Jun
08
2018

Durante o debate, pesquisadores enfatizam resistência na UFF à época da ditadura

Em noite de homenagens aos ex-dirigentes e ex-conselheiros da Aduff, que celebra seus 40 anos, os professores Rafael Vieira e Ludimila Gama Pereira comentaram importância da obra "Atitudes de Rebeldia: as formas da universidade tecnocrática, o aparato vigilante/repressivo e as resistências dos professores da UFF durante a ditadura" 

Os professores que compareceram à solenidade de comemoração pelos 40 anos da Aduff, realizada na noite de quinta-feira (7) no Clube Português, em São Domingos - receberam um exemplar do livro “Atitudes de Rebeldia: as formas da universidade tecnocrática, o aparato vigilante/repressivo e as resistências dos professores da UFF durante a ditadura" e participaram de um breve debate sobre o conteúdo da obra organizada pelo Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente da seção sindical. A publicação de 303 páginas e edição inicial de mil exemplares é fruto do relatório final do projeto, em pesquisa feita por Rafael Vieira, professor do curso de Políticas Públicas da UFF de Angra dos Reis. Ele foi um dos expositores, ao lado de Ludimila Gama Pereira - docente da rede estadual do RJ e doutora em História Social pela UFF com a tese “Nenhuma ilha da liberdade: Vigilância, Controle e Repressão na Universidade Federal Fluminense (1964-1987)”.

Ambos expuseram a importância em rememorar a história da UFF e a resistência de parte da comunidade durante a ditadura civil-militar, ressaltando a riqueza dos arquivos da Universidade Federal Fluminense sobre o período, que revela a atuação da Agência de Segurança e Informação no ambiente acadêmico. A ASI-UFF integrava o Serviço Nacional de Informações (SNI), criado pela ditadura nas autarquias para estabelecer a vigilância, o controle e a repressão nas instituições públicas.  Alguns desses documentos estão digitalizados no Anexo da publicação e explicitam as intrínsecas relações entre os gestores da Universidade e o assessor da SNI.

De acordo com Rafael, essa agência foi comandada por José Francisco Borges de Campos, docente da Faculdade de Matemática, entre os anos de 1971 e 1974; depois, entre 1975 e 1979, pelo professor Almiro Ferreira de Souza, da Faculdade de Odontologia.  Somente em 1979, o reitor tornou-se coordenador dos trabalhos da ASI, determinando quem vigiar, contratar para atuar na UFF ou ainda quais atividades poderiam ser realizadas na instituição.

“O funcionamento da ASI tinha o objetivo de conter o ascenso de movimento reivindicatórios na Universidade, principalmente a partir da luta da classe trabalhadora que se amplia ao final da década de 1970 – época em que a Aduff era criada”, disse Rafael.

Em seguida, Ludimila enfatizou que essa documentação analisada a partir dos arquivos da UFF - um dos maiores que restaram acerca da atuação da SNI nas Universidades - possibilitou um salto qualitativo e quantitativo em relação à produção de pesquisas acadêmicas sobre o período. De acordo com ela, é preciso compreender que as intervenções da ditadura civil-militar não se limitam à censura, mas, sobretudo à repressão dos trabalhadores e estudantes nas instituições públicas e, consequentemente, à produção científica no país.

"De fato, na UFRJ houve muita repressão durante o período, mas, é importante enfatizarmos que a UFF não foi uma ilha de liberdade. Estudantes, professores foram perseguidos, cassados, torturados e mortos", considerou a pesquisadora, enfatizando que nenhuma instituição pública, à época, esteve livre dos olhares dos censores e dos carrascos da ditadura.

Ao final do debate, a diretora da Aduff e mediadora das discussões, Kênia Miranda, afirmou que a publicação tem o objetivo de divulgar esse passado de forma ampla para toda a comunidade, de forma a evitar que ele se repita. "Precisamos conhecer nossa história, a nossa Universidade e também homenagear a esses lutadores. É para que nunca esqueçamos e para que nunca mais aconteça”, disse a docente da Faculdade de Educação. 

DA REDAÇÃO DA ADUFF
Fotos: Luiz Fernando Nabuco/ Aduff

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