Jul
24
2018

É represália contra quem lutou em 2013 e 2014, diz campanha ‘Eu apoio os 23’

 

Primeiro ato unificado após a condenação será nesta terça (24), no Ifcs, no Centro do Rio, e defenderá a absolvição dos manifestantes de junho de 2013 e do movimento que denunciou irregularidades na Copa de 2014

Entrevista coletiva concedida por parte dos condenados pela decisão judicial, no Sepe-RJ Entrevista coletiva concedida por parte dos condenados pela decisão judicial, no Sepe-RJ / Samuel Tosta

Primeiro ato unificado após a condenação será nesta terça (24), no Ifcs, no Centro do Rio, e defenderá a absolvição dos manifestantes de junho de 2013 e do movimento que denunciou irregularidades na Copa de 2014

DA REDAÇÃO DA ADUFF

Cinelândia, escadarias da Câmara de Vereadores, palco de dezenas de protestos que sacudiram as ruas do Centro do Rio de junho de 2013 até meados de 2014. Foi ali que se reuniram, no dia seguinte à divulgação da condenação, algumas dezenas de ativistas solidários aos 23 manifestantes daquele período julgados criminosos pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, ao participarem dos protestos que levaram milhões de pessoas às ruas do Rio e de todo o país.

'O governador que comandou o processo contra os 23 está preso, como chefe de uma quadrilha que assaltava os cofres públicos', disse um dos participantes da reunião. O mesmo ativista afirmou, em seguida, que  a condenação dos 23 é uma tentativa de calar as ruas: 'é um ataque contra todo o movimento, é um aviso do que acontecerá com quem ousar ir às ruas e lutar. Mas eles não vão conseguir nos calar’, afirmou.

A reunião transcorrida na noite da quarta-feira (18) é parte de uma movimentação que busca impulsionar a mobilização em defesa dos condenados por Itabaiana, um juiz conhecido por suas posições conservadoras. "Eu apoio os 23” é o mote da campanha, associado à ideia de que o movimento de solidariedade ‘não é só pelos 23’.  

No dia seguinte, nove destes homens e mulheres condenados participaram de entrevista coletiva, concedida exclusivamente para a mídia alternativa, na sede do Sepe-RJ, o sindicato dos profissionais da educação no Estado do Rio de Janeiro. Anunciaram que, naturalmente, vão recorrer à 2a instância da Justiça e que não pretendem se calar. A reportagem da Aduff-SSind acompanhou a coletiva. A seção sindical do Andes-SN na UFF divulgou nota se solidarizando com os 23 ativistas, criticando a decisão judicial e defendendo uma mobilização conjunta dos movimentos sociais e sindicais contra a criminalização dos que lutam.

Na terça-feira (24), haverá o primeiro ato público em solidariedade ao grupo, ao auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ifcs/UFRJ). "Não são só os 23 que estão sofrendo esses ataques, mas uma série de lutadores no Brasil", disse a professora de Sociologia Rebeca Souza, da rede estadual de educação e uma das incluídas no processo. 

Ela relatou que, na véspera, a organização Justiça Global informou que nunca se assassinou tantos defensores dos direitos humanos no meio urbano e rural do país. A condenação dos 23 ativistas de 2013 e 2014, raciocinou, é parte desse processo de perseguição aos que lutam por uma sociedade com mais justiça social.

 ‘Represália’

 A condenação é apontada pelo movimento em defesa dos ativistas como uma represália à mobilização que se alastrou pelo Rio de Janeiro entre 2013 e 2014. Os protestos iniciados em junho de 2013 por todo o país, que culminaram com manifestações que levaram a atos com pelo menos centenas de milhares de pessoas nas ruas, prosseguiram no Rio ao longo do ano e em 2014, nas manifestações que contestavam o modo como a Copa do Mundo de futebol estava sendo realizada no Brasil.

Mesmo reunindo menos gente do que em junho de 2013, os protestos passaram a fazer parte do cotidiano da cidade e colocaram o então governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) em situação difícil, contribuindo para a crescente impopularidade do governante, que dois anos mais tarde acabaria preso. 

Aos atos nas ruas que expuseram a máfia dos transportes e o esquema de aumentos de tarifas envolvendo autoridades públicas, sucederam-se denúncias de remoções de comunidades pobres (Aldeia Maracanã, Vila Autódromo, Metrô Mangueira) e de superfaturamentos e irregularidades nas obras da Copa do Mundo. Esse movimento atingiu duramente Sérgio Cabral e a cúpula do então PMDB, hoje MDB. É o que afirma carta de apoio preparada pelas Assembleias Populares da Cinelândia e do Largo do Machado - forma de organização, aliás, nascida dos protestos de junho de 2013.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho

Entrevista coletiva concedida por parte dos condenados pela decisão judicial, no Sepe-RJ Entrevista coletiva concedida por parte dos condenados pela decisão judicial, no Sepe-RJ / Samuel Tosta

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