É uma contradição cassar o título de Jarbas Passarinho e, logo depois, conceder igual honraria a Nelson Jobim. Foi o que afirmou a direção da Aduff-SSind durante a reunião do Conselho Universitário da UFF em março.
No mesmo dia em que o CUV cassou o título honoris causa do coronel e ministro da Educação no período mais sangrento e repressivo da ditadura empresarial-militar, estava em pauta a condecoração a Jobim, ex-ministro de Estado e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.
Sem quórum para isso, a matéria não chegou a ser apreciada na sessão do dia 12 de março do Conselho Universitário. Retornou à pauta no dia 2 de abril, quando outra vez não houve quórum, e poderá voltar em maio.
‘Posições contrárias à luta pela verdade e justiça’
Representante da diretoria da Aduff na reunião, a professora Joana D'Arc Fernandes Ferraz explicou por que a entidade é contrária à homenagem. “Assim como nós defendemos a retirada do título de Jarbas Passarinho, nós igualmente discordamos que se dê esse título a Nelson Jobim. Primeiro, por sua trajetória contrária, refratária à luta dos movimentos sociais, à luta em defesa da memória da Ditadura na perspectiva dos que dela sofreram”, disse durante o CUV. Falava da sede da Aduff, de onde alguns conselheiros e representantes da seção sindical, do Sintuff e do DCE participavam, presencialmente, da reunião virtual do Conselho Universitário.
A cassação do título de Jarbas Passarinho foi publicada no dia 19 de março de 2025. O pedido partiu de solicitação da Aduff-SSind e do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, sendo encaminhado ao CUV pelo Instituto de Ciências Humanas e Filosofia e pelo Instituto de Artes e Comunicação Social Social. O movimento pela cassação envolveu ainda o Sintuff e o DCE-Fernando Santa Cruz.
Sobre Nelson Jobim, a diretora da Aduff mencionou ainda que ele foi recorrentemente contrário à revisão da Lei da Anistia e se opôs à criação da Comissão Nacional da Verdade. “A Lei da Anistia foi votada num momento provisório, anistiando igualmente os militares. Isso dentro de um pressuposto que está nela que é da conexidade interpretada pelo STF e que é defendida por Nelson Jobim”, observou Joana. “São pautas muito sérias em relação à sua trajetória de vida que são contrárias à luta dos oprimidos, à luta dos que ainda estão aqui”, afirmou.
Da Redação da Aduff
Por Hélcio Lourenço Filho
Atualizada em 4/4/2025