Da Redação da Aduff
Por Lara Abib
No Paraná, as ocupações começaram no dia 3 de outubro. De lá para cá, são 850 escolas da rede estadual de ensino e 14 universidades, de acordo com o movimento ‘Ocupa Paraná’.
Os ventos da mobilização secundarista sopraram resistência para o resto do país. Levantamentos apontam que já são mais de mil escolas geridas por estudantes em todo o Brasil.
No Rio, estado em que o movimento de ocupações teve seu auge em maio deste ano, quatro campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) participam da nova onda protestos: Duque de Caxias, Realengo, Nilópolis e São Gonçalo. Os estudantes de Realengo iniciaram as ocupações no Colégio Pedro II, que já avançam para outras unidades.
Os que não ocupam escolas reforçam as mobilizações de rua e participam dos atos contra a medida provisória do Ensino Médio – que fragmenta e empobrece a formação dos estudantes –, contra o projeto ‘Escola Sem Partido’, e contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que congela o orçamento dos serviços públicos por 20 anos.
A Primavera Secundarista apresenta ao país uma juventude que se levanta na defesa de seu futuro, o que pode vir a ser decisivo na luta contra a retirada de direitos e contrarreformas propostas pelo Congresso e pelo governo de Michel Temer.
“Estamos nas escolas e nas ruas para mostrar ao governo que a gente está insatisfeito, que a gente tem voz e que temos o direito de estudar numa escola digna. A gente não é obrigado a ficar comendo sentado no chão, sem ter uma estrutura mínima para estudar, enquanto os filhos dos políticos frequentam colégios caríssimos. Eles têm motoristas para levá-los a todos os lugares e a gente sem estrutura mínima. Nos atos, reunimos vários colégios, vários campus e sempre ficamos juntos para dar mais visibilidade ao movimento. Queremos mostrar para a população que a PEC 241 vai afetar todo mundo, não só os estudantes. Não podemos ficar calados”, disse o estudante Denis Pietrobom, do curso técnico de Química do IFRJ Maracanã, em ato na Cinelândia realizado no dia 24 de outubro.
O jovem de 18 anos conta que o IFRJ campus Maracanã não possuiu refeitório nem mesa para os estudantes se alimentarem. “Os laboratórios estão em situação precária. A gente é uma escola tecnológica que usa reagentes vencidos há 10, 15 anos. O IFRJ vem sofrendo com falta de financiamento desde os últimos governos. A situação só tende a piorar [caso a PEC 241 seja aprovada]”, relata o estudante.
Sobre o projeto “Escola Sem Partido”, Dênis é enfático. “Eles não querem acabar com a ideologia na escola, querem impedir o pensamento crítico, querem que o jovem não pense, querem fazer a gente acreditar que está tudo bem. É assim que eles continuam sendo eleitos. A gente não precisa pensar com a cabeça do professor, a gente é capaz de criar nossas próprias ideias. A escola vai tomar partido em qualquer movimentação política sim, o jovem tem que ter sua voz”, finaliza.
* Máteria originalmente publicada na edição da segunda quinzena do Jornal da Aduff-SSind.
Foto: Luiz Fernando Nabuco - Alunos na passeata no Rio de 17 de outubro: não à PEC 241, à mordaça e à MP do ensino médio