Mai
23
2018

Resistência coletiva nas universidades públicas repudia censura e arbítrio, diz professor da UFF

 

Professor Carlos Henrique Serra estará na aula-ato "O Golpe de 2016 e o Futuro da Democracia", que acontece nesta quinta-feira (24), a partir das 14h, no Auditório do Bloco O (Campus do Gragoatá), em Niterói. O evento é fruto de uma parceria entre a Aduff-SSind e a Ciência Política da Universidade Federal Fluminense.

 

 

Manifestação na Cinelândia, no dia seguinte às execuções de Marielle e Anderson Manifestação na Cinelândia, no dia seguinte às execuções de Marielle e Anderson / Luiz Fernando Nabuco - Aduff

Professor Carlos Henrique Serra estará na aula-ato "O Golpe de 2016 e o Futuro da Democracia", que acontece nesta quinta-feira (24), a partir das 14h, no Auditório do Bloco O (Campus do Gragoatá), em Niterói. O evento é fruto de uma parceria entre a Aduff-SSind e a Ciência Política da Universidade Federal Fluminense.

DA REDAÇÃO DA ADUFF

O professor Carlos Henrique Aguiar Serra, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense, considera as disciplinas  “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” uma demonstração coletiva de resistência da maioria das universidades públicas do país. Ele está entre os docentes da UFF que atuam nas disciplinas que abordam o impeachment de 2016 e as liberdades democráticas.  “O recado é bem explícito e enfático: as universidades públicas defendem o Estado de Direito, a liberdade de cátedra e repudiam, portanto, toda e qualquer forma de censura e arbítrio”, diz. Nesta entrevista à jornalista Aline Pereira, realizada via internet, Carlos Henrique também aborda o assassinato da vereadora do Psol Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. “Há uma nítida tentativa de intimidação por parte desses segmentos mais reacionários e truculentos”, diz, para em seguida afirmar: “Contudo, embora estejamos, lamentavelmente, inseridos num estado de exceção, uma das contradições do Estado de Direito, a resistência, organizada e coletiva, nunca vai cessar. Em outras palavras, resistiremos sempre e sempre!!”

JORNAL DA ADUFF - Como o senhor analisa a reação em cadeia das disciplinas “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” nas universidades públicas, após a censura do ministro da Educação ao professor Luiz Felipe Miguel, da Unb?
CARLOS HENRIQUE SERRA - A minha avaliação é muito positiva pois esta manifestação coletiva, que engloba a imensa maioria das universidades públicas do país, na verdade sinaliza de forma muito concreta para uma resistência coletiva onde o recado é bem explícito e enfático: as universidades públicas defendem o Estado de Direito, a liberdade de cátedra e repudiam, portanto, toda e qualquer forma de censura e arbítrio.

 

JORNAL DA ADUFF - Ao se manifestar, dizendo que pode ter havido "improbidade administrativa" por parte do docente da Unb ao propor o curso, o ministro Mendonça Filho alegou também que a citada disciplina não oferece base científica e tampouco aderência à realidade brasileira. O que o senhor poderia comentar sobre isso?
CARLOS HENRIQUE SERRA - As declarações do referido ministro, veiculadas nos meios de comunicação, são tristes, autoritárias, se configuram enquanto ilações, e, também, revelam um profundo desconhecimento da parte dele em relação às atividades desenvolvidas numa universidade pública que envolvem os três segmentos, docentes, discentes e técnico-administrativos, e que há toda uma produção científica, devidamente fundamentada, marcada pela diversidade e que também, em determinadas áreas do conhecimento, procura refletir sobre a realidade brasileira.

JORNAL DA ADUFF - O senhor acha que há a compreensão, por ampla parte da sociedade, de que houve um golpe contra a presidente Dilma, a despeito da avaliação que se tenha acerca do governo dela?
CARLOS HENRIQUE SERRA - Não diria da “ampla sociedade”, até porque as informações, em grande medida, publicizadas pelo aparato midiático hegemônico revelam uma total nebulosidade, que tenta, portanto, obscurecer o cenário político, tornando-o mais nebuloso. Entretanto, com o passar do tempo, já houve sim e a tendência é se intensificar um processo de conscientização e politização de parte da sociedade em compreender que o processo que levou ao impedimento do governo Dilma teve a marca concreta de um “golpe branco”, onde mídia, legislativo e judiciário praticamente, com honrosas exceções, se fusionaram.

JORNAL DA ADUFF - Em que medida o senhor poderia relacionar a crítica do ministro da Educação, que não compreende a universidade como um espaço necessário ao debate sobre a realidade política brasileira, ao projeto defendido pelos integrantes do grupo "Escola Sem Partido", que pregam neutralidade acadêmica?
CARLOS HENRIQUE SERRA - Sejamos bem objetivos: a defesa pela “Escola Sem Partido” encontra-se na agenda dos segmentos mais conservadores, reacionários e autoritários da sociedade brasileira que nutrem profundo ódio e intolerância à diversidade, às diferenças, à pluralidade e ao pensamento crítico. Tais defensores, inclusive, ou são cínicos ou desinformados, pois a “Escola Sem Partido” é profundamente ideológica. Só que uma ideologia que propaga a intolerância, o ódio ao outro e dissemina suspeição e tentativa de criminalização. Tudo isso vem no bojo desta onda conservadora e fascista que está presente também no Brasil.

JORNAL DA ADUFF - Há um avanço do fascismo em nossa sociedade? Às ameaças à liberdade de cátedra, à autonomia universitária podem ser percebidas como expressões desse movimento?
CARLOS HENRIQUE SERRA - Sim! Esta cultura fascista se potencializa em larga escala e enxerga tudo aquilo que contempla a diversidade, a pluralidade e o respeito às diferenças, como algo profundamente ameaçador. Esta ótica intolerante e fascista trabalha sob a lógica do inimigo, este sendo sempre o outro, que precisa ser abatido, exterminado. A lógica do inimigo se coaduna à lógica da guerra!

JORNAL DA ADUFF - O brutal assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, supostamente relacionado à forte crítica e atuação da parlamentar contra a intervenção federal no RJ, podem ser compreendido como um desdobramento desse movimento ultraconservador? São expressões de um mesmo grupo que deseja silenciar intelectuais nas universidades?
CARLOS HENRIQUE SERRA - As execuções da Marielle Franco e de Anderson Gomes, até o presente momento, conforme as investigações têm trabalhado, estão no cerne deste processo perverso da militarização da segurança pública e da existência, que, muito particularmente, ocorre no Rio de Janeiro, e que se agrava muito com a intervenção militar. Marielle era uma mulher brilhante, íntegra, altiva, negra, oriunda da favela da Maré, que fazia a política enquanto atividade essencial à existência humana, que lutava contra o arbítrio e que defendia a bandeira dos direitos humanos para todos, para toda a população!. Há uma nítida tentativa de intimidação por parte desses segmentos mais reacionários e truculentos que ao executarem a vereadora Marielle e o motorista Anderson, parece que estão a gritar: “vamos atropelar toda e qualquer resistência”! Contudo, embora estejamos, lamentavelmente, inseridos num estado de exceção, uma das contradições do Estado de Direito, a resistência, organizada e coletiva, nunca vai cessar. Em outras palavras, resistiremos sempre e sempre!!

Manifestação na Cinelândia, no dia seguinte às execuções de Marielle e Anderson Manifestação na Cinelândia, no dia seguinte às execuções de Marielle e Anderson / Luiz Fernando Nabuco - Aduff