Jun
28
2018

"Parem de nos matar": protesto no Rio denuncia a violência policial nas favelas e a intervenção militar no Estado

Mãe do jovem Marcus Vinicius da Silva, assassinado aos 14 anos durante uma operação policial na Maré, esteve no ato que teve início na Cinelândia e terminou na Candelária. Manifestantes denunciam genocídio do povo negro e pobre pelo Estado.

Sete dias após o assassinato do estudante de 14 anos na Maré, Bruna Silva mostra a camisa do filho manchada de sangue. Sete dias após o assassinato do estudante de 14 anos na Maré, Bruna Silva mostra a camisa do filho manchada de sangue. / Luiz Fernando Nabuco/Aduff

"A dor vai me deixar calejada, vou cobrar todos os dias do Estado porque devolveu o meu filho desse jeito", disse a mãe do jovem Marcus Vinicius da Silva, assassinado aos 14 anos durante uma operação policial na Maré, no último dia 20 de junho. Bruna Silva empunhou a camisa do filho - uma blusa que compõe o uniforme escolar da Prefeitura do Rio de Janeiro - manchada de sangue, enquanto falava para uma plateia de estudantes, militantes e transeuntes na Cinelândia. Ela participou do ato "Vidas nas Favelas Importam: Parem de nos matar", que tomou as ruas do Centro do Rio em direção à Candelária, na tarde de quinta-feira (28).

Convocado por entidades dos movimentos sociais, das favelas e periferias, sindicatos e partidos de esquerda, o ato é motivado pelas recentes operações da Polícia Militar e do Exército no Complexo da Maré - que levaram à morte de pelo menos sete pessoas. A Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense (UFF) apoiou a mobilização.  

No ato, houve críticas à intervenção militar federal no Estado do Rio de Janeiro, decretada em fevereiro deste ano por Michel Temer. Outros jovens que tiveram a vida ceifada pela violência policial - como Jonathan Oliveira, morador de Manguinhos - também foram lembrados durante o ato. Os participantes clamaram ainda por Justiça pela execução da vereadora do PSol Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes.  O crime completou mais de cem dias e os criminosos não foram identificados, julgados e presos.

Intervenção tem classe e cor

"O Estado espalha o seu terror na favela. Se gente a atravessa, toma tiro; se corre, toma tiro.  Silenciaram a voz do meu filho, mas seu coração ainda pulsa. Espero poder somar com outras mães e lutar por Justiça", afirmou Bruna, com a voz embargada. “Que país é esse”, perguntava.

Bruna disse que o filho estava atrasado para a escola quando foi alvejado por um tipo disparado por um carro da polícia militar, por volta das 8h. “Ele viu que o disparo foi feito pelo Caveirão”, explicou. Quando Bruna chegou à UPA - Unidade de Pronto Atendimento, Marcus indagou: “Ele não me viu com a roupa de escola, mãe?”

Na Cinelândia, nas escadarias da Câmara dos Vereadores, a professora Kátia era uma das muitas pessoas visivelmente emocionadas. "Essa intervenção tem um propósito claro, voltado para uma parcela específica da população - pobre e negra. Considero muito perigoso dar licença para a polícia entrar na favela matando. É um ódio de classe e de raça", disse para justificar porque decidiu participar do ato. "Me senti afetada pela dor dessa mãe e de tantas outras. Esse extermínio é diário", falou a docente.

Cláudia Vitalino, moradora do Complexo do Chapadão (Zona Norte), participante da Unegro (União de Negras e Negros Pela Igualdade), uma das entidades que somaram à manifestação, disse que a população negra está cansada de ser estatística."Favela não é fábrica de marginal e mãe nenhuma cria filho para ser morto por um Estado assassino", desabafou.

DA REDAÇÃO DA ADUFF | Por Aline Pereira
Foto: Luiz Fernando Nabuco

 

Sete dias após o assassinato do estudante de 14 anos na Maré, Bruna Silva mostra a camisa do filho manchada de sangue. Sete dias após o assassinato do estudante de 14 anos na Maré, Bruna Silva mostra a camisa do filho manchada de sangue. / Luiz Fernando Nabuco/Aduff

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