Comemora-se nesta quarta-feira, 29 de janeiro, o Dia Nacional da Visibilidade Trans. A data que surgiu no ano passado remota o lançamento oficial da campanha “Travesti e Respeito”, promovida pelo Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, em parceria com um grupo de ativistas trans, no Congresso Nacional.
Incorporado ao calendário de lutas do ANDES-SN, o 29 de janeiro tornou-se um marco importante para reafirmar a mobilização da comunidade trans por reconhecimento de identidade gênero, orientação sexual e direitos básicos, como acesso à educação, às políticas de saúde pública e oportunidades no mercado de trabalho.
Do 43° Congresso do Andes-SN, a presidenta da Aduff-SSind, Maria Cecília de Castro reforça o comprometimento do Sindicato Nacional e de sua seção sindical na UFF com a luta por direitos de pessoas trans e travestis. Ela destaca a importância da implementação das cotas trans na UFF, aprovadas no ano passado, e a relevância desse momento histórico, já que a partir deste ano, a Universidade começará a receber as primeiras pessoas trans beneficiadas pela reserva de vagas.
“A gente tem o desafio de acolher essas pessoas e de seguir lutando por ações e políticas de assistência e permanência, que de fato garantam a continuidade dos estudos e da vida acadêmica de pessoas trans. Ainda são poucos, mas a presença de professoras e professores trans nas universidades é uma conquista que se ampliará com a aplicação das cotas e que já reverbera na atuação do Andes-SN, com docentes trans que ocupam os espaços do Sindicato Nacional, como o Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Étnico-racial, Gênero, Diversidade Sexual (GTPCEGDS) e o próprio 43° Congresso do Andes-SN, para dizer da importância dessa ocupação e dessas pautas. Temos uma série de textos de resolução neste Congresso que evidenciam os desafios que a gente tem como universidade, mas também como sindicato, de acolhimento e de garantia de direitos para essa população”, destaca.
De acordo com dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), menos de 0,3% da população está no ensino superior. O ANDES-SN defende que as cotas para pessoas trans no ensino superior e nos concursos públicos são importantes políticas de reparação histórica.
“Nunca mais um Brasil sem nós!”
No último domingo (26), como parte das atividades de luta do Mês de Visibilidade Trans, também foi realizada em Brasília (DF) a segunda edição da Marcha Trans, com tema 'Vida, Direitos e Futuro para a População Trans'. Segundo a organização do evento, cerca de 4 mil pessoas participaram da manifestação, que se concentrou em frente ao Congresso Nacional e seguiu pela Esplanada dos Ministérios, até o Museu Nacional da República.
Ariela Nascimento, que é integrante da Rede Trans UFF, coletivo de estudantes que foi protagonista da luta vitoriosa pela implementação das cotas trans, na Universidade, participou do ato. Para ela, o mês da visibilidade trans demarca a luta por resistência e dá um recado para a sociedade brasileira: não há mais como pensar em um projeto de país que não caiba os corpos transvestigêneres!
“A Rede Trans UFF esteve presente na semana da visibilidade trans em Brasília para mostrar que há um movimento transvestigeneres politicamente organizado, defendendo a democracia brasileira. Tive a honra de representar a minha cidade, Niterói, e meu coletivo, Rede Trans UFF, para construir ao lado de Érika Hilton, Benny Briolly, da Antra e de diversas outras figuras e entidades, uma agenda programática que possa dar linha política para a nossa atuação nos territórios, construindo uma frente ampla de juventude trans organizada, para combater a transfobia estrutural da sociedade e mobilizar em torno da garantia de direitos”, diz a cientista social e professora, recém-formada pela UFF.
Ariela lamenta que o Brasil siga sendo, pelo 16º ano consecutivo, o país que mais assassina pessoas trans e travestis no mundo, “com grande índices de violação de direitos que interferem diretamente no exercício da nossa cidadania”, reforça.
De acordo com os dados da última edição do dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgado no dia 27 de janeiro, em 2024, 122 pessoas trans e travestis foram assassinadas no Brasil. Embora os números representem uma queda de 16% em comparação a 2023, quando 145 mortes foram registradas, o cenário continua crítico. Dentre as vítimas de 2024, duas eram figuras políticas: uma suplente de vereadora e outra já havia se candidatado a um cargo eletivo.
Para Ariela, um jovem liderança política de Niterói e do estado do Rio de Janeiro, a meta é “deixar de ser o país que mais mata pessoas trans para sermos o país que mais garanta o exercício da vida. Enquanto uma travesti jovem, oriunda das favelas e periferias de Niterói, desejo que a juventude trans não deixe de sonhar. Que possa sonhar com a possibilidade de um mundo novo, com uma educação não excludente e com a oportunidade de estar em um mercado de trabalho formal preparado para lidar com as diversidades. Mais que visibilidade, o nosso povo precisa de políticas que impactam as nossas existências trans. O mundo já sabe da nossa existência, o que falta é tirar mulheres e homens trans, travesti e não binários dos lugares de marginalização”, finaliza.
Na foto acima, Ariela Nascimento com a vereadora de Niterói, Benny Briolly (PSOL), na 2° Marcha Trans, em Brasília | crédito: Dayanne Louise
Da Redação da Aduff | por Lara Abib, com informações do ANDES-SN