DA REDAÇÃO DA ADUFF
Tempos sombrios exigem respostas coletivas corajosas e afirmativas, defendeu o docente e escritor Luiz Fernando Braga, ao lançar seu segundo romance – “Heleno de Troy”. “Vivemos na berlinda da história, isso significa que temos que lutar para não cair”, disse, ao lançar a obra no evento realizado na sede da Aduff-SSind, na noite de 15 de setembro, uma sexta-feira.
Assim como a sua primeira incursão no gênero (“Romance Hipocondríaco”), “Heleno de Troy” também aborda o universo homoafetivo e questões ligadas à opressão contra a comunidade LGBT. Desta vez, segundo o autor, com viés menos autobiográfico e inserido em um universo historicamente hostil para quem não se enquadra no modelo hetero: o futebol e as torcidas, paixão que o mineiro Luiz Fernando diz ter sido reprimida na infância e adolescência e só se manifestado anos mais tarde, com seu amor pelo Galo, como carinhosamente é tratado o Atlético em Minas Gerais.
‘Tempos perigosos’
“Nós vivemos tempos perigosos, tempos de censura, vivemos tempos que ameaçam a nossa existência, seja você hetero, seja você homo, seja você o quer for”, disse, para um público formado por leitores e amigos, boa parte colegas do Coluni, o colégio universitário da UFF.
O breve discurso teve como alvo geral as reações conservadoras que atacam liberdades democráticas, de comportamento e direitos sociais. Mas também mirou algo específico, o recente cancelamento pelo banco Santander da exposição “Queermuseu – cartografias da diferença na arte da brasileira”, em Porto Alegre, após críticas e ataques protagonizados pelo grupo MBL (Movimento Brasil Livre), aliado do movimento Escola Sem Partido, que também atacam o direito à diversidade sexual e, nas escolas, tentam cercear a liberdade de pensamento e a autonomia pedagógica.
A exposição, que reunia nomes conhecidos mundialmente como Alfredo Volpi e Cândido Portinari, abordava a diversidade sexual e temáticas LGBT. “A arte neste pais, a manifestação artística neste país tem sido ameaçada e atacada constantemente”, disse, ao mencionar o que ocorrera na capital gaúcha.
‘Pioneiras’
Neste contexto, o autor fez uma homenagem à Editora Metanoia, responsável pela publicação da obra. “Tenho o privilégio de realizar com a Léa e com a Malu, essas pioneiras, essas batalhadoras, de um universo editorial elitizado, que prioriza o paradidático, o livro didático, o livro técnico, ou outras publicações, mas que ainda marginaliza o discurso das minorias. Elas são batalhadoras, elas lutam pela existência desse projeto”, disse.
Por fim, Luís Fernando fez uma exaltação à diferença. “Que as nossas diferenças sejam o resultado de práticas coincidentes, pela inserção do outro, não pela discriminação. Falar de sexualidade é falar de ser-humano. Omitir a sexualidade é tornar-se pedra. E tornar-se pedra é ir para o túmulo, ir para o túmulo da história é o que a gente não quer”, disse. “A gente quer construir a história diariamente. Não permitamos que o cerceamento à liberdade de expressão, à manifestação do pensamento, à criatividade, à arte, sejam objeto de uma ditadura e de uma perseguição à classe artística", concluiu.
DA REDAÇÃO DA ADUFF
Por Hélcio Lourenço Filho