gritavam “Ele Não” antes, durante e depois do trajeto. Cena parecida também aconteceu em algumas estações do Metrô Rio.

Campanha: fim das opressões

A Aduff-SSind está à frente de uma campanha contra várias formas de opressão na sociedade. Como parte desse processo, inicialmente foram confeccionados diversos adesivos – também distribuídos ao longo do ato. “Sou UFF e sou contra o Machismo”, diz um dele. Outro: “Sou UFF e sou contra o Fascismo”. Há também modelos contra o Racismo, a Xenofobia, a LGBTfobia e a Intolerância religiosa.

Debate 

No dia 9 de outubro, terça-feira, a Aduff-SSind promove atividade de reflexão sobre o avanço fascista no país. O evento terá como palestrantes os docentes Roberto Leher, reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Tatiana Poggi, da UFF. Acontecerá às 18h, no Auditório do Bloco P (Campus do Gragoatá, Niterói).

 

Da Redação da ADUFF | Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco 

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