Ago
24
2017

Debate da UFF em Rio das Ostras destaca papel da Revolução Russa nas conquistas sociais de todo o mundo

Pesquisadores enfatizam a importância dos acontecimentos de 1917 e destacam atualidade do tema 

foto: Luiz Fernando Nabuco

“Quem já fez uma revolução sabendo de antemão como levá-la até o fim? Onde se adquire tal conhecimento? Ele não pode ser encontrado em livros. Não existem tais livros. Nossas decisões podem apenas nascer da  experiência das massas”. A frase de Vladimir Lênin, um dos artífices da Revolução Russa, constou da exposição feita pelo historiador Luciano Barboza, coordenador geral do SEPE Rio das Ostras/Casimiro de Abreu, durante atividade realizada na UFF para discutir o legado dos acontecimentos de 1917.

Essa foi uma das atividades do primeiro seminário de formação do Sepe - Sindicato dos Profissionais de Educação, que contou com o apoio da Aduff e do movimento estudantil, com o objetivo de celebrar o centenário da revolução. Houve a projeção do filme ‘Olga’, de Jayme Monjardim, seguida de debate entre docentes e participantes. 

Em seguida, o hall do prédio da UFF em Rio das Ostras ficou pequeno para abrigar a comunidade que, atenta, assistiu as considerações dos palestrantes. Além do já citado Luciano, Wanderson Melo, professor da UFF naquela unidade fora de sede e ex-diretor da Aduff-SSind, houve a ilustre presença de Anita Leocádia Prestes, pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. 

Incialmente, Luciano Barboza enfatizou o papel dos sovietes (conselhos populares) no processo revolucionário de 1917 e buscou problematizar, de forma teórica, os acontecimentos que abalaram o mundo no início do século 20. Tomou como base o pensamento de Leon Trótski, intelectual marxista e revolucionário bolchevique, para problematizar o tema, destacando sua atualidade frente a conjuntura que exige que os trabalhadores se organizem e resistam à retira de direitos.

Em seguida, o docente Wanderson Melo ressaltou que abordar o assunto nesse momento é extremamente significativo. “Muito bom que tenhamos uma atividade de formação na UFF em Rio das Ostras no momento em que querem fazer da instituição um ‘inferno’ tal qual o sentido do termo usado por Dante Alighieri em “A Divina Comédia” – “Abandonai toda a esperança vós que entrai”, disse em explicita referencia a política de contingenciamento de verbas do governo federal que tem levado à asfixia das instituições públicas de ensino. 

Para ele, nesse momento, há uma onda conservadora de ataque aos direitos sociais, exigindo que ocorra recomposição das esquerdas. “O sentido de se discutir a Revolução Russa se faz na perspectiva de buscar a intervenção dos trabalhadores na história, as propostas alternativas à crise do capital e as suas revoluções”, avalia Wanderson. 

Ele também fez exposição teórica e de forma bastante didática reafirmou os princípios que garantem que os eventos de 1917 possam ser tomados pela lógica revolucionária e não como um golpe. Destacou ainda o protagonismo das mulheres nesse processo que levou os trabalhadores ao poder. 

Revolução Russa é tema atual, diz Anita Prestes

A professora e pesquisadora da UFRJ citou a atualidade do tema, destacando que, até mesmo para um dos maiores historiadores do século 20, como o inglês Eric Hosbbawm, a Revolução Russa é um acontecimento excepcional, com efeitos diretos e indiretos em toda a sociedade. 

“É um caminho para a humanidade libertar-se da barbárie em meio à sociedade capitalista que vivemos hoje”, afirmou Anita. “É um episódio que pode ser dividido em dois momentos, como o movimento de fevereiro – que levou à queda da monarquia e a proclamação da república burguesa – e ainda o de outubro, que é o que pretendo enfatizar”, explicou. “Essa foi efetivamente a revolução socialista; vamos falar nela”, indicou a docente, que, assim como os outros palestrantes, abordou o assunto sob o viés marxista. 

Anita lembrou que a primeira tentativa de revolução proletária foi se deu em 1871, na França, com a Comuna de Paris. Entretanto, o primeiro governo operário da história não conseguiu sobreviver por muito tempo, tendo sido duramente massacrado em seu intento de por fim a exploração do homem pelo homem. 

Ela apontou que somente em outubro de 1917 que uma sociedade mais justa e igualitária começa a ser forjada, com transformações sociais profundas, a partir da manutenção do poder pelos trabalhadores bolcheviques.  A experiência soviética repercutiu em todo o mundo – inclusive no Brasil, apesar dos quatro séculos de escravidão e do domínio das oligarquias agrárias à época.

Anita destacou a luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, muitos deles inspirados nos acontecimentos de 1917, a exemplo da greve em São Paulo, naquele mesmo ano. 

O movimento iniciado em uma tecelagem, no bairro da Mooca, esteve influenciado pelos anarquistas, quando os trabalhadores paralisaram as atividades por mais de 40 dias, enfrentando forte repressão, em busca de vida mais digna. 

“As informações que chegavam sobre a Revolução Russa no Brasil eram muitas vezes extremamente confusas; muitos anarquistas pensavam que as transformações que ocorriam por lá estavam se dando por causa do movimento anarquista; não tinham informação de havia sido feita sob a direção de Lenin,  pelos bolcheviques”, explicou sinalizando que entre os anarquistas, no Brasil, havia oposições divergentes sobre o governo do proletariado que se consolidava na Europa.  

DA REDAÇÃO DA ADUFF | Por Aline Pereira, enviada a Rio das Ostras
Foto: Luiz Fernando Nabuco/ Aduff-SSind.