Jun
30
2018

Docentes prestam homenagem a Marielle no 63° Conad

“Se de fato a gente quer construir um projeto de sociedade novo, diferente do que estamos vendo, a gente precisa estar junto”, diz moradora e militante da Maré durante o 63° Conad

 

Shyrlei, da Maré, durante a homenagem póstuma a Marielle Shyrlei, da Maré, durante a homenagem póstuma a Marielle / Andes-SN

DA REDAÇÃO DA ADUFF

O 63° Conad, o Conselho do Sindicato Nacional dos Docentes (Andes-SN), prestou homenagem a Marielle Franco, vereadora e militantes dos direitos humanos e sociais assassinada a tiros em março no Rio de Janeiro, junto com o motorista Anderson Gomes, em março passado. "Por Marielle/eu digo não/eu digo não à intervenção", cantaram professoras e professores que participam do evento, que acontece de 28 de junho a 1° de julho em Fortaleza, capital do Ceará.

"Marielle e Anderson, presentes!", já haviam afirmado, em coro, pouco antes, logo após a apresentação de vídeo em homenagem póstuma à vereadora do PSOL no legislativo municipal do Rio. "A gente não poderia deixar de homenagear a Marielle Franco, de lembrar esse assassinato brutal da Marielle e do Anderson", disse a professora Eblin Farage, da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, ainda como presidente do Andes-SN, cargo que, pouco menos de uma hora depois, entregaria ao professor Antonio Gonçalves, eleito pela Chapa 1 - Andes Autônomo e de Luta.

A dirigente do Anden-SN criticou a intervenção federal militarizada no Estado do Rio. "Parece que o Rio de Janeiro tem sido um balão de ensaio não apenas para o desmonte da educação pública, como foi o caso das universidades estaduais - Uerj, Uezo, Uenfe - mas também tem sido um balão de ensaio para forma mais cruel de extermínio da população negra e pobre das periferias", assinalou Eblin.

Ao comentar o que ocorrera no Rio, disse que Marielle foi por duas vezes atingida pela violência do Estado, que errou o alvo na primeira - quando nasce preta, pobre e moradora da periferia e consegue se graduar na PUC, fazer mestrado na UFF, militar nos direitos humanos e se eleger vereadora com 45 mil votos - e a atingiu de forma bárbara na segunda.

‘A gente demora a entender que Marielle se foi’’

Convidada ao evento, a pedagoga Shyrlei Rosendo, da organização Redes da Maré, falou um pouco sobre as lutas travadas nas favelas, durante a cerimônia de abertura do 63° Conad, na quinta-feira (28). "A gente ainda demora a entender que a Marielle se foi, golpearam um projeto que a gente está fazendo na Maré há mais de 20 anos", disse.

Shyrlei mora no Parque União, uma das 16 comunidades do Complexo da Maré, e conheceu Marielle ao ingressar no curso de pré-vestibular que funciona na região - hoje coordenado por Redes da Maré. A experiência de estudo, afirma, não apenas a levou à universidade pública, como lhe deu elementos para entender a realidade que vive, refletir sobre o mundo e o que é possível fazer para transformá-lo.

Militante dos movimentos em defesa dos direitos humanos, Shyrlei fez um agradecimento especial à professora Eblin Farage, por sua atuação na Maré, e relatou aspectos da luta que desenvolve. "Com 140 mil habitantes e mais de 4,5 quilômetros quadrados, a Maré é maior que 96% dos municípios do Brasil. Mas o Estado não reconhece aqueles moradores como sujeitos detentores de direitos, os 140 mil moradores não saem da Maré quando tem uma operação policial", disse, ressaltando que vive na primeira favela no Rio, talvez do Brasil, a pautar o direito à segurança pública.

Ao final, contou com a ajuda do plenário para cantar uma cantiga que vem sendo entoada pelos movimentos sociais e feministas nas manifestações de rua. "Companheira me ajuda/que eu não posso andar só/Eu sozinha ando bem/ mas com você ando melhor", cantaram as delegadas, delegados e observadores do evento. "A gente na Maré tem andado um pouco sozinho... se de fato a gente quer construir um projeto de sociedade novo, diferente do que estamos vendo, a gente precisa estar junto", disse, ao fazer um apela à unidade dos que resistem aos retrocessos sociais e lutam por uma sociedade com justiça social.

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho, enviado a Fortaleza (CE)

Shyrlei, da Maré, durante a homenagem póstuma a Marielle Shyrlei, da Maré, durante a homenagem póstuma a Marielle / Andes-SN